terça-feira, 31 de maio de 2011

Cia Livre lança livro


A Cia Livre, dirigida por Cibele Forjaz, está lançando o livro Caderno Livre Noz – Raptada Pelo Raio. A publicação integra a coleção Caderno Livre - Noz, volume 2, tem 210 páginas e organização de Lúcia Romano e Pedro Cesarino, com textos dos atores da Cia Livre e de convidados. A edição da obra é um registro do processo de criação da peça Raptada pelo Raio. O grupo já trabalha no próximo espetáculo, Édipo & Anti-Édipo. O livro está sendo vendido a R$ 15,00 e pode ser adquirido pelo site www.cialivre.com.br ou pelo telefone11.3257-6652. A edição foi possível por meio da Lei de Fomento ao Teatro.

Conflito de civilizações tem montagem naturalista e eficaz



Por LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O conflito de civilizações transposto em drama. "Casa/Cabul", do autor norte-americano Tony Kushner, propõe uma reflexão profunda sobre as tensões culturais e políticas entre o Oriente muçulmano e as potências ocidentais. Escrita um pouco antes do ataque às torres gêmeas de Nova York em 11 de setembro de 2001, e estreada logo depois, a peça se mantém atualíssima na montagem brasileira, com tradução e direção de Zé Henrique de Paula.


O diretor, um dos mais profícuos e talentosos de sua geração, desenvolveu a densa trama de Kushner com simplicidade e eficácia. A história da dona de casa inglesa que, pela leitura de antigos guias de viagem sobre o Afeganistão, acaba revolucionando sua vida e a de sua família mantém-se interessante ao longo das duas horas e meia de encenação.


Se os desempenhos dos intérpretes são irregulares, o espetáculo como um todo é bem-sucedido e tem momentos brilhantes. Particularmente no primeiro terço, a atriz Chris Couto realiza um trabalho primoroso. Como a referida dona de casa, oferece um longo monólogo, perfazendo um arco entre sua curiosidade por aspectos menores da realidade humana até seu arriscado mergulho no Islã.

FACETA TRÁGICA
Também se destaca Amazyles de Almeida como uma bibliotecária de Cabul, espremida entre o fundamentalismo dos talibãs e o rolo compressor da máquina de guerra norte-americana. Ela colabora decisivamente para enfatizar a faceta trágica do texto, bem como valoriza os aspectos amenos. Os atores na pele de personagens caracterizados como afegãos estão todos bem, principalmente o encenador Eric Lenate, surpreendendo como um poeta.


Já dois dos protagonistas, Sérgio Mastropasqua e Kelly Klein, como o marido e a filha da protagonista, têm composições pouco verossimilhantes e comprometem o registro naturalista. São deficiências menores que não comprometem o conjunto. De fato, diante de um texto de grande qualidade dramática, e de um tema crucialmente oportuno, o encenador soube extrair um resultado notável.


No teatro de ideias de Kushner, em que o debate de teses contraditórias subjaz às ações narradas, "Casa/Cabul" é uma contundente exploração do confronto Oriente/Ocidente. Como tal, reafirma a vocação da poesia dramática em tratar os temas centrais de nossa era.

CASA/CABUL

QUANDO sex. e sáb, às 21h, e dom., às 18h; até 12/6
ONDE Sesc Santana (av. Luiz Dumont Villares, 579; tel. 2971-8700)
QUANTO de R$ 5 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom

Foto: Lenise Pinheiro
Os atores Eric Lenate e Kelly Klein em cena de ‘Casa/Cabul’, texto de Tony Kushner com direção de Zé Henrique de Paula

terça-feira, 17 de maio de 2011

Édipo pra lá de surpreendente


Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre-Docente pela UNICAMP

Édipo é uma tragédia especial, na medida em que é a primeira obra de arte de suspense, escrita por um dos maiores gênios da antiguidade grega, Sófocles, baseada em mitos de sua época. “Édipo Rei” é o único caso bem-sucedido que se conhece, em que o investigador e o criminoso são a mesma pessoa.

Já houve autores que tentaram a mesma façanha, como é o caso de “A Criança Enterrada”, de Sam Shepard, que recebeu o prêmio Pulitzer. Pois Elias Andreatto ousou fazer uma adaptação do texto grego, reduzindo-o a setenta minutos nos quais consegue envolver o público nos conflitos do personagem original. Transformou a história num texto de cunho realista, onde o coro grego é substituído por sanfonas, com resultado ótimo. Só vendo pra crer.

Quem dirige a montagem é o próprio Elias, que também atua ao lado de Tânia Bondesan, Clovis Torres, Nilton Bicudo, Daniel Maia, Romis Ferreira e Eucir de Souza (que interpreta com brilho o protagonista), auxiliado pelo elenco competente e mais experiente do que ele.

A meu ver é uma encenação imperdível por seus acertos fantásticos, inclusive em termos de cenário (também de Elias), figurinos (Laura Uzak Andreato) e ilumicação impecável de Wagner Freire. Somados à adaptação e elenco já mencionados. Só está em cartaz às terças às 21hs no Teatro Eva Herz no Conjunto Nacional. O teatro não é grande de modo que é mais garantido comprar pela internet.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Raridade

Abaixo, carta escrita em português por uma das maiores poetas americanas do século 20, Elisabeth Bishop. Foi endereçada para sua amiga Linda Nemer, atual proprietária da casa onde Elisabeth Bishop viveu em Ouro Preto.

Ensaio e Coletiva no Eva Herz


José Armando Vanucci, da TV Jovem Pan, entrevistou a atriz Regina Braga depois do ensaio aberto, coberto ainda pelo fotógrafo João Caldas e pela equipe da Arteplural, que registrou a peça em vídeo. Antes, na coletiva de imprensa na sala de artes da Livraria Cultura, a dramaturga Marta Góes, o diretor José Possi Neto e a atriz conversaram com os jornalistas.








Irmaõs Nemer - Literatura, poesia e cotidiano




Noite de quarta-feira friorenta, no charmoso restaurante Feijoada da Bia, a atriz Regina Braga e a dramaturga Marta Góes foram as anfitriãs de um encantador encontro em homenagem a uma das mais importante escritoras americanas do século 20, Elizabeth Bishop, cujo centenário de nascimento é lembrado este ano com a volta em cartaz, dez anos depois, do espetáculo Um Porto para Elizabeth Bishop.

Nas duas horas que passaram voando, o casal de irmãos Linda e José Alberto Nemer (ela professora, ele artista plástico) contaram histórias e passagens memoráveis da vida da amiga com quem conviveram intimamente, em Ouro Preto, Minas Gerais, onde todos tinham casas.

Quitutes elaborados por Bia (irmã de Regina Braga) esquentavam os convidados, entre eles, o diretor da peça José Possi Neto, o médico Dráuzio Varella, o dono da Livraria Cultura Pedro Herz, a editora Mary Lou Paris, o neto de Carlos Lacerda Rodrigo Lacerda, o ex-presidente da Petrobrás Phlilippe Reichstul, os jornalistas Humberto Werneck, Roberto Pompeu de Toledo, José Nêumanne Pinto, Antonio Prata, Maria Prata e Paulo Werneck.
Entre um e outro caso, goles de vinho tinto e cerveja, a noite - em homenagem à poeta que adorava o Brasil – foi regada a caldinho de feijão e bolinho de arroz, antes do delicioso caldo de fungui e do doce de laranja. Cabelos lisos, cor de prata, aos 80 anos, a doce Linda Nemer abriu a reunião lendo uma das muitas cartas escritas por Bishop para ela. “Bishop sempre me cobrava uma resposta, nem que fosse uma bula de remédio.” Para quem dizia não dominar o português, a carta – muito bem escrita - era uma crônica poética sobre uma tarde em Ouro Preto.

“Metódica na cozinha, a escritora gostava de receber amigos para jantares preparados por ela mesma. Segundo Alberto Nemer, “não começa uma receita sem uma balança e um reloginho ao lado”. Logo que se conheceram, afinidade imediata, Alberto Nemer foi convidado para um café na casa de escritora. Quando ela voltou da cozinha, ele estava com os dois gatos da autora instalados confortavelmente em seu colo. “Esses gatos gostam de experimentar o colo de algumas visitas.” A partir daí, Nemer já sentiu que tudo em Bishop era poesia.

Entre as frases memoráveis colecionadas pelos irmãos Nemer, Alberto contou que, depois de hospedar por três dias um escritor americano, ele a encontrou debruçada chorando sobre a mesa. Há tempos sem contato com sua língua, ela disse : “Estou apenas chorando em inglês”.






(Fernanda Teixeira)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pequenos pensamentos




Histórias engraçadas lavaram a alma agora à noite. Leveza do ser. Quase a felicidade. Nestes momentos gosto mais das peças espetaculares de Ariano Suassuna que dos textos trágicos de Nelson Rodrigues. É quando prefiro me sentir diferente a correr atrás do igual - como há tempos. O particular tem um gosto bem mais interessante que o universal. Este é o meu segredo hoje. Boa noite, que os anjos da guarda estejam por perto dos amigos que estão sofrendo.


Foi uma alegria quando Nice trouxe o Dudu para me visitar hoje à tarde. Eu não esperava, sinto saudades quando ele dorme na casa da minha mãe. Antes deles chegarem, comi as unhas, tomei café, li jornais velhos, fiquei deitada, tive aula de inglês no quarto. São muito proveitosos esses encontros, o inglês me deixa mais descontraída e espontânea. A professora é grande amiga. A tontura durou horas, só melhorou à noite.


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Madrugada de cão. Ninguém dormiu em casa hoje. Perdi o número de vezes que levantei passando mal. Tropecei no escuro, bati a cabeça na parede, escorrei no banheiro. Quanto mais tento ser silenciosa, a maçaneta da porta range, a cama faz barulho, a mão resvala no criado-mudo, o despertador cai no chão.


***


Tenho uma amiga espirituosa, de humor refinado e aguçado, o que faz dos momentos que estamos juntas ainda mais deliciosos. Na saída para a estreia, as duas arrumadas, perfumdas, não resisti ao comentário do pretinho básico que vestíamos. "Pretinho trágico", emendou, rindo. E não era o prenúncio de uma noite bem difícil no teatro!

E o melhor é que as tiradas são espontâneas, naturais, de um ser otimista por natureza. "Eu sou homossexual não praticante e você é hétero não praticante", provocou ela outro dia, com fina ironia, debochando da amiga e dela mesma, ambas sem sem namorado há tempos. (Fernanda Teixeira)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Uma segunda pesada

A morte do ator José Renato nos abalou no começo da semana. O dia correu pesado sobre os ombros, um cansaço esquisito abateu todos. Depois, no velório, os amigos lembrarem passagens felizes dos últimos tempos do ator por aqui.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sobre a morte de José Renato


De Antonio Petrin

Estou de luto. Emocionado e triste pela falta que o querido Zé Renato fará. Assisti há semanas sua performance como ator em 12 homens...e pude testemunhar o que disse o Oswaldinho Mendes: sua grande alegria de estar em cena, sendo aplaudido e admirado pelo seu talento. Quem conviveu com ele sabe como era generoso com seus pares, ético no seu trabalho. O Zé é da geração que fez grande o nosso teatro. Todos que convivemos com essa arte devemos muito a ele. Obrigado ZÉ RENATO.
Antonio Petrin
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De Aderbal Freire-Filho

Fernanda,
uma noticia muito, muito triste. Zé Renato é um mestre, de arte e ética. Todos aprendemos muito com ele. Soube que ele passou há poucos dias no Teatro Poeira pra falar comigo. Estava esperando sua volta. Acabo de mandar para a SBAT, de onde o Zé foi presidente, uma nota para ser transmitida a todos os sócios e autores, do Brasil e do exterior.
Um beijo.

Aderbal Freire-Filho

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Nota de Pesar do Ministério da Cultura


A Representação Regional do Ministério da Cultura no Estado de São Paulo divulga com pesar o falecimento do ator e diretor Renato José Pécora, Zé Renato, (1926-2011). Falecido aos 85 anos, vítima de um infarto que o acometeu na madrugada desta segunda-feira, 2 de maio, Pécora foi fundador e idealizador do Teatro de Arena, no ano de 1953.
Em 1958, dirige a peça Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, que contou no elenco com o próprio Gianfrancesco Guarnieri, Eugênio Kusnet, Milton Gonçalves, Francisco de Assis, entre outros, revelando a atriz Lélia Abramo.
Estão entre suas principais direções, ainda no Arena, Revolução na América do Sul, de Augusto Boal, em 1960; e Os Fuzis da Sra. Carrar, de Bertold Brecht, em 1962.
Após carreira de sucesso como diretor, Zé Renato estava vivendo um momento de intensa atividade no teatro, encenando a peça 12 Homens e uma Sentença, dirigida por Eduardo Tolentino.

Zé Renato Pécora foi diretor, dramaturgo, criador de expressivo valor artístico e humano. Protagonizou momentos históricos no teatro a partir da inovação estética com a experimentação do formato arena e da introdução do tema da classe operária no palco.

O velório ocorrerá nesta segunda-feira, 2 de maio, no Teatro de Arena Eugênio Kusnet (Rua Doutor Teodoro Baima, 94), a partir da 17h. Amanhã, 3 de maio, o féretro sairá às 10h para o Cemitério Gethsêmani do Morumbi (Praça da Ressurreição, 1).

Do representante Regional do Ministério da Cultura no Estado de São Paulo
Tadeu Di Pietro

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Carta da SBAT

A SBAT, Sociedade Brasileira de Autores, perdeu hoje, dia 02 de maio de 2011, seu querido ex-presidente JOSÉ RENATO PÉCORA.

Artista que dedicou toda sua vida ao teatro, foi o idealizador e fundador do histórico Teatro de Arena de São Paulo, marco do moderno teatro brasileiro. Também organizador do Seminário de Dramaturgia, de Augusto Boal, que formou uma das mais brilhantes gerações de autores teatrais brasileiros, JOSÉ RENATO foi um mestre do teatro no Brasil.

Com uma atividade permanente há mais de 60 anos, sobretudo como diretor, foi parceiro de autores como Oduvaldo Vianna Filho, que confiou a ele a criação original de Rasga Coração, João Bethencourt, Paulo Pontes, tendo sido também um dos primeiros diretores a encenar Bertolt Brecht no Brasil.

Aos 85 anos de idade, JOSÉ RENATO continuava em plena atividade, dirigindo, ensinando, se renovando sempre. Nesse domingo, dia 1º de maio, estava em cena em São Paulo, na peça 12 homens e uma sentença, como ator.

Depois de 56 anos sem atuar, terminou sua vida no palco, o seu mundo. A morte, depois da última sessão da semana, o surpreendeu a caminho de sua casa no Rio.

As homenagens dos autores brasileiros a JOSÉ RENATO, ex-presidente da nossa SBAT e um artista maior do Brasil.

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Do Site Micelânea
Fernanda e todos os amigos da Arteplural,

Nossas sinceras condolências a todos os companheiros de palco e à família. É uma perda inigualável, sem dúvida.

Márcia Novaes

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Do Guia Boca a Boca

Triste, muito triste!
Perdemos de fato uma das colunas de nosso teatro brasileiro!
Mais um querido nosso que 'travessou'...