Este foi um fim de semana com pensamentos viajando pelo teatro. Sexta teve a estreia em São Paulo de Macbeth, na direção do Aderbal Freire-Filho, com Daniel Dantas e Renata Sorrah à frente do elenco.Eu que não perco as peças do Aderbal por nada, não podia deixar de ver este Shakespeare, depois dele me tirar de órbita com seu Hamlet, protagonizado por Wagner Moura. Gostei bastante da montagem, que conversa bastante com os tempos atuais, como ele disse na entrevista coletiva na semana passada. Confesso que esperava ver “baixar” a Nazareth Tedesco, da novela Senhora do Destino, na Renata Sorrah.
Depois me lembrei que Shakespeare é sutil, que seus personagens não são maniqueístas, que em cada um deles o bem e o mal estão intrínsecos. Como na vida real, ninguém é totalmente mal, nem totalmente bom, em Shakespeare. A montagem do Aderbal é sutil, como a peça parece pedir, este texto atemporal, universal, em que os personagens se mostram contraditórios, heróis e miseráveis ao mesmo tempo, como nós somos no dia a dia. Palmas para o Aderbal e sua trupe. Que a sala do Sesc Pinheiros lote até o fim da temporada.
No sábado, também tinha programado visita ao teatro. Não assistiria a uma peça, propriamente. Ia ao Satyros para o lançado do livro comemorativo dos 20 anos da companhia, que é um dos meus xodós na cidade.De repente recebo uma mensagenzinha do Ivam Cabral, via twitter, de que o lançamento fora adiado. Motivo: o amigo e ex-colega de Jornal da Tarde Alberto Guzik nos deixava. Guzik, grande Guzik, meu colega de mesa no JT, que, no começo, me deixava com um certo mal-estar. De repente ele foi se abrindo, até que me deu os originais do seu livro “O que é ser rio e correr” para ler.
Guzik que me iniciou na arte de assistir a uma peça, me ensinou a observar uma obra de arte e que me apresentou um dos escritores prediletos, o francês Patrick Mondiano, do qual li tudo. “Toma este livro pra você, vá ler este cara”, ele me disse, em 2000, na redação do JT. O livro era “Do Mais Longo do Esquecimento”, que guardo com carinho, um volume que já reli três vezes.Eu era completamente cru no jornalismo cultural e o Guzik me ajudou muito nos meus gostos. Como éramos vizinhos, todas as tardes ele me dava carona com seu taxi, e ali falava do teatro, com brilho nos olhos, reclamava da falta de espaço, nos jornais, para a crítica ou a reportagem teatral, e que também falava de assuntos triviais, como os pasteis da feira da rua Mato Grosso... aqui pertinho da nossa casa.
Deixei o JT um dia e perdi o contato com o Guzik, até que o encontrei feliz e saltitante pelas ruas do bairro. Ele deixara a crítica e voltara aos palcos. Como continuamos vizinhos até o fim, passei a ver o Guzik quase que diariamente, pois minha casa é caminho entre a sua e o Shopping Frei Caneca, onde ele foi professor na escola de teatro do Wolf Maya. Vez ou outra nos encontrávamos nos intervalos de suas aulas, sempre por acaso. Sentávamos no café do Cine Arteplex e ele me recomendava um filme ou outro, falava de um romance que vinha escrevendo nos últimos tempos, da sua paixão pelos Satyros, até que um dia sumiu. Então soube que ele fora internado, para nunca mais voltar, sem ao menos tempo de se despedir com um cafezinho no Arteplex.
Hoje, teve mais teatro. Fui ver a peça “A Última Quimera” (foto), uma montagem provocativa e sedutora do grupo Les Commediens Tropicales, da qual meu amigo Weber Fonseca é ator-fundador. O texto tem inspiração no romance homônimo de Ana Miranda e opõe a figura outsider de Augusto dos Anjos (I884-I9I4) – poeta incompreendido em seu tempo, miserável, que, após sua morte, tornou-se um dos maiores poetas brasileiros, com dezenas de edições do seu único livro: Eu – a Olavo Bilac, o príncipe dos poetas, um homem de prestígio, que hoje em dia foi relegado ao ostracismo.Por que algumas pessoas dão certo? O que é dar certo? Estes são a chave da peça e o tema me pegou logo que li o programa. Mas a montagem me seduziu não só pelo script.
Os comediantes tropicais têm um estilo de teatro que adoro, transformam o espaço cênico numa grande baderna, e fazem com que a horinha que a gente está dentro da sala de espetáculos se torne uma grande cerimônia.A Cia. Les Commediens Tropicales apresenta, entre junho e outubro, em diferentes espaços teatrais de São Paulo - sempre com entrada gratuita - seus quatro espetáculos em repertório: O Pato Selvagem, de Henrik Ibsen; 2º d.pedro 2º; A Última Quimera e Chalaça, a peça. Hoje aconteceu a ultima apresentação de A Última Quimera, mas no dia 3 de julho o publico pode acompanhar 2º d.pedro 2º, no Espaço Sobrevento
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