segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Duas peças exóticas

Em cartaz no Miniteatro da praça Roosevelt “Decifra-te Ou Me Devora” mistura vídeo e poesia. Claro que de teatro mantém a presença dos atores que declamam, ou melhor, dizem versos calmamente. O tema é lindíssimo: a paixão cega e incontrolável, dessas que não possibilita conhecer o outro porque a emoção é forte demais.

O roteiro é dos dois ótimos atores (Helô Cintra e João Paulo Lorenzon) e do diretor como sempre competente Elias Andreato. O cenário é também de Elias, os belos figurinos de Laura Andreato, e a iluminação eficiente de Marcelo Lazzaratto. É um mínimo teatro e uma peça curta, mas vale ver.

Já “AíPod” em cartaz no Nair Bello (Shopping Frei Caneca) mistura três telas de vídeo cada qual mostrando uma imagem diferente (as vezes repetidas em 2 das telas) num show maravilhoso assinado por André Hã e pelos protagonistas . Além dos vídeos há um quinteto ao vivo acompanhando os atores (Eduardo Berton e Simone Gutierrez) todos agradando muito, seja no canto ou na palavra. Mas é um verdadeiro show musical com algum papo e muito som e vídeos.

Além deles temos que citar os figurinos nota dez também da trio Andre, Simone e Eduardo assim como o cenário e a iluminação. São espetáculos que misturam várias artes destacando cada uma delas com eficiência e no caso de “AíPod” destacando muito a música mesmo considerando que é um musical. Seria um show com visual teatral completo e poucas palavras.

Vale a pena assistir as duas.

Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Recordar é Viver é inesquecível

Quem ler o programa da peça “Recordar é Viver” talvez até hesite em assistir, pois parece que o brilhante autor, Hélio Sussekind, classifica os personagens que protagonizam a história como muito problemáticos - Pai doente e mãe com síndrome do pânico –mas não é bem assim.
Qualquer pessoa da platéia vai rolar de rir e certamente verá um maravilhoso retrato de sua própria família. Sem psicoses ou surtos, mas, como diria Marcelo Médice, “cada um com seus pobrema”. A intimidade que se tem em qualquer clã que cresceu junto é pouco igualável fora deste âmbito e, mesmo que resulte num enorme afeto, este será tão acompanhado pela total falta de cerimônia, a ponto de que, quem vê de fora, julgar como muito pouco respeito mútuo.

Contribuem para esse resultado impecável, a direção totalmente coerente de Eduardo Tolentino, não só no que tange à leitura apresentada pelo elenco competentíssimo, mas também no que concerne ao espetáculo, propriamente dito. A iluminação de Paulo César Medeiros tem a eficiência de sempre. O mesmo ocorre com os cenários e figurinos de Lola Tolentino totalmente adequados e de extremo bom gosto.
Lembrando de tudo, a gente fica até curiosa de saber como seriam os bastidores entre mãe e filho (Lola e Eduardo) até chegarem ao acordo sobre o visual que se vê no palco...
Suely Franco (a mãe) está arrasando a ponto de nem o Sérgio Brito (o pai) lhe fazer concorrência. José Roberto Jardim (Henrique) surpreende com a precisão com que interpreta o filho tímido que na verdade é o protagonista. Seus irmãos Paula e João (Ana Jansen e Camilo Bevilacqua) também convencem nos papéis e conquistam o público, assim como Anna Cecília Junqueira, a delicada Bruna, namorada de Henrique.

Em síntese é uma montagem maravilhosa que você não pode perder.

Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp