sexta-feira, 23 de maio de 2008

Banquete antropofágico

O diretor José Celso Martinez Correa e sua trupe do Teatro Oficina comemoraram ontem, 22 de maio, os 80 anos da publicação do Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade. Aproveitaram para lembrar os 50 anos do Oficina, no evento batizado de Banquete Antropofágico, no Sesc da Avenida Paulista. A rua sem trânsito e as calçadas com pouca gente, por conta do feriado, propiciaram que o líder do Oficina desfilasse com seu grupo pelo meio da avenida (com dois atores já nus), caminhando pela calçada até entrar no prédio e subir ao terceiro andar, pelas escadas, com o público atrás, em fila indiana. Na sala do espetáculo, como prometido, índios, prostitutas, mães de santo e outros convidados, representantes da sociedade, provaram rãs à vinagrete - mesma iguaria servida pelos Modernistas naquela época. A platéia de iniciados observava. A celebração se estendeu pela tarde toda e não faltaram bundas, peitos e pintos à mostra, bem ao gosto do diretor.




(Fernanda Teixeira)


quinta-feira, 22 de maio de 2008

Reencontro com Marina Lima

Fui ver o show da Marina Lima no Teatro do Sesc Pompéia, no começo de maio. Saí surpresa com a novidade, o frescor do espetáculo de uma das cantoras mais bacanas que temos. O ritmo do trabalho na Arteplural engole meu tempo, e o vício jornalístico de escrever sempre com um gancho quase mata essa resenha. Sem desculpas, se precisava de nova oportunidade, já tenho: haverá outra temporada de Marina na cidade, desta vez sábado, 24 de maio, no antigo Tom Brasil.

Nos tempos de redação, anos 80 e 90, era pautada para ir aos shows de lançamentos de discos, às entrevistas, escrevia matérias para Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Estadão, como repórter, respectivamente, de Wladyr Nader, Edson Paes de Melo e Marta Goes. Por conta da profissão, acompanhei de perto a carreira da Marina, de Nosso Estranho Amor a Fullgás e Acontecimentos, passando por Grávida, Difícil, Criança e À Francesa. E todas essas músicas estavam no show! Depois, deixei escapar de vista sua trajetória. Tanto que não tenho os CDs mais recentes.

Dizem que ela perdeu a voz, calada por uma grande depressão, causada não se sabe por quê. Pouco importa, segui gostando de Marina à distância. Não cogitei desembolsar R$ 500 para ver o show do Baretto - também confesso ter um certo preconceito com casas de alto luxo. Assim, o show do Sesc Pompéia marcou meu reencontro com Marina. Se sua voz hoje está menor, não sei, pode ter diminuído à medida que aumentou sua empatia e carisma com o público. "Quero cantar e encantar." Simpática, espontânea e comunicativa, brincou com a platéia e disse que voltou fascinada da Argentina, antes de cantar o tango funkeado, "como diria Roberto Carlos". Comentou da intensidade latina, caiu nos braços do guitarrista Fernando Vidal, contou que os pais nasceram no Piauí, falou do irmão Antônio Cícero.

À vontade como nunca, próxima e calorosa com a platéia, Marina está diferente, ganhou postura de palco. E pela reação do público que lotou o Pompéia segue venerada por seus fãs. Afinal, é isso que se espera de uma grande artista: alem de talento, comunicação e empatia. A Marina de hoje está mais soltinha e brincalhona ("vocês já foram na Lôca?", perguntou, referindo-se à clássica balada trash paulistana) e com a mesma voz rouca e sujinha que sempre lhe garantiu uma dose extra de charme. A cantora sexy e moderna, que continua flertando com o rock e está exuberante aos 50 anos, deu a volta por cima para encarar de frente o que escolheu fazer na vida. Hoje mostra-se uma grande artista. A música brasileira merece ter uma representante deste naipe.


(Fernanda Teixeira)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Os 20 do Metrópolis e os anos 80

Este mês o Programa Metrópolis, da TV Cultura, completa 20 anos no ar. Duas décadas de resistência, de opção pela qualidade em detrimento dos chicletes das paradas de sucesso, das imposições da mídia. A festa aconteceu no Teatro Franco Zampari, com uma edição especial, transmitida ao vivo, sob o comando de Cunha Jr (há 18 nos lá), Paulo Vinícius e da nova apresentadora, a também atriz Domingas Person.

Mais que comentar os shows de Forgotten Boys, Cida Moreira, Fabiana Cozza, Mutantes (que Sergio Dias insiste em reviver, desculpe, mas sou das puristas), Melodia e Lenine, que embalaram a noite, quero falar dos bastidores. Lá, alguns amigos de longa data, outros colecionados pelo caminho, colaboravam para tudo dar certo: os produtores Lázaro de Oliveira e Marcos Maciel, os repórteres Manu e Paulo Castilho, entre outros técnicos que a gente conhece há tanto tempo, que chega a fazer parte do dia-a-dia. Parabéns, amigos, bravos guerreiros! Que o Metrópolis continue abrigando todo esse povo que vive e faz cultura.

E por falar em 20 anos, o que você estava fazendo nos anos 80? Se é da minha geração, deu muita risada com TV Pirata e o trio de Armação Ilimitada, jogou Atari (que lançou a febre dos videogames) e tomou muito Ice Club Soda no Frevinho. Também foi ao show do Queen no Morumbi, ao Rock in Rio 1, leu Porcos com Asas (de uma série superbacana da Brasiliense, Cantadas Literárias, que depois também lançou Tanto Faz, de Reinaldo Moraes; Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu e outros) e ouviu Emerson, Lake & Palmer. Começou a fazer análise, tentou tai-chi-chuan e outras práticas orientais e alternativas, que hoje trocou por aulas de boxe e musculação.

Freqüentou ou tinha amigos que iam ao Pirandello, Lights (do falecido Cláudio Mamberti, se não me engano), Madame Satã, Ritz (quando Caetano costumava aparecer), do Colorido, do Off do Celso Curi. Nessa época, a gente votava convicto no Lula e tinha ideologias. Sei lá, mil coisas .... pra lembrar e esquecer. O legal é que cada um pode fazer a sua listinha.

(Fernanda Teixeira)


terça-feira, 6 de maio de 2008

Cleyde Yáconis no Vitrine

Cleyde Yáconis é a entrevistada da semana no programa Vitrine da TV Cultura. Aos 84 anos e uma disposição invejável para o trabalho, a atriz fala sobre carreira, a paixão pelo teatro e sobre a peça O Caminho Para Meca em cartaz no Teatro Cosipa Cultura.
O Vitrine é exibido pela TV Cultura, terça-feira, 6 de maio, às 19h30.
(Adriana Balsanelli)

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Focas, Tide e novela

Domingo à noite, uma fila de carros congestionava a entrada de um restaurante chique, no Itaim. Luzes e câmeras de tv eram apontadas na direção de cada carro, cada motorista. Microfones intrusos, mal educados, batiam nas janelas. Amontoados, um punhado de cinegrafistas e repórteres de tv atiravam-se nas janelas dos veículos, à caça da celebridade do dia. Difícil era a tarefa do reconhecimento. O inconveniente repórter do Pânico, ou seria daquele novo programa do Marcelo Tas? Não sei, esses projetos de engraçadinhos sem a mínima graça e idiotas debochados se parecem em tudo. Quando chegou a minha vez de passar pela porta e entrar no estacionamento da festa, também não fui poupada. Um deles bateu no vidro do meu carro e soltou, olho no meu olho: “É a Débora Duarte?” Sem resposta, outro arriscou: “Não, parece a Andréa Beltrão”. Quando engatei a primeira, ouvi um terceiro soltar, convicto: Ah, é a Ângela Dip, claro.” E pimba, flash na minha cara, santa ignorância!

Chega a ser engraçado. O grau de despreparo dos caras é zero. E o pior ainda estava por vir. Dentro do salão do Leopoldo, um jornalista aflito perguntou ao outro: quem é esse tal de Alcides mesmo? Com certeza depois o incauto descobriu, pois estava na festa de lançamento da nova novela das 18 horas da Globo, Cirandra de Pedra, do próprio Alcides Nogueira, baseada em obra de Ligia Fagundes Telles. Bloquinhos em punho, hoje grande parte dos “focas” (codinome que se dá ao jornalista novato) é assim. Sai da redação despreparada, sem ao menos saber quem é o anfitrião da noite. Na era do mínimo esforço era só das um googada, para usar uma expressão adequada para o caso. Quando estava na Folha, fazíamos pesquisa no banco de dados antes de ir para a rua. Quando tínhamos tempo, com um dia de antecedência.

Em tempo: fui à festa como acompanhante do amigo Claudinho Fontana (que está no elenco da novela e deixou meu nome na entrada) para rever o Tide, (que é sempre uma delícia) e encontrar pessoas queridas como Walderez de Barros, Leopoldo Pacheco e Bel Gomes, Paulo Marra, Dib, Rosa Maria, Marcelo e Carlos (do Colunas & Notas). Pelo clip, exibido antes do mata-mata em busca dos famosos, a novela terá imagens lindíssimas e uma caprichada reconstituição de época, tudo embalado com capricho pelo texto sensível de Alcides Nogueira.



(Fernanda Teixeira)