Não sei por que, desde cedo sabia que a vida me reservava muito trabalho. Sonhava ser jornalista, ficava imaginando trabalhar em um grande jornal. Devorava a Folha e o Estado, lia os cronistas todos, observava seus estilos, queria viver de escrever. Sobre cultura, comportamento. Antes dos 18, prestei vestibular para Direito e Jornalismo. Passei nos dois e até hoje respiro aliviada por ter escolhido o segundo. Matei a sede de redação durante oito anos, já na era do computador.
Tímida, me armei de coragem e, com uma ponta de ousadia, entrei na redação do antigo Leia Livros, na rua General Jardim na maior cara de pau, pedi trabalho para Caio Fernando Abreu, que passou a primeira pauta da minha vida: escrever uma resenha sobre um livro de cinema de Inácio Araújo (O Cinema Industrial Americano). Fiz a matéria na pequena Olivetti Lettera 33. Peguei gosto pela coisa e por aí foi. Aprendi muito com meu primeiro editor, Carlinhos Brickmann, na Folha da Tarde (na época editada por Adilson Laranjeira), hoje Agora. Entrei na editoria de Polícia, convivendo com jornalistas que, naqueles tempos, eu achava bem esquisitos, um linguajar estranho. Quando estava decidida a desistir do emprego – era intragável escrever e traduzir os telex com notícias sangrentas de assassinatos, estupros etc -, Wladyr Nader me resgatou para o Show, o caderno de variedades. Escritor, homem culto, Nader era rigoroso com os textos e me deu dicas valiosas sobre música, teatro, literatura, cinema e, principalmente, sobre jornalismo. Depois, tive o privilégio de ser repórter do Edson Paes de Mello (na foto com os produtores da Mesa 2, Fernando Cardoso e Roberto Monteiro), quando ele editava o caderno de variedades do JT, redação fervilhante, com César Giobbi, Sergio Roveri e Edmar Pereira como repórteres especiais - além de Alberto Guzik como crítico de teatro. Era o máximo quando Edson pedia crítica de show, como o do BB King, nos anos 90, no antigo Palace.
No Estadão, fui frila fixo durante mais de ano. Ficava com o coração sobressaltado de ansiedade quando a Marta Góes, que eu já admirava, ligava no meu celular passando uma pauta. Na gestão do José Onofre, no mesmo jornal, trabalhei para Leila Reis no caderno 2, seção O Melhor de Tudo, e para Luis Antonio Giron, escrevendo sobre música – um luxo, eu entrevistava os artistas criticados por ele – do baterista Robertinho Silva a Lobão, passando por Gudin, Vânia Bastos e todos os bacanas da música brasileira.
Nesse tempo sempre rolou bastante trabalho, como frila ou repórter de uma equipe de jornal. Teve ainda Diário Popular, Shopping News, Revista Contigo.... Dez anos depois, agora em assessoria de imprensa, o trabalho não é menor, pelo contrário. Nesse fim de semana, para se ter uma idéia, passei no show do Yamandu Costa sexta à noite, no SESC Pompéia; fui à estréia de Irene Ravache, sábado, em A Reserva, de Marta Góes, no Teatro Cosipa Cultura, e ainda deu tempo para conferir duas exposições (A História dos Quadrinhos nos Brasil, no projeto HQ Férias do SESC Pompéia; e Toy Art, no Sesc Avenida Paulista). Semana que vem, entre outras, tem a estréia da nova peça do Grupo Tapa, dirigida por Eduardo Tolentino, no Teatro Imprensa, dia 11. E já vamos preparando Cordélia Brasil, de Antonio Bivar, que chega com a atriz Maria Padilha dia 25 de julho.
A variedade de assuntos fascina e o ritmo, às vezes, parece esmagar a alma de repórter. Besteira. Oxigeno as idéias no dia-a-dia movimentado. Quando a gente nasce com esse bichinho do jornalismo na veia, não em jeito. De um lado ou de outro, é um prazer, um modo de vida enxergar o mundo com essas lentes. E ainda prometo arrumar tempo (demorou!) para tocar um projeto importante, o do livro junto com o amigo Roberto Guastaferro.
(Fernanda Teixeira)