quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Feliz aniversário, Cintia Abravanel!

Dá para perceber, no fim de ano os dias têm outra cor. Festas pipocam por todos os cantos. Do pé pra fora mais bagaceiro a bares e restaurantes, passando pelos quintais das casas, garagens, puxadinhos, lajes e no que hoje chamam de espaços gourmets de chiques apartamentos. Dá para ver de longe onde está tendo comemoração – pela iluminação, música alta, empolgação, garrafas de cerveja, batuque e olhos brilhantes.

Admito, sou festeira e gosto desse clima de champanhe espocando. Entre as festas que fui nesse finalzinho de 2009, já falei aqui do amigo secreto do pessoal da peça As Meninas, na casa da Clarissa Abujamra. Agora, o espaço é da turma do Centro Cultural Grupo Silvio Santos. Um dia antes, ganhamos um peru que já está no congelador. Minha mãe gostou muito.

Pele bronzeada, vestido branco, os cabelos loiros, olhos bem azuis, Cintia Abravanel comemorou com a galera do CCGSS no Michelina, na rua atrás do Teatro Imprensa. Bonita e alegre, reuniu atores, técnicos, produtores e amigos. Na entrada, pulseirinha vip para identificar todo mundo. Vivi, a filha mais nova de Cintia, preocupava-se em nos avisar - eu, Adriana e Ligia -para retirar a cesta de natal no teatro, na hora de ir embora.

Carla Candioto e Alexandra Golik, da Cia Le Plat du Jour; os atores de Pinóquio, espetáculo que está com 7 indicações ao Prêmio Coca-Cola Femsa; os produtores Eduardo, Cris, Rose e Fabiana, Enes (administrador do Teatro Imprensa), o iluminador Ciso, o diretor Paulo Ribeiro e o gestor cultural Wilton Ormundo ... todos deram muitas risadas. Ao lado dos filhos, Ligia, Tiago e Vivian, apagou velinha de aniversário e subiu na cadeira para fazer discurso. A esfuziante anfitriã - que só parou para atender o telefonema do pai - não deixou por menos e quase todo mundo levou banho de espumante. Confesso que, com o pratinho de bolo nas mãos, me escondi debaixo da mesa para comer sem me molhar.

Uma delícia, muito astral. Tudo no clima espontâneo e simples da própria Cintia e equipe. Uma simplicidade, aliás, que faz toda a diferença, é o molho que tempera nossa parceria de trabalho e amizade. Termino agradecendo o carinho sincero, generosidade e fidelidade dessa pessoa incrível que temos o prazer de conhecer e a privilégio de conviver. Um dia, se você leitor estiver no Teatro Imprensa comigo faço questão de apresentá-la.


(Fernanda Teixeira)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ensaio geral "O Quebra Nozes"

O ensaio geral da montagem do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro para o clássico de Natal “O Quebra Nozes” aconteceu ontem, no palco do Teatro Abril. A Arteplural acompanhou o ensaio e recebeu repórteres e jornalistas que fizeram cobertura.

Antes de tudo, a Globo News fez um link ao vivo às 14 horas, com o principal casal do elenco, Roberta Marquez - atual primeira bailarina do Royal Ballet de Londres - e Arionel Vargas - primeiro bailarino do English National Ballet de Londres.

Depois, à noite, a equipe da Arteplural contava com Fernanda, Adriana, Douglas e a Lígia - que estava super ansiosa, para que tudo desse certo, depois de tanto empenho e dedicação.

Enquanto esperávamos os jornalistas e repórteres convidados, os bailarinos faziam o aquecimento. Sem figurino e cenário, passavam alguns passos tranquilamente. Alguns aparentavam estar nervosos, mas o tombo de um dos professores logo aliviou as tensões, descontraindo a todos.

Os convidados da CAJEC – Casa José Eduardo Cavichio, que dá apoio à criança com câncer - foram os primeiros a chegar. Cinquenta crianças esperavam ansiosas pelo espetáculo. Algumas no colo, outras brincando. Mas todas felizes e empolgadas.

A repórter Neide Duarte e sua equipe do Jornal Nacional, logo chegaram para registrar esses momentos de bastidores. Ana Botafogo – primeira bailarina da companhia – explicava para os pequenos, com muita delicadeza, sobre a montagem do espetáculo. As crianças olhavam com uma expectativa muito grande. Muito atenciosa, Ana levou alguns para o palco, onde puderam se aproximar de diversos personagens, previamente preparados para recebê-los, e também trouxe o quebra nozes para as crianças brincarem. Era perceptível o encantamento da bailarina com cada criança. Tudo registrado, a matéria para o Jornal Nacional deve ir ao ar no dia 24, véspera de Natal.

Nesse meio tempo, os veículos convidados foram chegando e adiantando suas matérias. Alguns fotografaram os camarins, outros entrevistaram a Ana Botafogo.

Começou o ensaio e tudo estava tão perfeito que parecia que já estava em seu formato definitivo. De repente, ouvimos algumas vozes interrompendo. Todos curiosos para saber de onde vinha, quando surge, acompanhada de seu microfone, a coreógrafa Dalal Achcar - a estrela da primeira versão levada ao palco do Teatro João Caetano por Eugênia Feodorova no papel de Fada Açucarada, em 1957. Preocupada com cada detalhe, Dalal atentava para todos os bailarinos e exigia que refizessem as cenas que não beiravam a perfeição. O divertido foi Dalal, irritada, com os bailarinos não seguindo suas instruções nos primeiros minutos. Só depois ela percebeu que o elenco estava sem retorno de seu microfone no palco.

Como saldo final, tivemos matérias ótimas, uma coreógrafa ensandecida, crianças da fundação famintas, mas felizes, e a equipe Arteplural muito cansada e com a sensação de dever cumprido.

Hoje é a estreia oficial do espetáculo: boa sorte para toda a equipe e bom espetáculo para quem for assistir!

por Douglas Picchetti

Fotos: Adriana Balsanelli

Pelo direito dos ciclistas

Diz o Artigo 58 do Código de Trânsito Brasileiro: “Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores”.

Só que a lei, como muitas outras leis brasileiras, não é seguida. A galera já tentou ir pra praia pedalando dezenas de vezes e os amiguinhos policiais sentem o bizarro prazer de fazê-los voltar ou mesmo agredir os pobres e inofensivos ciclistas, causando trânsito e poluição.Mas como a resistência ciclista é forte e tem gente disposta a lutar por nosso direito de ir e vir -Renata Fanzoni, André Pasqualini do Instituto Ciclobr e muitos outros anônimos que pedalam diariamente para o trabalho, numa dificuldade dos diabos, teremos a chance de ir de São Paulo a Santos de bicicleta a partir de sábado!

Dia 19 de dezembro será feita por um grupo de bikeiros, pela primeira vez com "autorização", a Rota Marcia Prado, nome dado em homenagem à ciclista que morreu atropelada na avenida Paulista em janeiro deste ano. E "autorização" está entre aspas porque, oficialmente, não há ainda nenhum papel que libere a passagem dos ciclistas, mas tudo indica que nenhuma "autoridade" vá contestar a organização do passeio, já que as prefeituras de São Paulo, São Bernardo e São Vicente, o pessoal da Imigrantes e do Parque Estadual da Serra do Mar estão todos de acordo.

Mas vamos ao que interessa: a Rota Marcia Prado começa com 30 km de planalto desde a Estação Grajaú da CPTM até a rodovia de Interligação entre a Anchieta e a Imigrantes, onde fica o acesso ao Parque da Serra do Mar que vai descendo a serra por mais 25 km até Cubatão. E aí, só no retão, mais 21 km da saída do Parque em Cubatão até a entrada de Santos... algumas pedaladas mais e estamos na areia! No total, são 77 km que merecem champanhe para comemorar! Se der tudo certo, teremos em breve a saudável e ecológica opção de padalar ao mar! Pela primeira vez fora da "ilegalidade".

Valeu, Ciclobr, pela insistência! E em breve, treinada, estarei lá, saindo junto com vocês do Grajau!



Mais:
http://www.ciclobr.com.br/rota_marcia_prado.asp
http://espnbrasil.terra.com.br/renatafalzoni



(Renata Lopes)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Folias homenageia Reinaldo Maia

A Mostra do Grupo Folias presta homenagem ao dramaturgo, ator e co-fundador do grupo, Reinaldo Maia, um dos nomes mais respeitados no teatro contemporâneo nacional, que faleceu em abril deste ano. Leituras de cenas e textos de algumas de suas peças serão feitas por importantes grupos do cenário teatral, como a Cia. Estável, A Brava Cia., Farândula Trupe e Cia. São Jorge de Variedades. Celso Frateschi e Marco Antonio Rodrigues farão leitura de cena de um texto montado pelo Núcleo Independente. Na quarta, acontece a exibição do filme O Que É Teatro concebido e dirigido por Maia.

Galpão do Folias
Rua Ana Cintra, 213 – Santa Cecília – Centro.
Confira abaixo a programação.

(Adriana Balsanelli)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Clarisse Abujamra faz festa para As Meninas



Um Darcy Penteado divide o espaçoso e confortável ambiente com fotos e pôsteres com imagens da dona da casa, de sua família, de Antonio Fagundes e de Antonio Abujamra, entre outras fotografias saborosas, em branco e preto. Em outra parede, um óleo sobre tela de grandes dimensões retrata a esguia atriz nua, com longos cabelos. Livros de arte e de teatro espalham-se organizadamente pela imensa – nem por isso menos aconchegante – sala. No apartamento da grande e generosa atriz Clarisse Abujamra, elenco, produção e equipe técnica da peça As Meninas comemoram a última sessão do ano e aproveitam para brincar de amigo oculto.

Subo no elevador com a atriz Luciana Brittes e o cenógrafo André Cortês. A atriz nos recebe com seu cachorro no colo, o Frederico. No imenso bar, em formato de U, a dramaturga Maria Adelaide Amaral (autora da adaptação), sentada num banco, petisca castanha e damasco enquanto todos, famintos depois da sessão de domingo, esperam as pizzas, encomendadas pelo produtor Fernando Padilha e sua mulher, a atriz Clarissa Rockenbach, uma das talentosas "meninas" do espetáculo. O sorriso do filho estampado no rosto, chega dona Neusa, camareira e costureira , mãe do produtor.

Uma música convida alguns a dançar. Júlio Machado é o primeiro. Logo, a casa fica coalhada do grupo que trabalha junto no espetáculo baseado no livro homônimo de Lygia Fagundes Telles. O designer gráfico Halan Moulin diz que precisa tomar alguns goles de vinho para se soltar. Silvinha Lourenço está feliz, assim como a carinhosa diretora Yara Novaes, o amigo figurinista Fabio Namatame, a sempre esfuziante Tuna Dwek, o músico Daniel Maia e a atriz Helô Castilho (amigos mais antigos, agora com o filhote Gabriel), Dr Morris (responsável pela trilha sonora, com a filha Ana), o contra-regra Raoni, André Acciolly (da administração do Eva Herz), Jonas e Juliana (operadores de luz) e o fotógrafo Ronaldo Aguiar. Namorados e namoradas também se sentem em casa. Uma noite alegre, gostosa, abençoada pelos deuses do teatro. Obrigada por proporcionar a todos nós esse encontro, Clarissse!


(Fernanda Teixeira)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

APCA - 2009

Prêmio APCA 2009 (Teatro Adulto)
Destaque em azul para as peças divulgadas pela Arteplural:
Autor - Fábio Mendes (THE CACHORRO MANCO SHOW)
Atriz - Rosaly Papadopol (HILDA HILST – O ESPIRITO DA COISA)
Ator - Elias Andreato (DOIDO)
Diretor - Marcio Aurelio (ANATOMIA FROZEN)
Espetáculo - MEMORIA DA CANA (OS FOFOS ENCENAM)
Prêmio Especial - Oswaldo Mendes, pela pesquisa e autoria do livro “Bendito-Maldito – Uma Biografia de Plínio Marcos”
Grande Prêmio da Crítica: Charles Möeller e Claudio Botelho, pela contribuição ao Teatro Musical Brasileiro


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Cadeia, tragédia, festa e futebol

O ritmo acelerado de dezembro – com o agravante da internação de minha mãe há 15 dias – afastou-me do blog, o que gerou um acúmulo de fatos para serem registrados. Para começar, quero contar que tenho uma prima na cadeia. Isso mesmo, ela está presa e essa é uma situação estranha. Trata-se da filha adotada de um dos irmãos da minha mãe, Agostinho, já falecido. Quando ela ficou órfã (a mulher do meu tio, Zoraide, também morreu), eu e meus irmãos (Roberto e Flávio) continuamos a ajudar a moça, mandando uma quantia para garantir seus estudos. Até o dia em que soubemos que a grana estava sendo desviada para financiar seu vício, crack. Ainda mobilizados para ajudar, não desistimos e internamos a prima problemática em uma clínica de recuperação. Isso depois de presenciar seu estado deplorável – machucada na cabeça em função de uma queda na rua, magérrima, o olhar perdido, sem brilho.

Depois de várias fugas e mais de uma dúzia de mentiras, ela resolveu que estava curada. Continuamos colaborando, só que sem mandar dinheiro diretamente para ela, e sim por intermédio da dona de um mercadinho na cidade de Jacareí (onde a garota mora). Pela conta bancária da pequena comerciante, mandávamos a cesta básica de cada mês. Até que, por um telefonema do carcereiro da delegacia de Jacareí, soube que ela estava presa, ou melhor, está. Foi em cana porque estava em companhia de dois caras suspeitos, flagrados com uma pistola. Ela dançou. De lá pra cá, recebo suas cartas toda semana. Às vezes chega mais de uma. O papel ralo, barato, mas a letra redondinha, bem feita. Toda vez eu gelo, a respiração fica curta. Contrariando a opinião e orientação de muita gente, continuo enviando uma grana para a moça do supermercado levar cigarro, comida e produtos de higiene pessoal até a delegacia. Ontem pensei em escrever uma carta, rendendo-me às suas chantagens de que é a única presa que não recebe visita nem carta. Todas pedem alguma coisa. Nem decide responder, acabo de receber outra. Talvez me anime e crie coragem, ainda hoje, mais tarde. Vamos ver. Às vezes penso que, pelo menos no xadrez, não recebo a notícia de sua morte por overdose.

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Não dá para deixar passar batido o show de gravação do primeiro DVD da cantora baiana Vânia Abreu, no Teatro Bradesco, Shopping Bourbon, no final de novembro. Intérprete de timbre gostoso, repertório de qualidade e carisma no palco, Vânia mandou bem como marinheira de primeira viagem em gravação de DVD. Mesmo com as inevitáveis pausas durante o show, para a edição do filme, a plateia ficou até o final, pediu bis e ovacionou Vânia. A Arteplural tinha mais de 200 convidados, entre produtores, jornalistas e artistas, recepcionados por mim, pela Adriana Balsanelli e pelo Douglas Picchetti. O Metrópolis, da TV Cultura, fez link, isto é, entrou ao vivo com trechos da apresentação. Fomos ao camarim com a cantora Klébi, ganhei o novo CD. Enfim, foi uma noite muito feliz.

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Impagável o show do Chalalá é Chic, na festa de fim de ano da Arteplural, quinta, 3 de dezembro, no Miniteatro, sede dos amigos e clientes Marilia Toledo, Kleber Montanheiro, Veridiana Toledo e Cia da Revista. A princesinha da Praça Roosevelt presenciou cenas memoráveis e engraçadíssimas. Miriam Ramos, da Rádio USP, interpretou Chuva de Prata, a produtora e dramaturga Célia Forte cantou Caça e Caçador. As duas deram um show de desinibição. O momento interativo da noite também teve a participação da Lígia, do Douglas, da Carla (do DataFolha) e da Flávia. O quarteto mandou bala em Menina Veneno, e a atriz Maria Dressler e Luciene foram de Fogo e Paixão. Com o auxílio luxuoso da banda, capitaneada pela baixista e produtora musical Gigi Magno, que assina a idealização do projeto e a direção do projeto. Ao microfone, a cantora e MC Gigi Trujillo, com visual Amy Winehouse, segurou todas ao microfone.

Em noite de grande tempestade na cidade, passaram pelo Miniteatro os atores Melissa Vettore, Rachel Ripani, Joca Andreazza, Otávio Martins, o escritor Wladyr Nader, o dramaturgo e arquiteto Duílio Ferronato, a cantora Vânia Abreu e o músico Marcelo Quintanilha, a bailarina e amiga Renata e o iluminador Domingos Quintiliano (com o filho Lucas), minha cunhada Peha e meu irmão Flávio (ele de sandália Havaiana), o diretores Zé Henrique de Paula, o ator Sergio Mastropasqua e a turma do Núcleo Experimental e da Firma, os produtores Guete e Luque Daltrozo, o assessor de imprensa Tuca Notarnicola (da Gambiarra), os amigos Cleide Bardauil, Briba (da Universal Music), Marcello (da CM Express, serviço de motoboy), Beth Iozzi (da Support Contabilidade), Lica Keunecke, Rosana Rodrigues, Renata Pinheiro, Pricila, Teca, Rosa Virgínia e os atores da Cia Rodamoinho.

Outra noite feliz.

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Falando em Praça Roosevelt, era dezembro de 2000 e o grupo teatral vindo de Curitiba, mas que já tinha excursionado pela Europa e trabalhado muito por aí, preparava a inauguração do Espaço dos Satyros em São Paulo, na carcomida e mal tratada praça do centro da cidade de São Paulo. Para a estreia, a trupe vinha com o espetáculo “Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte”. Deitada na cama, me recuperando da hepatite A que me tirou de combate por um mês, recebi o ator Ivam Cabral para acertarmos a assessoria de imprensa do lançamento do espetáculo e da abertura da sede própria. Começava ali a revitalização de um local da cidade, que depois veio abrigar outros grupos de artistas e suas companhias. Praticamente, Ivam e Rodolfo García Márquez foram os pioneiros.

Todo esse nariz de cera para comentar a tragédia ocorrida na madrugada de sexta para sábado, dias 4 e 5 de dezembro, no coração da Praça Roosevelt, exatamente no Espaço dos Parlapatões, quando o dramaturgo Mário Bortolotto – com quem trabalhei em Santidade, peça de José Vicente, com direção de Fauzi Arap, na década de 90, no Teatro Crowne Plaza – levou quatro tiros durante um assalto na sede dos Parlapa. Recebi a notícias pela internet. O primeiro pensamento: os fatos só viram notícia e saem no jornal quando as pessoas são baleadas e morrem. Porque todo dia tem neguinho desconhecido levando tiro por aí. A importância da Praça – que, mesmo sem segurança, é reduto de intelectuais, mendigos e as prostitutas que sobraram - e o nome do dramaturgo fizeram com que o fato fosse noticiado.

Fora a questão da classe artística – principalmente a teatral – estar consternada e torcendo pela melhora do Marião, precisamos pressionar o poder público para revitalizar a praça. O local era muito mais violento e perigosa antes dos artistas se instalarem lá. Foram exatamente os teatros, as sedes das companhias que se alojaram ali, que deram cara nova, vida nova ao local. A Roosevelt passou a ser freqüentada por artistas, jornalistas e intelectuais em geral. Antes do movimento teatral, a gente andava com medo por ali. Hoje é ponto de encontro.

O problema da violência é geral. Atinge desde as metrópoles, passando pelas capitais menores até as cidades do interior do Brasil. Você, leitor, sabe quantas pessoas são baleadas por dia/noite na cidade? Mas é triste precisar acontecer mais uma tragédia, entre milhares, para o poder público pensar em agilizar a reforma da praça, investindo em iluminação e infraestrutura.

Voltando ao crime nos Parlapatões, fecho com a Célia Forte, quando ela diz que o assaltante é um covarde. Está com a arma na mão, quando alguém peita, ele atira e sai correndo, sem levar nada. É covarde. Torcemos pela melhora do Mário.

Noite de muita aflição.

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Na decisão do Brasileirão, ponto para o Grêmio. Contra o Flamengo, perdeu por 2 a 1, lutou até os últimos segundos e valorizou com sua dignidade a conquista do título pelo Flamengo. Bem diferente do que fez o Corinthians no jogo contra o Flamengo na semana passada. Pelo menos minha mãe, carioca e rubro-negra, ficou contente.

Flores para Nair , que saiu do hospital. Noite mais calma.

(Fernanda Teixeira)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ótimos Autores Reunidos


Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp

Chamar August Strindberg e Ingmar Bergman - os dois suecos campeões que, juntamente com o norueguês Erick Ibsen são os maiores dramaturgos da Escandinávia, - de ótimos autores, parece bem pouco e é. No entanto, seus textos, (“A Mais Forte” e “Persona”), reunidos no espetáculo atualmente em cartaz no Viga Espaço Cênico, “Strindbergman”, nos pareceu muito menor do que cada um deles separados. Que Bergman (séc.XX) foi influenciado por Strindberg (séc.XIX) todo mundo sabe, pois o cineasta e encenador teatral cansou de dizer. Mas, nenhum dos dois gostava de desperdiçar palavras. Quem lê “A Mais Forte” em que uma personagem é muda e a outra fala, sem observar as pausas do discurso, pode pensar que se trata de falar por falar. Mas não é o caso. Uma ouve e tem reações silenciosas enquanto a outra monologa sobre os prós e contras de ser casada como ela e amante como a outra. A solução dessa dúvida é que é a questão central da obra.

Se a peça me agrada menos do que os originais, a encenação (Marie Dupleix) é de extremo bom gosto. Além disso, as três atrizes, Clara Carvalho, Janaina Suaudeau e Nicole Cordery estão maravilhosas, razões suficientes para tornar a assistir à encenação com grande prazer. Vale conferir.

Já “Da possibilidade da Alegria no Mundo” reúne cinco autores (e não quatro como há até no programa) aos quais foram pedidas peças curtas que se dedicassem ao tema proposto no título. Quem abre a cena, antes de se adentrar à sala é Simone Evaristo que com as ótimas improvisações que apresenta, mostra que é excelente atriz, como se verá em toda a montagem e uma dramaturga promissora.
Além dela há ninguém menos que Denise Weinberg, que está com tudo e não está prosa, assim como José Roberto Jardim e Sérgio Módena que não ficam atrás. Entre os autores há Newton Moreno (“Agreste” e “Centenárias”) e nomes inéditos em nossos palcos: É o caso de Abel Neves português da gema, de Mariana Pecovitch uma uruguaia provavelmente de família russa e Naghmeh Samini do Irã. Por incrível que pareça, Moreno como diretor consegue imprimir unidade ao belo espetáculo que tem cenários assinados por ele e Marcelo Andrade, figurinos excelentes de Carol Badra e iluminação irretocável do tarimbadíssimo Domingos Quintiliano. A dramaturgia e a encenação prendem o espectador o tempo todo e, embora a construção do texto “Quenguinha”, um dos dois que Newton assina nos pareça o mais perfeito, lembrando Shakespeare, não é dos mais otimistas. Mas alguns dos outros são, por exemplo dando graças a Deus por ter realizado um dos sonhos da personagem e não todos. Momento em que o espetáculo anda de mãos dadas com o sábio Calderon de La Barca para quem a vida é sonho.
E eu diria, como esse trecho parece dizer que a alegria é impossível sem sonhos. Esse e outros momentos tornam a montagem mais otimista, o que por si só vale uma ida ao teatro, especialmente num semestre que se caracterizou por muitos monólogos e textos para mais atores, de extremo pessimismo.

Ninguém devia perder, pois é um trabalho diferente do comum.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Argh!


As críticas de diversos setores da sociedade à visita do presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil - homossexuais e movimentos de diferentes etnias o acusam de preconceito, integrantes da comunidade judaica repudiam o iraniano por suas declarações questionando a ocorrência do Holocausto e defendendo o fim do Estado de Israel – têm fundamento sim. Não somos intolerantes. Respeitamos a diversidade. E temos princípios – isto é, imagino (e espero que não seja sonho) que a uma parcela dos brasileiros – a dos instruídos, estudados, inteligentes, cultos e bem educados - tenha princípios. Coisas que o iraniano, com certeza, não tem.
(Fernanda Teixeira)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Strindbergman retrata relação íntima


Por Adriana Guivo,
do Colherada Cultural

A intimidade que duas pessoas alcançam ao serem forçadas a um convívio constante é o tema de “Strindbergman”, em cartaz em São Paulo. A produção, já apresentada em Paris, é inspirada nas obras clássicas de dois suecos: o filme “Persona” (1966), do cineasta Ingmar Bergman, e a peça “A Mais Forte” (1888), de August Strindberg. Ainda que não se conheça as histórias originais, é possível se emocionar com a humanidade das protagonistas.

Na peça, uma paciente e sua enfermeira partem rumo à praia, na tentativa de obter uma melhora não alcançada em três meses de internação clínica. A primeira é Elisabeth Vogler, uma famosa atriz que subitamente emudeceu. Para sua médica, essa seria apenas mais uma interpretação em sua carreira, que findaria como uma temporada teatral.

A outra é Alma, uma jovem que deseja fazer os outros felizes, e que expõe seus segredos pelo prazer de ser ouvida por alguém que admira. O relacionamento entre elas apresenta aos poucos os interesses particulares que mantêm, enquanto suas identidades se fragmentam e se fundem – ou se confundem – uma com a outra. A fragilidade de uma declaração de alto teor erótico faz emergir o lado cruel de suas personalidades, numa inevitável admiração mútua.
As duas alcançam assim o mais profundo de suas emoções para compartir força e fraqueza, num jogo especular de dominação psicológica. Aberta a múltiplos significados, a peça pode ser compreendida conforme o nível de identificação que se tenha com as confissões das personagens.As atuações de Nicole Cordery e Janaína Suaudeau impressionam pela cumplicidade e vitalidade em se expressar através de gestos, silêncio e verborragia.
Entre os elementos cênicos se destacam a montagem multimídia, que projeta imagens de ambas as atrizes vivenciando um enredo de traição; um leito-passarela que alterna uma dinâmica de equilíbrios, entre altos e baixos condizentes com os estados emocionais sentidos; e um impecável figurino em preto e branco, composto de imensos chapéus, elegantes vestidos e maiôs, os quais reforçam tanto a feminilidade quanto a semelhança entre as mulheres.

“Strindbergman”. Até 20 de dezembro no Viga Espaço Cênico. Rua Capote Valente, 1323 – Pinheiros – São Paulo. Tel: (11) 3801-1843.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Noite escura


Ao celular, a ligação é interrompida bruscamente. 22h15, acaba a novela das nove, as luzes do apartamento começam a piscar, diminuem gradativamente de intensidade e apagam de vez. Blecaute. Corro para a janela, um grupinho de moradores se reúne lá embaixo na portaria. Os carros que chegam não podem entrar na garagem.

O mesmo ocorre em outros prédios da rua. Nas janelas dos edifícios aparecem pessoas com lanternas e velas. O telefone, da Net, não funciona, assim como o laptop. Não tenho rádio para ouvir as notícias. Peço para uma amiga, que mora no prédio em frente, exatamente no mesmo 6. andar, que procure alguma notícia no rádio. Depois ela conta que o blecaute atingiu vários Estados, inclusive Rio. O apagão deixou a cidade às escuras. Sentada no sofá, só ouvia a buzinação da avenida Brigadeiro Luiz Antonio.

Vou para a cama apreensiva. Penso em quem está na rua – meu irmão Flávio e minha cunhada Penha foram ver o show de Dona Summer-, quero saber se meus sobrinhos e sobrinhas estão em casa... , se meu irmão Roberto (que mora no Rio) está bem, se aconteceram arrastões ou assaltos, se alguém ficou preso no elevador, se todo os hospitais tem geradores, se o metrô parou, se houve pânico.... Rezo para meu anjo da guarda.
Deitada, lembro de ter lido no site Opinião e Notícia que "no último domingo, 8 de novembro de 2009, o programa “60 minutes”, da emissora norte-americana CBS, exibiu uma reportagem segundo a qual dois apagões no Brasil nos últimos quatro anos teriam sido causados por ataques de hackers. A hipótese de que essa tenha sido a causa deste último blecaute foi descartada pelo ministro das Minas e Energia, Edison Lobão".

Penso, ainda, na coluna de Carlos Brickmann no "Observatório da Imprensa", sobre a censura prévia imposta ao jornal O Estado de S. Paulo. Dá um frio na espinha. "A pedido do filho do senador, Fernando, que administra os bens da família, o Estadão foi proibido de citar qualquer fato apurado pela Operação Boi Barrica, da Polícia Federal", escreveu Carlinhos, para depois tirar um sarro: "Não se pode ignorar a força política de Sarney: quem escreve livros como aqueles que publicou e consegue ir para a Academia Brasileira de Letras é capaz de façanhas inacreditáveis". Apesar de tudo, apago logo. Só a TV do celular ligada.

Conforme reportagem do SPTV do dia seguinte, o técnico do INPE disse que foram raios que atingiram o Sul do Estado de São Paulo. Falou que São Paulo é a cidade do Brasil mais atingida pior raios, e o Brasil, no mundo, é o maior alvo dos raios. Então, deduzo que a culpa é do tempo mesmo. Hoje às cinco da tarde toda a cúpula dos poderosos de Brasília mais os entendidos em energia tem reunião para tratar do assunto. Penso que deve estar na pauta bolar uma estratégia para passar para a assessoria de imprensa oficial. Afinal o discurso tem que ser único.

(Fernanda Teixeira)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Detalhes cotidianos

Vantagens de se trabalhar próximo ao Ibirapuera. Essa ilustre visita inesperada, cantando na janela.

(Ligia Azevedo / Douglas Picchetti)

Sem rotina

Cena de Strindbergman

Maquete, feita em caixa de sapato, da peça do Duílio Ferronato

Feriado na segundona, semana curta, cheia de trabalho, obrigada senhor! Trabalhar com coisa boa e no que a gente gosta é um prazer. Deixa o dia-a-dia mais dinâmico e sempre surpreendente. De vez em quando penso: gostaria de ganhar dinheiro só escrevendo. Morar numa praia, ficar de papo pro ar, mandando os textos por email. Logo depois, me animo, gosto dessa rotina (que rotina?) de assessoria de imprensa, ter escritório, conviver com outras pessoas, mais jovens, mais velhas, mais leves, entusiasmadas e, principalmente, de bom-humor.

Depois da estreia da peça As Meninas, neste fim de semana tem a stand-up comedy Comédia em Pé e a cabeça Strindbergman, com Nicole Cordery e Janaína Suaudeau, sob a direção da francesa Marie Dupleix. Semana que vem tem Um Conto Idiota, com a cia do bailarino e coreógrafo Jorge Garcia, na Sala Crisantempo; Arrufos, do Grupo XIX, no Espaço dos Fofos, e a reestreia de O Ano do Pensamento Mágico, com Imara Reis, no Sergio Cardoso.

Na sequência, faremos Se Você me Amasse, do amigo Duílio Ferronato, nos Satyros; O Animal na Sala, do grupo Linhas Aéreas, de Ziza Brisola, no Sesc Santana; . Antes de terminar o ano, faremos também O Quebra Nozes, com o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Ana Botafogo apresentando a nova geração de seu corpo de baile) e a exposição sobre a Índia Urban Manners 2 – Artistas Contemporâneos da Índia.

Semana passada teve Kabarett, de Kleber Montanheiro, no Miniteatro, ótimo; o espetáculo de dança da cia P.U.L.T.S, na Galeria Olido, com e bailarina Renatinha (mãe do Lucas e amiga da Candice), sem contar o show de Beto Guedes e a peça L'Effet de Serge, ambos no Sesc Santana.

Reuniões com clientes, entrevistas com artistas, passagens de cena para televisões ou cobertura para coluna social. De rotina não podemos reclamar.

(Fernanda Teixeira)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

As Meninas e a tarde de emoções

O Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, ficou pequeno para abrigar tantos corações emocionados. Era meio de feriado prolongado, sábado passado, dia da estreia do espetáculo As Meninas, adaptação de Maria Adelaide Amaral para o livro homônimo de Lygia Fagundes Telles.

Dava para sentir um clima especial no ar. Comandados pela dramaturga, a equipe toda subiu ao palco, a plateia ainda vazia, deu as mãos e, em circulo, pediu aos deuses do teatro pela saúde de um familiar da diretora Yara Novaes – que precisou ir a Belo Horizonte às pressas e não pôde comparecer. Com um vidrinho de água benta nas mãos, Maria Adelaide abençoou cada um. Prenúncio de um dia diferente.

Lá fora, os convidados já chegavam. Atores como Gustavo Machado, Lúcia Veríssimo, Débora Fallabela, Maria Fernanda Cândido, Daniel Alvin, Xuxa Lopes, Karin Rodrigues, Marcelo Mansfield, os produtores Celso Curi, Wesley, Roberto Monteiro, Zé Maria Pereira, os amigos Bel Gomes, Claudia Hamra, Célia Forte, Ubiratan Brasil e a convidada mais esperada, Lygia Fagundes Telles, acompanhada pela neta Lucia.

Antes do inicio, o ator Dan Stulbach – diretor artístico do teatro - subiu ao palco para pedir compreensão do público por conta de pequena confusão gerada pelo grande número de pessoas. Cadeiras extras foram providenciadas e só mesmo algumas pessoas da equipe, como o produtor Fernando Padilha, o musico Dr. Morris e o pessoal da assessoria, assistiram a peça de pé no fundo do teatro.

As atuações do elenco foram brilhantes – Clarisse Abujamra, forte e com grande magnetismo, e Tuna Dwek, firme, em cenas engraçadas ou mais dramáticas (as duas atrizes convidadas) e as "meninas" Luciana Brites, em interpretação arrebatadora; Clarissa Rockenbach, mostrando a veia boa de atriz e cativando o público; e Sílvia Lourenço, prometendo crescer (à altura de seu talento) ainda mais no papel; e Júlio Machado, presença marcante nos dois personagens que vive.

Um romance dos anos 70 tão atual como músicas e poemas que trazemos grudados na memória. Uma peça que sintetiza de forma exemplar os dramas e conflitos do livro, dando oportunidade igual a todos os personagens. E por fim a grande emoção de ver Lygia Fagundes Telles feliz.
Abaixo, email de Lygia Fagundes Telles para toda a equipe da peça:

"Meninos e Meninas",
Escrevo com muita emoção para dizer que amei o que vi hoje. A peça está linda, forte, densa e me deixou muito, muito emocionada. Obrigada. Sucesso enorme para esse trabalho tão bem feito e sério, que traduz de uma forma linda o meu romance e a história dessas Meninas.
Um beijo em cada um,
a Lygia.
obs. Lúcia também manda beijos emocionados.
Agora email do jornalista Ubiratan Brasil, sub-editor
do Caderno 2 para o produtor Fernando Padilha:
Querido Fernando,

Novamente mil parabéns pela produção - fazia tempo que eu não assistia a uma peça tão cuidadosamente cuidada. Fiquei emocionado como há muito na ficava. Houve momentos que, confesso, não consegui segurar as lágrimas. Tenho certeza que Lygia teve ter se sentido honrada com tamanha homenagem. Se puder, mande, por favor, um beijo enorme pro elenco, pois não consegui falar com todos na saída. Na verdade, sempre fico inibido em estreias pois me sinto como um intruso, mas dessa vez acreditei fazer parte da "casa". Já comecei a fazer o boca a boca, pois a peça merece. Quero mesmo voltar a ver, pra pegar mais detalhes.

Um beijo grande, obrigado por me deixar participar de um momento tão raro.
Bira

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Não há rival em matéria de risos

Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela UNICAMP

Não é à toa que o ator se chama Norival Rizzo.
No momento não há um espetáculo em cartaz – especialmente monólogo – mais divertido do que “O Homem das Cavernas” do americano Rob Becker, que está em cartaz no Teatro Renaissence. É de morrer de rir. Não só com homens e mulheres das cavernas como com os de hoje em dia. O texto se dedica principalmente às diferenças entre masculino e feminino com acuidade excepcional. Impossível não se identificar com todas as mulheres descritas, nem deixar de reconhecer todos os homens que se conhece. É fora de série. Imperdível!!!!!!!

A única pena é o horário alternativo, sábados às 23hs30. Os jovens baladeiros e notívagos adoram, mas para os mais coroas, eu juro que não vão se cansar de uma boemia extra, porque é demais. Aliás a produção está estudando um horário às 18hs no domingo.

Além do intérprete maravilhoso, a direção de Alexandre Reinecke capricha em tudo. Mescla o monólogo com projeções (Chris Lui) que apresentam figurinos belíssimos (Carol Mariottini) e não deixa Norival sossegar nenhum minuto, transitando em frente do cenário, diríamos cubista (Cenário Brasil), porque como a peça mescla primitivo e moderno.

Impossível deixar de mencionar que Reinecke foi ainda responsável pela tradução que obviamente implicou em adaptações para o contexto brasileiro.E o resultado é que Rob Becker fica parecendo amigo de fé, irmão, camarada.
Apressem-se porque vai lotar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Trauma de infância

Por Douglas Picchetti, novo integrante da Arteplural

Um cão no local de trabalho ameniza e descontrai o ambiente, aliviando o stress e a correria. Independente de você estar atolado de trabalho, ele estará lá, abanando o rabo e pronto para brincar e receber carinho a qualquer momento. Estou trabalhando em uma empresa que tem um mascote. Chama Dudu, é um cão basset.
É, consegui um emprego. Confesso que foi tudo diferente do que eu relatei no post do Desabafo de um Desempregado.

Meu sonho sempre foi ter um cão. Já deixei meus pais em situações desagradáveis de tanto me dizerem não. Minha mãe tem remorso até hoje, mas aqui em casa ninguém gosta de animais. E de fato, uma criança de 6 anos não vai limpar o cocô, tampouco dar comida ou levar ao veterinário. Elas prometem, mas é mentira. Eu prometia, era mentira.

Encontrei, portanto, algumas alternativas para substituir meu apreço por cães. Já que o filo canino é proibido, comecei a optar pelos peixes. Ao todo foram 3 peixes-betas, todos morreram. Um porque não tomava sol, outro porque ficou velho e outro, quando eu cheguei em casa, estava despedaçado no aquário. Não sei o motivo até hoje. Na verdade eu não lembro o nome deles, se é que eles tinham. Os peixes não conseguem demonstrar nenhuma forma de carinho pelas pessoas, e eu, no caso, também não demonstrei por eles.

Depois foi a vez das tartarugas de aquário. Eram duas, muito queridas, Clotilde e Geraldo. Com elas, o meu envolvimento foi maior. Dá pra pegar na mão, brincar, colocar pra andar no sofá. Eu sempre enfiava o dedo na ração e dava pra elas morderem. Limpar o aquário não era um prazer: elas fediam muito. Em dado momento, Clô e Gê estavam grandes demais para a casinha delas e resolvemos, então, despachá-las de volta para o pet shop.

Entrei numa fase roedora. Adquiri o Billie Pizza, meu primeiro rato (É, tem mais). Rato. Não era hamster, porquinho da índia ou ferret. Era um rato branco, com olhos vermelhos que eu peguei da faculdade de psicologia da minha prima. Ao todo, Billie tinha 30 centímetros. Ele era dócil, ficava feliz todas as vezes que alguém chegava. Foi o que mais se aproximou de um cão. Só não abanava o rabo gelado de 15 cm.

O problema é que viver com Billie era muito trabalhoso. Muito grande, não podia circular pela casa porque minha mãe é neurótica. Então, ele era fadado a viver dentro de uma gaiola envolto a serragens e suas necessidades fisiológicas. Foi quando recebi uma proposta da minha diarista, que levaria Billie para viver com ela em uma caixa d'água vazia. Topei: lá com certeza ele foi mais feliz.

Depois de despachar Billie, ataquei os topolinos. Conheci em um pet-shop. O animal era minúsculo, cabia na palma da mão e não chegava ao tamanho da boca do Billie. Porém, muito arisco. Não gostava de carinho e quando alguém o pegava na mão, mordia. Fugia da gaiola, se escondia em baixo da secadora de roupas. Solineuza, uma menina, durou 2 anos e meio. Faleceu em uma tarde fria, de um final de semana, enquanto eu jogava baralho com meus primos.
Em meio a tristeza, fizemos velório, enterro e tudo acabou sendo uma grande diversão.

Até hoje eu não tive um cachorro. Na verdade, eu não daria conta de cuidar de um. Quando eu tiver minha independência financeira para pagar uma pet-babá, eu providencio. Por enquanto, fico com o Dudu.
Pelo menos pet-shop, vacina, limpeza, banho, ração, (...) não é comigo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Chega de Pessimismo!!!

Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em Teatro pela Usp
Livre Docente pela Unicamp

Quando João Gilberto gravou chega de saudade tinha toda a razão. Não eram só as canções vigentes mas também o modo exagerado de cantar que estavam em questão. A temporada teatral, especialmente do segundo semestre deste ano, está merecendo esse protesto contra o pessimismo vigente. O Brasil sempre foi o país da esperança, do afeto, do otimismo, do bom humor. Não dá pra entender porque abraçar o pessimismo europeu de um Beckett e de outros tantos autores internacionais que caíram nas graças das produções do momento. Afinal nossa participação nas duas guerras foi irrisória, a crise econômica internacional foi mil vezes melhor que no Velho Mundo e desde os fins do século 19 a humanidade já sabe que a ciências humanas estão longe de ser infalíveis.

Também já se tomou consciência naquela época de que a comunicação humana é imperfeita, visto que não conseguimos entrar e sair dentro do mundo do outro e, às vezes, nem do nosso próprio mundo. Mas vale lembrar que, se mesmo num ato de amor, não sabemos exatamente como o outro está sentindo isso não impede que tal ato nos faça felizes e alegres. Não é porque a comunicação é imperfeita que não é bom ter amigos, papear e sair juntos.

Que Samuel Beckett tenha feito grande sucesso porque as pessoas começaram a compreender esses fenômenos a partir do trabalho da Gestalt, nos parece verdadeiro. Mas Esperando Godot foi escrita em 59. Faz tanto tempo, que me lembro do inesquecível professor Anatol Rosenfeld (falecido em 1973) explicar que a “humanidade chora a perda do absoluto”.

Chega de tanto pessimismo e tanto monólogo. Contamos com uma safra de excelentes dramaturgos que devem ter peças bem menos choronas dentro da gaveta: Sérgio ROveri, Newton Moreno, Mário Viana, Jarbas Capusso, Gilberto Amêndola, Antonio Rogério Toscano, Naum Alves de Souza, Franz Kepler, Antonio Rocco, Samir Yazbek, fora os que não estou lembrando e os mais montados como Adelaide Amaral, Marta Góes e tantos outros e outras.

Será que esse tipo de repertório ora em cartaz traz ou tira público dos teatros?
Pelo que tenho ouvidos dos críticos cansa qualquer um.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Da série Meus Homens e Minhas Mulheres - Irmãos


Um é magro e bem alto. O mais baixo não é magro nem gordo. Tipos diferentes, com dois anos de diferença de idade. Quando crianças, o mais velho tinha o apelido de Pink Panther. O mais moço, a irmã às vezes chamava de Batatinha (também por conta de um desenho animado, A Turma do Manda-Chuva). Os dois gostavam de Perdidos no Espaço, enquanto a irmã preferia O Sítio do Picapau Amarelo. Músculos no lugar certo, um deles gostava de nadar e fazer esportes. Mais chegado em livros, o segundo sempre foi mais tímido.

Um puxou o pai, piadista. O outro a mãe, bem distraído. Chegava a cumprimentar as pessoas com um tchau, acredite você, e nunca saía sem dizer "obrigado" à mãe – sem ter motivo para agradecer, a não ser pelo fato de ter vindo ao mundo. Maria Eduarda era para ser o nome de um, se nascesse mulher, é óbvio. Joãozinho era como a irmã queria que se chamasse o outro.

Sensível, o olhar assustado, ele não sabia o que fazer quando a irmã mais velha dizia que iria embora, e saía pelo portão rua afora, virando a esquina. Pura maldade de criança. Os dois eram levados, se penduravam nos puxadores da cortina, saltavam em vôo rasante de Tarzan pela sala, na frente das visitas, para vergonha da mãe. Terríveis, aproveitaram bem a infância.

Habilidosos (não foi à toa que ambos se formaram engenheiros), construíram uma casinha em cima da árvore em frente à casa em que moravam com os pais e a irmã. Era um sobe e desce danado da turma toda. A brincadeira na rua rolava solta. Carrinho de rolimã, bicicleta, esconde-esconde, clubinho ou futebol. Naqueles tempos, as ruas não significavam tanto perigo. Os acidentes aconteciam mais em função das brincadeiras.

Os amigos moravam na mesma rua, no máximo no outro quarteirão. Um quebrou o braço; o outro, a cabeça. De opinião forte, o que sofreu a queda mais perigosa preferiu voltar para casa com a cabeça toda enfaixada a usar uma redinha mais delicada sugerida pelo médico. Levou vários pontos. Ficou em observação. E assim eles cresceram, cada um a seu modo, bem-educados, sensíveis e ligados na família.

Certo dia, a irmã voltava para casa e surpreendeu-se com a quantidade de gente desconhecida circulando pela sala. Na porta de entrada, como se fazendo de segurança, a namorada do mais velho tranquilizou-a: "Todos participantes da pirâmide, fique tranquila". Dezenas de japoneses entravam e saíam. Foi a forma descolada para juntarem o primeiro dinheiro pro casório, presumo.

Os dois casaram-se quase no mesmo ano. Foi por pouco. A irmã foi madrinha de ambos. Logo ela, pouco chegada a cerimônias do tipo. Mesmo assim, chorou nas duas vezes. Um teve duas filhas; o outro, dois meninos, um deles batizado pela irmã num divertido sorteio ganho também pelo sogro, Serjão. Os padrinhos freqüentaram curso na Igreja Nossa Senhora do Brasil. Os noivos cabularam. Conseguiram o certificado. Até hoje não se sabe como. Da linhagem de pais que fazem questão de participar de tudo da vida dos filhos, sempre estiveram presentes nas mais corriqueiras atividades familiares. Sair sozinhos com as crianças sempre foi diversão.

Quando o pai morreu, se uniram mais ainda à irmã. Talvez por um sentimento masculino de paternidade ou responsabilidade, arrisco. Hoje visitam sempre a mãe e, mesmo morando atualmente no Rio, o mais moço está toda hora em São Paulo. Procura ficar perto da família no fim de semana. Inteligentes, talentosos, amorosos - cada um a sua maneira -, fazem a irmã encher a boca para falar deles. Maior orgulho, pode crer. Seus nomes? Flávio Pinto Teixeira (casado com Maria da Penha de Sá Teixeira) e Roberto Pinto Teixeira (casado com Maria de Lourdes Morello Teixeira). São pais de Ricardo e Pedro de Sá Teixeira, Ana Vitória Morello Teixeira e Ana Helena Morello Teixeira.

(Fernanda Pinto Teixeira)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Da bermuda rasgada a bota bico fino



Não é por nada, não, mas não costumo jogar. Desligada, esqueço que existe esse tipo de divertimento/passatempo. Assim, nunca penso em ganhar na loteria. Acontece que na modalidade amigos tirei o bilhete premiado. Sempre que sobrar um tempinho, vou dedicar algumas linhas a alguns deles, os mais antigos talvez. Posso mudar de ideia, entretanto hoje começo por uma pessoa de personalidade forte, interessante e que esteve comigo nos momentos mais importantes da vida.

Bancária e instrumentista, agora optou pela segunda carreira. Graças a isso, não acorda mais de mau-humor, atrasada, reclamando de tudo. Ó vida, ó azar, a imagem da hiena Hardly do desenho animado desgrudou dela, musicista de primeira. A montanha de compromissos continua. Difícil ela aceitar de primeira um programa. Festa, jantar? Não sei se posso, tenho que ensaiar, arrumar o quarto, fazer uma trilha, produzir aquela faixa.

Bermuda abaixo do joelho, tênis all star gasto, camiseta rasgada com logo de grupo de rock. Contrabaixo no ombro, a cara amarrada, nosso primeiro encontro não foi dos mais amigáveis. Tocava na banda de uma amiga em comum, de quem eu era produtora - hoje cantora com músicas direto na rádio. Afinidades musicais descobertas, começamos a ir juntas a shows, então ficamos amigas.

Como todos os amigos, dividimos bons e maus pedaços, no tempo de vacas mais magras. Ela trabalhava na Caixa Econômica Federal, agência Cambuci, e já tinha uma banda de reggae de meninas (a Shallabal). Eu tinha acabado de trocar a Folha da Tarde pelo Shopping News, onde segui escrevendo sobre música.

Passam cenas na cabeça, da gente em Camburi, da visita a sua mãe na UTI, da missa de sétimo dia de meu pai (ela e a amiga em comum Liane Rossi), da gente comprando bota de bico fino para ela fazer show, da noite que fomos assistir ao imperdível Os Sete Afluentes do Rio Ota, com cinco horas de duração, o encontro com a maravilhosa Maria Luisa Mendonça no hall do antigo teatro Hilton (a atriz "lindona", como ela chama seus queridos, e de sotaque carregado, frequentou muito a Arteplural – almoçava com a gente, se esparramava no sofá, via novela no Vale a Pena ver de Novo, conversava com minha mãe e sempre mandava beijos pro Dudu).

Da Vila Madalena aos espaços mais alternativos da cidade, como Madame Satã, acompanhei vários de seus shows com as muitas bandas com quem já trabalhou, de grupo de reggae a de forró. Ex-baixista de Paulo Miklos, é produtora musical de gosto refinado. Recentemente, assinou a produção do novo CD de Moisés Santana. Agora, ao lado de Gigi Trujilo, encabeça o original projeto Chalalá é Chic. Guardem esse nome, que ainda vamos ouvir falar muito dele.

Sensível, não raro fica com a emoção à flor da pele. No dia em que castrou seu gato, chegou em casa chorando que nem um bezerro desmamado. "Eu não tinha o direito", falava e de debulhava em lágrimas. Não poupava cuidados e atenção ao Boris, seu cão doente.

O lado esquentado também conta - hoje ela equilibra bem os dois. Batalhadora, comprou apê, juntou mais dindim e depois investiu numa casa antiga, que reformou toda para fazer um belo estúdio de gravação - que abriga também escritório com lugar para seus vinis e aparelho de videocassete - num bairro gostoso da cidade. Os amigos brincam que ela desencalhou. Ri, acho que concorda. Também falam que não gosta de ligar o ar condicionado no auge do Verão. Para economizar. Sorri, sem negar. Responsável e organizada, a criativa pisciana Gigi Magno tem seus métodos para realizar seus projetos. E que projetos! Parafraseando o escritor Mário Prata, ela inaugura a lista de "meus homens e minhas mulheres".

(Fernanda Teixeira)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Para desacelerar

Quando vou me deitar, antes de dormir, tenho um ritual para desacelerar a cabeça e o coração. É quando sinto o indescritível prazer de desligar todos os barulhos e escutar meus pensamentos. Ou ler – mesmo que seja pela centésima vez – o Poema em Linha Reta, de Fernando Pessoa, ou folhear algum detalhe que tenha passado despercebido de As Flores do Mal, de Baudelaire.

(Fernanda Teixeira)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Na sala com Lygia Fagundes Telles

O céu cinzento prenunciava uma tempestade de Verão no começo de uma tarde abafada. O combinado era nos encontrarmos na portaria e subirmos juntos até o 13º andar de um prédio nos Jardins, casa de Lygia Fagundes Telles. Pontualmente todos estávamos lá - a diretora Yara de Novaes, os atores Clarisse Abujamra, Luciana Brites, Silvia Lourenço, Tuna Dwek, Clarissa Rockenbach, Júlio Machado e o produtor Fernando Padilha.

O importante encontro tinha um motivo especial: ouvir a autora do livro As Meninas falar sobre uma de suas obras mais famosas, que vai estrear no teatro com dramaturgia de Maria Adelaide Amaral, dia 1º de novembro, no Eva Herz. De olhar doce, sorriso largo, a escritora nos recebeu na sala. Sentou-se em uma poltrona, esticou as pernas em um banquinho – por conta da recuperação de uma operação feita em fratura no fêmur – e nós nos aconchegamos a seu redor, alguns sentados em cadeiras, outros no chão.

Sobre a mesa, duas garrafas de vinho do Porto, uma jarra de água, uma garrafa de café e salgadinhos para os visitantes. Em cima da escrivaninha, do outro lado da sala, uma Olivetti Lettera 32 verdinha e original (lembrei da minha, que anos atrás, muito ingênua, troquei por uma máquina, na época, mais moderna). Pelas estantes, seus livros Durante Aquele Estranho Chá e O Jardim Selvagem misturavam-se a CDs de Tom Jobim, Chopin, Nelson Freire. No cesto de revistas, uma edição de Carta Capital e outras revistas de literatura.

Yara, Lygia e Maria Adelaide

"Acho maravilhoso As Meninas irem para o teatro", disse, um jeito simples, quase humilde. Entre os relatos, sempre espaço para observações. Ela contou ter começado a escrever o livro em 1970 ("Acredito que o escritor deve ser um testemunho de seu tempo."), auge da Ditadura Militar. Falou da campanha feita atualmente em busca dos desaparecidos, considerados na época subversivos. "Casei duas vezes e este livro é dedicado a meu segundo marido, o ensaísta e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, morto em 1977."

O casal morava na rua Sabará, Higienópolis, perto das dependências do Doi- Codi, onde eram torturados os presos políticos. "Eu e Paulo saíamos às ruas e, às vezes, o quarteirão todinho estava fechado, cercado por cordas de segurança. Nós ouvíamos os gritos das pessoas sendo torturadas." Num desses dias, Lygia informou Paulo de que iria escrever o livro. "Já tinha em mente a personagem Lia, o Lião (Silvia Lourenço no palco), cujo amante estava na Argélia, uma baiana que agarrou a causa apaixonadamente. Revolucionária, quer salvar o Brasil."

A maconha já circulava entre os jovens e Lygia lembra da segunda personagem, Ana Clara (que será vivida por Luciana Brites), subversiva, séria, dura, chamada de Ana Turva pelas outras. "Se cabe aqui um comentário, ela poderia usar uma camiseta com a imagem do Che Guevara." Ela fala e nós escutamos, boquiabertos, quase sem piscar para não perder nenhum detalhe da história. "Ana Clara teve uma infância medonha, mãe prostituta, foi abusada pelo padrasto, se envolveu com um traficante rico e poderoso e tem horror a Lorena, a terceira personagem (Clarissa Rockenbach)". Ficamos sabendo que as outras duas meninas acham Lorena uma burguesinha chata, besta, mas no fim Lygia disse que ela tem um papel muito importante.

As três meninas imaginadas por Lygia Fagundes Telles moravam em um pensionato de freiras liberais. "Quando Ana Clara morre no pensionato é Lorena quem toma as primeiras providencias, começa a vestir a amiga. Lia diz, 'mas você é louca'. Lorena arruma a morta porque quer salvar as freiras da ira dos militares." Tem também a madre Alix (vivida por Clarisse Abujamra), personagem que apoia a revolução.

Paulo Emílio era um homem de esquerda, trotskista, chegou a ser preso. Nessa época, de um lado a esquerda mão de ferro de Luiz Carlos Prestes, de outro a direita radical de Plínio Salgado. Entre as lembranças, Lygia fala do filho Goffredo da Silva Telles Neto, também envolvido na causa política. Depois, vem a recordação de um panfleto recebido na rua: "Meti no livro, com as orientações de Paulo para ter cuidado, pois o livro poderia ser censurado por isso." Com o prazer de quem conseguiu subverter aquela ordem do sistema, ela lê este trecho de As Meninas, que colocou na boca de madre Alix. Curiosidade, diz que o censor não chegou a terminar o livro por tê-lo considerado muito chato. Que alívio!

Casaquinho de lã azul royal, calça marrom e sandália Croc bege, Lygia faz comentários sobre os horrores da Ditadura, depois de ler o trecho do panfleto, explicando uma ou outra expressão, como pau de arara. "Esta é a descrição da tortura, que acho da maior importância." Estudante de Direito do Largo São Francisco, freqüentava o curso ao lado de outras cinco ou seis estudantes ("éramos virgens") e 200 rapazes. "Sou de uma geração de vanguarda, levamos no peito as primeiras rajadas", diz ela, que se formou em 1941. "Minha mãe era pianista, mas fazia goiabada", fala, em tom levemente irônico, para mais tarde explicar a expressão mulher goiabada."

Getúlio Vargas ("que odiávamos") estava no poder e Ligya cursava o 3º ano da faculdade. Em uma passeata, ela e as outras meninas da classe abriram a manifestação empunhando bandeiras e amordaçadas em sinal de protesto. Getúlio havia proibido que as pessoas falassem em passeatas. "Fizemos lenços pretos e amarramos na boca. Foi a passeata do silêncio em resposta à ordem de Getúlio Vargas. Eu saí na frente, era subversiva. A polícia montada veio atrás e nós continuamos marchando, mudos. De repente, vejo um cara cair ao meu lado, borbulhando sangue. O comércio fechou as portas. Entrei numa leiteria e fiquei sabendo dos colegas feridos e daquele morto."

Nesses tempos, Lygia morava na rua 7 de abril com sua mãe. ("éramos pobres"), que pensou ter perdido a filha nesse episódio, pois o noticiário da TV informava que uma pessoa havia morrido. "Passei tudo isso, tive essa experiência e foi bom para mim escrever esse livro, publicado em 1973 e que levei três anos fazendo." Voltando à história do livro, relata que a polícia não poderia invadir o pensionato e encontrar Ana Clara, que era envolvida com drogas e tudo, morta. "Por isso, Lorena arruma a amiga, faz maquiagem e, junto com Lião, carrega seu corpo até uma pracinha, os bicos dos sapatos deixando sulcos por onde elas passavam. Sentam a amiga em um banco, recostam sua cabeça, e Lorena sai apagando as marcas deixadas na areia."

Enquanto a equipe da peça era embalada pelas histórias, caiu a tempestade lá fora. A diretora Yara de Novaes queria saber sobre a supremacia feminina, notada por ela no livro. Lygia explica que existia a tal mulher goiabada. "Não tinha a mulher que trabalhava. A mais importante revolução do século 20 foi a da mulher, dizia Miguel Reali."

A atriz Tuna Dwek (irmã Priscila, na peça uma freira com uma vida secreta, detesta os padres comunistas) comentou ser Lygia também uma transgressora do seu tempo. "Eu fugi desse negócio de mulher goiabada, mas o preconceito era fortíssimo. Éramos 5, 6 mocinhas na faculdade e hoje as fábricas têm muitas mulheres fazendo muito bem o trabalho dos homens."

De repente, a escritora – membro da Academia Brasileira de Letras - gira seu pensamento em direção a outro assunto: "Uma coisa me intriga, me desagrada no governo atual. É ver dona Marisa, mulher do Lula, que veio de baixo, era faxineira (sem nenhum preconceito, por favor), viajando com o cabeleireiro atrás, arrumando os cachinhos! A mulher vitrine, escrava do costureiro é horrível. Essa servidão em relação à moda é terrível. Uma vez na praia, conversando com Vinicius de Moraes, influenciada por uma amiga, pintei as unhas do pé com esmalte vermelho. O poeta disse que eu não precisava pintar."

Apaixonada por Jesus Cristo, Lygia declarou nunca ter tomado satisfação de seus maridos. Do primeiro, separou-se. O segundo, morreu. Essas cobranças de mulher, ela considera bobagens. O tema da conversa muda novamente: "Por falar em filho, hoje descobri outra notícia: Ronaldo só faz filho", brinca ela, sobre a questão da paternidade de uma possível criança do jogador de futebol. E o papo corria solto, voltava ao livro, às personagens.

"Quando terminei o livro estava em Barra de São João, onde está enterrado Casemiro de Abreu", diz, para logo em seguida recitar os trechos: "ai que saudades que tenho da aurora da minha vida.....da minha infância querida....que os tempos não trazem mais". Ficamos sabendo que Lygia caiu em prantos quando terminou de escrever o livro. Estava se despedindo de suas personagens, disse a contadora de histórias.

"Elas me habitaram por três anos. Hilda Hilst dizia que os personagens voltam. Ela era engraçada, era muito minha amiga." Entre um e outro caso, Clarisse Abujamra liga para Antonio Fagundes e passa o celular para que ela possa dar um alô para a grande diva. "Já no final, sessão tietagem imprescindível nessa ocasião.: todos pedimos autógrafos nos nossos exemplares de As Meninas. Emocionante. Voltei revigorada para a Arteplural.

(Fernanda Teixeira)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Jornalismo e Marketing

Nos primeiros dias da Primavera, o tempo está estranho, chove, faz frio, parece Inverno. Tenho certeza - e a cada dia de uma forma diferente - de que a Internet revolucionou o mundo. Para o bem e para o mal. A mídia impressa preocupa-se muito mais hoje com as vendas. O jornalismo glamurizado morreu. Não é mais o editor de cultura que aprova as pautas. Perdeu essa autonomia. Agora o marketing quer saber o que estará nas páginas do jornal.

O próprio repórter precisa estar antenado nesses assuntos, puxar um pouco a brasa para essa sardinha. Afinal, as pessoas precisam ler notícias fresquinhas, continuar indo à banca comprar jornal e revista, ou mesmo assinando. O departamento comercial dos veículos hoje manda mais que antes porque a competição acirrou-se e é preciso vender. Se a notícia sai antes na internet, pensam eles, ninguém mais lerá no papel. Atualmente, a internet é uma faca afiada apontada na cabeça do publisher. Ela esgota os assuntos. Será?
(Fernanda Teixeira)

Novatos bem-sucedidos

Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em Teatro pela USP/ Livre Docente pela Unicamp


Quem costuma ir ao Espaço dos Satyros, certamente já viu Silvanah Santos em cena e agora poderá ver como encenadora. Sua estréia como diretora dá indícios de que tem jeito para essa atividade. Um aquário e um recepiente com areia branca são suficientes para alguns efeitos mágicos conseguidos também pela atriz Patrícia Vilela que apresenta excelente interpretação corporal.

É um espetáculo de 45 minutos (vapt vupt) apresentando texto de Ivam Cabral (a partir de Virginia Woolf e Marguerite Duras), com o título de “Safo”, que se apresenta às quintas-feiras às 21,30 hs. Tem lá suas qualidades.

Mas o novato mais bem sucedido em cartaz é sem discussão Bertolt Brecht. “Na Selva das Cidades” foi uma de suas primeiras peças, escrita antes de sua conversão ao marxismo e por isso mesmo até desconsiderada pelo autor. É um texto interessante (talvez um pouco longo, mas é difícil cortar o grande mestre do distanciamento) que foi montado em 1969, por ZéCelso no Oficina. De lá pra cá permaneceu nas estantes dos estudiosos e na memória do público da época. Marcelo Marcus Fonseca ousou encená-lo e foi bastante bem sucedido.

A obra parece manter um pequeno pé no século XIX, defendendo que o homem é essencialmente um animal briguento. O que até o momento parece verdadeiro, mostrando que somos realmente descendentes de animais, nos mantendo um tanto selvagens. O diretor inclui entre a selvageria, o descaso com a natureza através de ótimos recursos cênicos. O elenco conta com 14 atores, alguns muito experientes como Wanderley Martins, Liz Reis e o próprio diretor. Outros são inteiramente novatos em cena. São eles: Záira Alves, Sérgio Ricardo (que não é o músico e assina a cenografia com Marcelo), Nader Ghosn e Thiago Molfi.

Está em cartaz no Teatro da Funarte, que ficou muito bonito depois de grande reforma, mas que, por enquanto não tem estacionamento. Mesmo assim, Na Selva tem lotado, principalmente de público jovem.
Vale conferir.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Twitter or not twitter?

Como meu amigo Sergio Roveri, estou adorando o twitter e acabo de descobrir novo uso para ele! Novidades da era tecnológica me interessam, no entanto admito nutrir certo receio em aderir de cara a modernidades desse segmento específico. Prefiro elaborar melhor o pensamento a adotar postura seguidora de tendências logo ao primeiro apelo. Uma pontinha de desconfiança não faz mal a ninguém, não é verdade? E, vamos e venhamos, nada como seguir as intuições. Elas podem nos preservar de aborrecimentos futuros. (Pena que, às vezes, eu me distraia, largue a intuição em casa e me deixe levar só pelo coração.)

Confesso ter resistido quando a amiga Adriana Balsanelli me apresentou a essa ferramenta da Informática. Entre seus argumentos, o de que o twitter é um instrumento importante de trabalho para a Arteplural disseminar informações que podem virar notícias, dependendo do tanto de gente a se interessar por elas. Demorei um pouquinho a me deixar convencer. Até que me rendi a seu poder de fogo. Sem arrependimentos, que hoje eu digo com todas as letras: amo o twitter. O máximo. Entendi uma porção de coisas depois que ele entrou na minha vida – digo, principalmente no meu cotidiano profissional. Admito não ter total domínio de seu uso ainda, mas enxergo suas reais possibilidades.

O flagra

De lá pa cá, procuramos alimentar o twitter da Arteplural sempre que temos coisas importantes, do nosso ponto de vista, é óbvio, para dizer. Nessa onda, tenho aprendido muita coisa, até a seguir gente que registra simples e úteis informações, notícias de shows, eventos culturais em geral ou outras delícias produzidas por espíritos elevados. Esses leio e respeito. Não vou deletar da minha lista, não. Porque é muito bom escolher quem ler quando se está de papo pro ar.

Outra confissão foi a discreta (e divertida sensação) de flagrar a quantidade de gente desocupada ou com compulsão por expor sua vida em detalhes, sem o menor pudor ou constrangimento. Tem um povo engraçado que prefere bisbilhotar a vida alheia e, muitas vezes, vejam só, até os mais ocupados, encontram uma brecha entre uma e outra tarefa profissional durante o expediente, para deixar escapar o incontrolável desejo de emitir uma opinião, fazer um desabafo qualquer ou relatar uma insignificância. Sim, esses seres - dotados de inigualável capacidade e talento para realizar várias atividades simultaneamente.

Diário escancarado

Rapaz, como diriam meus amigos baianos Moisés Santana e Simone Chemmes, tem neguinho usando essa ferramenta como um diário escancarado de suas mais desinteressantes ações cotidianas! Coisa mais bizarra. Veja você exemplos: "Agora vou dormir", "já levantei", "cheguei em casa agora", "to com uma dorzinha de cabeça, assim não me concentro no release", "perseguida por goteiras.... ". Paciência se alguém se ofender. Na roda gigante/ montanha russa desse parque de diversões é irresistível não expressar a lasquinha de ironia ao ler mensagens dessa natureza até de amigos. Coisas que não farão a menor diferença na minha vida – nem na sua que está lendo.

Mas grandes descobertas merecem comemoração. Uma de suas grandes utilidade é a gente poder conhecer um pouquinho melhor as pessoas pelo que elas escrevem. E o meu olhar desconfiado vai para quem fica, como se diz, twitando o dia todo, a cada passo de seu cotidiano.

Mau negócio

Interessante essa nova forma de reality show inventada num tempo louco (e Cazuza já dizia: "o tempo não pára") em que os humanos adoram uma invasãozinha de privacidade. No século 21, quando o mundo é digital e a informação tem uma velocidade estonteante, muita gente ainda não se tocou de que, na hora de contratar, por exemplo, hoje as empresas sabem que quem consegue publicar mais de um texto por dia no twitter pode não ser um bom negócio no final das contas. Santa ignorância, Batman!

O pior é a grande maioria das banalidades escritas, puro lixo. Em todo o caso, como tudo tem dois lados, reforço que também amo o twitter porque o lixo produzido por muitos deles não faz mal nem a peixinhos ou plantinhas. São restos e sobras de pensamentos tortos ou inutilidades de quem tem tempo a desperdiçar – mesmo não tendo, como já disse lá em cima.

Combustível para a alma

Porque é combustível para a alma elaborar o pensamento. Como escutar música, escrever, namorar quem se ama, conversar com um amigo, tomar café com outro, almoçar com a equipe, reconhecer as qualidades de um profissional, aceitar defeitos também. Compartilhar silêncios, tratar bem as pessoas, ser simples e viver tentando ser um pouco melhor.

Fernanda Teixeira)

Teaser da peça O Pelicano



Teaser da peça O Pelicano, de Strindberg, com direção de Denise Weinberg, em cartaz às quartas e quintas às 21h no Teatro Sergio Cardoso. O Pelicano é uma peça de câmara de August Strindberg, datada de 1907, que mostra uma família cujo pai morreu no momento em que o filho descobre uma carta onde ele conta toda a verdade sobre a natureza de sua esposa. Os filhos, revoltados, infelizes, com a vida destruída pela avareza e o egoísmo dessa mãe, fazem uma aliança para se vingarem dessa profunda falta de amor.

(Lígia Azevedo)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Cuidado, Garoto Apaixonado!


por Nanda Rovere

A peça, que fala da descoberta do amor através de uma linguagem moderna, é a primeira direção do escritor Toni Brandão. Cuidado: Garoto Apaixonado é um espetáculo de teatro infanto-juvenil que, numa linguagem simples e direta, como é a do jovem, fala da descoberta do amor entre colegas de escola e valoriza a amizade. Mostra como Tui, um garoto sensível e inteligente, descobre o amor ao se apaixonar pela mesma garota que o seu melhor amigo, Ale.

Como este salvou a sua vida na praia, esse sentimento é sufocado...até uma hora em que ele não aguenta mais a renúncia. Adaptada e dirigida por Toni Brandão, escritor renomado de livros infanto-juvenis e que assina a sua primeira direção teatral, a peça já foi montada por Débora Dubois e recebeu importantes prêmios, como APCA (melhor autor infanto-juvenil pela adaptação para o teatro), Mambembee Coca-Cola. Para Brandão, a única coisa que as duas montagens têm em comum é o texto: “Eu levei dez anos para ter coragem, depois de ver como ficou legal o espetáculo da Débora”, brinca. “A direção da Débora valorizava aspectos diferentes, até porque eu sou menino e ela é menina. Primeiro, foi a versão da mãe e, agora, é a do pai", diz. ¨É uma visão masculina da mesma história, que ressalta mais o humor, a brincadeira, e menos o romantismo. E nenhuma é melhor que outra, é só uma maneira diferente, finaliza”.

Questionado sobre a decisão de tornar-se diretor teatral, declara: ¨Escrever é muito solitário. Dirigir foi uma oportunidade para interagir com as pessoas. Me distanciei do ¨Toni autor¨ e criei com liberdade, diz. O texto trabalha com assuntos que não saem de moda e fazem parte do cotidiano dos estudantes, sem apelar para o óbvio. A reflexão sobre o afeto é o mote da montagem, sem deixar de lado o entretenimento. O cotidiano dos personagens está permeado de referências culturais, levando para o palco o hábito da leitura, a força da palavra e aulas de canto e teatro, que culminam com amontagem de Romeu e Julieta (numa homenagem a Antunes Filho).

“Eu tento mostrar que ir ao coral ou fazer teatro pode ser tão gostoso quanto jogar videogame ou bola. Isso é um desafio enorme, porque o que interessa, hoje, é a capa, não o conteúdo. Mas a ponte que nós fazemos é que, se dermos conteúdo pra garotada, vão tomar aquilo para si e vão gostar, que é exatamente o barato da arte. Vamos mostrar que dá para se divertir com qualidade”, conta o diretor. A montagem prima pela agilidade típica das histórias em quadrinhos e, para dar sustentabilidade ao ritmo das cenas, as ambientações são modificadas através da movimentação de uma pequena estante de quatro faces e da troca de objetos de cena. Elementos de cartoon, de videogame e um muro de escola, com pichações e CDs, merecem destaque.

A trilha é eclética e o figurino ¨descolado¨, com uniformes estilizados. O realismo do dia-a-dia dos adolescentes é quebrado pela presença de Eros, a consciência de Tui que o desperta para a conquista de Camila (a garota disputada pelos amigos). No elenco, Iara Jamra e mais sete jovens atores: Beto Galdino, Daniel Iasi, Beatriz Diaféria, Guilherme Magon, Jessica Drago, Patricia Pantaleão e Alan Ribeiro. Iara Jamra é conhecida pelos seus trabalhos em teatro e TV. Toni Brandão sempre teve vontade de trabalhar com a atriz. ¨Uma intérprete consistente, que a garotada merece conhecer¨, afirma o diretor.A temporada vai até 8 de novembro e o objetivo é agendar o espetáculo para escolas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Frames é Imperdível

Crítica de Maria Lúcia Candeias

Três peças curtas reunidas compõem um retrato surpreendente da vida na cidade de São Paulo na ótica dos jovens como o autor, Franz Keppler, o diretor Flávio Faustinioni e todo o excelente elenco. Não dá pra perceber se os textos foram escritos com ou sem idéia de continuidade, visto que parecem um conjunto perfeitamente integrado, atualíssimo, e vapt vupt como diria Antunes Filho.

Como se isso não bastasse, autor e encenador assinam cenários de uma simplicidade, assim como de beleza e eficiência muito raros, notadamente em obras cujo orçamento não conta com grandes verbas. O mesmo pode ser dito da trilha e iluminação (Faustinioni), e dos figurinos (Camila Raffanti) simplesmente perfeitos.

Some-se ainda a qualidade dos intérpretes, que têm tanta confiança na sua própria eficiência, bem como na dos colegas, que possibilitam que o público distribua os papéis do espetáculo a seu gosto via internet, nas vésperas do dia em que pretendem comparecer ao Instituto Cultural Capobianco. (rua Álvaro de Carvalho, travessa da Martins fontes). São características que fazem de “Frames” senão a melhor, uma das melhores montagens que estão em cartaz.

Não deixe de ver. Não perca.


(Maria Lúcia Candeias -Doutora em teatro pela USP- Livre Docente pela Unicamp)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Genial Autor Inédito em Nosso Teatro

Crítica Maria Lúcia Candeias, especial para o Blog do Dudu

Nascido em 1963, Neil Labut - conhecido por filmes como “A Enfermeira Betty” - indicado para a Palma de Ouro – estréia em nossos palcos pelas mãos talentosas de Antonio Fagundes e Márcio Aurélio. Exatos vinte anos mais moço do que Sam Sheppard com quem tem em comum a genialidade e a competência de se deixar influenciar pelos mitos gregos de Sófocles com sucesso maior do que todos os outros autores modernos, a nosso ver. Não é a toa que outra de suas peças estreará também no Rio esse mês.

Diferentemente das criações de Sheppard, Edward Carr, personagem de “Restos”, um monólogo, não tem raízes em sua cidade, classe social e outros que tais. Os “restos” de sua personalidade são as poucas e singelas lembranças do passado. Sente-se que se trata de um homem em processo, moldado pelas circunstâncias, como de “resto” todos nós. Essa característica o torna mais atual do que Sheppard e até mesmo do que Milton Nascimento quando é “caçador de mim” ou seja de si próprio, em busca de um nexo definitivo.

O enredo é um diálogo com a platéia focando-o numa época em que ficou viúvo. Fagundes, pra variar, está com tudo e não está prosa. A tradução fluente é de Clarice Abujamra. A bela cenografia (disfarça totalmente as colunas do teatro da FAAP) de André Cortez surpreende e encanta o público com pequenos e discretos objetos, iluminados com a perícia do premiado diretor (Márcio Aurélio).
São qualidades que fazem de “Restos” uma montagem inesquecível.
Não perca.

(Maria Lúcia Candeias -Doutora em Teatro pela USP -Livre Docente pela Unicamp)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Membro novo na família


Oi pessoal, acabei de adotar um filhote de Fox Paulistinha. Não deu prá resistir.....e a cara do João Guilherme (meu cão da mesma raça que morreu meses atrás) ...nasceu dia 05/07....meu signo!!! Cheguei a conclusão de que não consigo viver sem um Fox Paulistinha, tô muito feliz!!! Vai chegar na segunda depois do feriado !!! Com hino nacional e tudo........ Ainda não sei o nome....tô chamando de 'MEU CÃO'. Ele é o terceiro da esquerda para a direita. Lindo!!! Beijos, queremos visitas...... A Clara Maria, minha vira-latas, vai adorar!!!

(Roberto Guastaferro)

sábado, 29 de agosto de 2009

Questão

Quem será o marketeiro do Belchior???

(Macida Joachim)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Felino, não reconhecerás!

Liane Rossi, especial para o Blog do Dudu

Inspirada nos últimos posts, e já tendo sido convidada anteriormente pela Fê para escrever no blog, pensei em prestar uma homenagem à Marisa, a gata que despertou em mim o amor pelos animais. Amor que, pra mim, é completamente diferente dos outros amores, e complementar.

Hoje sei o quanto sou melhor depois da convivência com a Zuca (Marisa, Marisinha, Marizuca, Zuca, Zucolina, Schreka, ela atende por todos). Ela é pernóstica, cheia de manias, detesta gente nova, detesta qualquer outro animal, é louca pra poder sair na rua, mas na única vez em que permitimos isso ela se enfiou embaixo do carro e entrou por algum buraco no motor. Saiu constrangida e cheia de graxa.

Tímida e autoritária. Discute comigo o tempo todo. Quer dormir junto, debaixo do edredom e, quando sozinha na cama, deita com a cabeça no travesseiro, quando permite dividir o leito comigo, no meio das minhas pernas pra se aquecer. Agora no frio ela procura ficar, sempre que estou em casa, no colo, enroladinha, e isso me enche o coração de ternura.

Mesmo duvidando da minha sanidade mental, cheguei à conclusão de que ela pensa, porque algumas vezes trama vinganças, e fica dias maquiavelando, até que concretiza e disfarça, como se não fossemos descobrir quem aprontou. Pra ódio e desespero da Marisa, hoje moram em casa também a Panela e o Gorjeta, que foram abandonados pelo vizinho, e que colaboram pra encher a casa de alegria.

A Fernanda é cachorreira. Eu sou gateira, mas acho que ando caminhando pra abraçar as duas causas. Esta semana, no hospital veterinário com o Gorjeta, vi um filhote de Pastor de Shetland no colo do dono que o carregava como um filho e como um troféu, e não pude tirar os olhos do bichinho nem me furtar a, pra grande orgulho do dono, exclamar: Que cachorro lindo! Desde então tenho pensado muito em algum dia mesclar a população felina lá de casa com algum vira lata bagunceiro.
(Liane Rossi)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Beleza, Bolota?


Tenho 8 anos, sou um salsicha arlequim, sabe aquele malhado? Filho do Mané e neto do Chico, cachorros da Lica Keunecke e da Bel Mercadante, amigas da Fê. Já namorei diversas vezes, a Duda e outra que não lembro o nome, e não vivo com meus filhotes, hoje espalhados por aí. A Rosana Rodrigues sabe onde está a Sofia, mas eu nunca vejo. Minha vet acha meu comportamento infantil, ela tem razão, penso eu. Minha dona é responsável por isso porque brinca muito comigo, quando estamos no escritório, em casa ou na mãe dela, que gosto de chamar de vó.

Apesar da idade, ainda tenho vários brinquedos e quando me dá a louca saio em disparada pra ninguém me pegar. Duda, dudica, duds ou "tutuzinho da vovó" são meus apelidos. Muitas vezes esqueço que sou cachorro, trato Pedro (filho do Flávio, irmão da Nanda) como primo e imagino que todos compreendem o que quero quando lato. Lato muito, especialmente quando alguém chega ou vai embora. Nem sei explicar o por quê. Gosto de mostrar a barriga, gemo de prazer quando me agradam e adoro comer – principalmente se for cenoura ou mamão.

Quando estão distraídos, na hora do almoço, aí, sim, aproveito para subir rápida e disfarçadamente na mesa e roubar um pouco de comida do prato da Fê. Já levei muita bronca por causa disso, mas sempre vale a pena. Já experimentei bifinho, arroz com feijão e até frango, que amo! Bebê, furei a camiseta da Gigi quando fingia dormir em seus braços. Tenho duas camas, uma na casa da minha dona e outra na da vovó, onde durmo mesmo é com ela, embaixo do edredom. Fique com uma foto por enquanto.
(Fernanda Teixeira)

Oi Dudu,

Marcia Pinheiro, especial para o Blog do Dudu

Sou Bolota. Nasci em 23 de abril de 2009. Touro, acho. Tenho perebas na pele, que mamãe já está tratando. Ainda não posso te conhecer porque faltam as vacinas. Uma pena. Mamy diz que sou baguncenta. Adoro bagunça. Já tenho cama, cobertor de ursinho e três brinquedos. Mas gosto mesmo é de roer cadarços. Pela primeira vez, ontem dormi sozinha na cozinha. Nem foi tão ruim, porque mamãe às vezes ronca. Foi bem bom, por sinal. Ainda erro xixi e cocô. Muito complicada esta história de jornal. Também minha memória é curta. Quando penso em ir ao jornal, escapou. Sigam-me no twitter. https://www.twitter.com/bolotice
(Marcia Pinheiro)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Atores Consagrados Arrasando

Crítica de Maria Lúcia Candeias

Todo mundo conhece Renato Borghi e Miriam Mehler, que formam um casal super interessante no primeiro texto escrito por Elias Andreato, em cartaz no teatro Vivo, na continuação da avenida Berrini. Se não conhece, está mais que na hora de conhecer também Nilton Bicudo e Olívia Araújo que são os jovens desse elenco pra lá de brilhante de “Mãe é Karma”.

Elias, que além de autor é o diretor, mostra competência para conduzir o elenco.Seu retrato de uma família utiliza formas convencionais de teatro, e talvez por isso mesmo, reúne as condições para agradar um grande público. Parece que alem de ator já conhecido será dramaturgo e diretor de renome. O espetáculo apresenta ótimo cenário (Ulisses Cohn), bons figurinos (também de Elias) e a sempre irretocável iluminação de Wagner Freire. Principalmente devido à fantástica interpretação dos atores, merece ser visto.
É o caso também de “Aurora da Minha Vida”, uma das primeiras peças escritas por Naum Alves de Souza, autor, diretor, cenógrafo e figurinista entre os de primeira linha. O que mais impressiona é a atualidade do assunto (ensino em escolas) e, mais ainda, a modernidade do texto fragmentado, escrito na década de 80. Quem dirige a encenação é Bárbara Bruno que escolheu elenco excelente, com nomes como o de Magali Biff, Rubens Caribé, Eliete Cigarini e mais sete atores impecáveis. A meu ver, o único aspecto discutível fica por conta do excesso de músicas que atrasa a fruição do texto e alonga o espetáculo sem necessidade, independentemente da competência do maestro que assina a direção musical (Amalfi). Mesmo com esse senão recomendaria essa ótima montagem que está em cartaz no SESC Santana.
Maria Lúcia Candeias - Doutora em Teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Nariz comprido ou perna curta?

Mentira tem perna curta ou nariz comprido? A questão veio à tona a propósito da estreia do espetáculo infantil Pinóquio, sobre o popular boneco de madeira que ganha vida após uma série de percalços, e cujo nariz cresce à medida que mente. Fantasiando sobre o tema, penso ser uma pena que o nariz não cresça nem as pernas diminuam, senão, pode crer, a gente ia flagrar muito baixinho/a narigudo circulando pelas ruas. Viveríamos num mundo esquisito, quem sabe mais justo.

Mentira ou verdade? Muitas vezes, a pergunta fica sem resposta. A importância de saber quem está falando a verdade ou quem tem razão, em determinada situação, pode mostrar, por exemplo, se determinado fulano ou fulana é chegado ao péssimo hábito da conversa fiada ou balela. E mentira é chato, vamos combinar? Tem a ver com caráter.

Quem já não se chateou por causa de uma? Na medida em que uma pessoa mente, a confiança nela depositada diminui. Quem já não deixou de confiar em alguém depois de descobrir ser o cara o maior 171? Fora que gera insegurança conviver com gente mentirosa. Você entregaria sua casa para uma faxineira mentirosa? No começo, se ela fica sozinha em casa, você presume que ela faça as tarefas. Não dura muito tempo até descobrir a camada de pó em cima da estante ou mesmo da TV da sala. Isso sem falar na geladeira, objeto, para elas, nascido grudado com super bonder no chão, tal a falta de atitude em arrastar para limpar embaixo.

Você, leitor, deixaria seus filhos aos cuidados de uma babá que não cultiva o hábito de faltar com a verdade? Imagine, não dá! 0 o cachorro você teria segurança de deixar ir passear com ela! Confiaria num sujeito que pede dinheiro emprestado com a desculpa de pagar a doença da mãe moribunda e depois nunca mais ver a cor dessa grana? Se for amigo, é da onça. E num chefe que promete um aumento sem nunca dá-lo? Ou no funcionário que mata a tia para faltar às segundas? Sem falar no político que troca voto por promessa de casa e, quando eleito, não cumpre? Tem, ainda, pastor que arranca o dinheiro suado do povo em troca do milagre e enriquece às custas da crença e da ilusão dos fiéis.

Nas coisas do coração, então, nem se fala. Será que alguém no mundo escolhe um companheiro/companheira chegado num papo furado? Não dá para fazer planos com um bofe ou uma gata com esses "talentos" duvidosos. Tem que ter cuidado na hora de escolher. Tudo na vida. Até em quem vai governar o País. Pode crer.

(Fernanda Teixeira)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Os cachorreiros

Pessoas que têm ou gostam de bicho, cachorro de preferência, os cachorreiros, possuem características peculiares. Aos olhos de alguns são esquisitos, gente estranha que chega a dormir com seu animal de estimação. Engraçado, já vi gente que condenava essa prática e hoje não vai para a cama sem seu pet. O fato é que esse povo carrega consigo doses generosas de humanidade (escrevo sem querer ser cabotina, óbvio, lembrando que São Francisco de Assis, protetor dos animais, é o maior exemplo de todos. Foi uma criatura de paz e de bem, terno e amoroso. Amava os animais, as plantas e toda a natureza.

Essas idéias passeavam pela cabeça ontem, vindo para casa a pé, depois de saltar do táxi no meio do engarrafamento, na esquina das ruas Augusta e Estados Unidos. Achei melhor gastar a sola do sapato e deixar o Dudu caminhar a enfrentar as buzinas dentro do carro. No caminho, passei por várias pessoas com seus cachorros na coleira. Um sorriso aqui, outro ali, os bichos se cumprimentando com seu jeito característico de cheirar focinho e rabo. E os donos, bem os donos, arrumando assunto para enrolar nessas paradinhas

Especificamente falando, não sei qual palavra define melhor a atração que os donos de daschunds ou teckels, raça de cachorro popularmente conhecida como salsicha (celebrizado pelo anúncio dos amortecedores da Cofap), têm pela raça. Estranho fascínio, encantamento? O fato é que já fui parada várias vezes no trajeto por pessoas que faziam questão de agradar o Dudu, dar uma passadinha de mão, fazer algum comentário irresistível e logo informar "tenho um igual".

Depois de optar por atravessar o mar de carros sentindo o vento frio bater no rosto, estava descendo a avenida Rebouças quando percebi um Fusca trafegando no mesmo ritmo que eu e Dudu. Um barulho infernal de motores e buzinas estridentes de motos (quem disse que eles podem andar entre as faixas com o dedo apertando esse botão para acionar essa espécie de sirene e informar "sai para lá, carro, estou passando, nem tente mudar de faixa que vamos em cima!").

Até que entramos na Capitão Prudente e o carro também virou à direita. Paramos para Dudu carimbar mais uma árvore com xixi, antes de entrar em casa. Nessa altura, o motorista do mesmo Fusca, já quase parando, me chama. O carona põe a cabeça para fora e, olhar de "ah, que belezinha", dispara: "Eles são uns amores, não é? Tão inteligentes e companheiros! Tenho uma fêmea em casa. Adoro essa raça, ela dorme comigo". Tenho a sensação de que jamais sentirei solidão nesse mundo enquanto houver um dono de cachorro, especialmente se for salsicha.

(Fernanda Teixeira)