terça-feira, 29 de junho de 2010

Presente de Alê Staut para o blog

Este foi um fim de semana com pensamentos viajando pelo teatro. Sexta teve a estreia em São Paulo de Macbeth, na direção do Aderbal Freire-Filho, com Daniel Dantas e Renata Sorrah à frente do elenco.Eu que não perco as peças do Aderbal por nada, não podia deixar de ver este Shakespeare, depois dele me tirar de órbita com seu Hamlet, protagonizado por Wagner Moura. Gostei bastante da montagem, que conversa bastante com os tempos atuais, como ele disse na entrevista coletiva na semana passada. Confesso que esperava ver “baixar” a Nazareth Tedesco, da novela Senhora do Destino, na Renata Sorrah.
Depois me lembrei que Shakespeare é sutil, que seus personagens não são maniqueístas, que em cada um deles o bem e o mal estão intrínsecos. Como na vida real, ninguém é totalmente mal, nem totalmente bom, em Shakespeare. A montagem do Aderbal é sutil, como a peça parece pedir, este texto atemporal, universal, em que os personagens se mostram contraditórios, heróis e miseráveis ao mesmo tempo, como nós somos no dia a dia. Palmas para o Aderbal e sua trupe. Que a sala do Sesc Pinheiros lote até o fim da temporada.
No sábado, também tinha programado visita ao teatro. Não assistiria a uma peça, propriamente. Ia ao Satyros para o lançado do livro comemorativo dos 20 anos da companhia, que é um dos meus xodós na cidade.De repente recebo uma mensagenzinha do Ivam Cabral, via twitter, de que o lançamento fora adiado. Motivo: o amigo e ex-colega de Jornal da Tarde Alberto Guzik nos deixava. Guzik, grande Guzik, meu colega de mesa no JT, que, no começo, me deixava com um certo mal-estar. De repente ele foi se abrindo, até que me deu os originais do seu livro “O que é ser rio e correr” para ler.
Guzik que me iniciou na arte de assistir a uma peça, me ensinou a observar uma obra de arte e que me apresentou um dos escritores prediletos, o francês Patrick Mondiano, do qual li tudo. “Toma este livro pra você, vá ler este cara”, ele me disse, em 2000, na redação do JT. O livro era “Do Mais Longo do Esquecimento”, que guardo com carinho, um volume que já reli três vezes.Eu era completamente cru no jornalismo cultural e o Guzik me ajudou muito nos meus gostos. Como éramos vizinhos, todas as tardes ele me dava carona com seu taxi, e ali falava do teatro, com brilho nos olhos, reclamava da falta de espaço, nos jornais, para a crítica ou a reportagem teatral, e que também falava de assuntos triviais, como os pasteis da feira da rua Mato Grosso... aqui pertinho da nossa casa.
Deixei o JT um dia e perdi o contato com o Guzik, até que o encontrei feliz e saltitante pelas ruas do bairro. Ele deixara a crítica e voltara aos palcos. Como continuamos vizinhos até o fim, passei a ver o Guzik quase que diariamente, pois minha casa é caminho entre a sua e o Shopping Frei Caneca, onde ele foi professor na escola de teatro do Wolf Maya. Vez ou outra nos encontrávamos nos intervalos de suas aulas, sempre por acaso. Sentávamos no café do Cine Arteplex e ele me recomendava um filme ou outro, falava de um romance que vinha escrevendo nos últimos tempos, da sua paixão pelos Satyros, até que um dia sumiu. Então soube que ele fora internado, para nunca mais voltar, sem ao menos tempo de se despedir com um cafezinho no Arteplex.
Hoje, teve mais teatro. Fui ver a peça “A Última Quimera” (foto), uma montagem provocativa e sedutora do grupo Les Commediens Tropicales, da qual meu amigo Weber Fonseca é ator-fundador. O texto tem inspiração no romance homônimo de Ana Miranda e opõe a figura outsider de Augusto dos Anjos (I884-I9I4) – poeta incompreendido em seu tempo, miserável, que, após sua morte, tornou-se um dos maiores poetas brasileiros, com dezenas de edições do seu único livro: Eu – a Olavo Bilac, o príncipe dos poetas, um homem de prestígio, que hoje em dia foi relegado ao ostracismo.Por que algumas pessoas dão certo? O que é dar certo? Estes são a chave da peça e o tema me pegou logo que li o programa. Mas a montagem me seduziu não só pelo script.
Os comediantes tropicais têm um estilo de teatro que adoro, transformam o espaço cênico numa grande baderna, e fazem com que a horinha que a gente está dentro da sala de espetáculos se torne uma grande cerimônia.A Cia. Les Commediens Tropicales apresenta, entre junho e outubro, em diferentes espaços teatrais de São Paulo - sempre com entrada gratuita - seus quatro espetáculos em repertório: O Pato Selvagem, de Henrik Ibsen; 2º d.pedro 2º; A Última Quimera e Chalaça, a peça. Hoje aconteceu a ultima apresentação de A Última Quimera, mas no dia 3 de julho o publico pode acompanhar 2º d.pedro 2º, no Espaço Sobrevento

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Meu adeus a Guzik

Vi Alberto Guzik pela primeira vez na redação do Jornal da Tarde. Frila fixo, tinha acabado de sair da Folha da Tarde e fui muito bem acolhida por Edison Paes de Mello na redação mais gostosa que já trabalhei. Não era mais foca, entretanto ainda muito tímida, me sentia uma menina no meio de tanta gente tarimbada no jornalismo.
Edmar Pereira, Celso Fonseca, Rubens Ewald Filho, Sergio Roveri, Carlos Hee e Cesar Giobbi eram repórteres. Para mim, todos especiais. Renato Delmanto sentava-se ao lado de Edison, secretariados por Adriana Bifulco. Óculos de aro redondinho, Guzik dedicava-se a críticas e matérias. Já era fera. Tempos depois, fomos jantar no La Tartine, só nós dois, ele morava em frente do restaurante, na rua Fernando de Albuquerque.
O encontro foi uma delícia e nos aproximou mais um pouco. Frequentando os mesmo teatros da cidade, sempre nos víamos. De longe e de perto, acompanhei sua carreira nos palcos e suas palavras no blog e nos livros. Um dia parei de encontrá-lo. Na internet, ele informava da operação em fevereiro. Foi assim, devagarinho que ele desapareceu. Fica bem aí, amigo!
(Fernanda Teixeira)

Alberto Guzik e seu legado


Por Maria Lúcia Candeias

Conheci Alberto Guzik quando, de volta dos Estados Unidos, onde fez curso de teatro, nos deu aula de Crítica Teatral na ECA. Éramos da segunda turma daquela escola, tendo prestado vestibular no ano de 1968. Foram explanações muito interessantes sobre o teatro e a crítica americanos. Um professor que regulava de idade com muitos dos alunos, o que tornava suas aulas mais próximas e divertidas. Naquela época também foram seus alunos, entre outros, Mariângela Alves Lima e José Possi. Posteriormente, tivemos aulas com o Sábato Magaldi que, ao invés de aulas teóricas, nos mandava criticar peças em cartaz, método que sempre usei quando lecionei crítica e que era bem menos agradável do que aulas do futuro grande crítico do Jornal da Tarde.

Seu mestrado sobre o TBC é um trabalho que tem o reconhecimento de todos os que conhecem o período dos anos 50 e costuma ser consultado pelos alunos. Suas críticas durante do tempo do JT e Estadão, deveriam ser editadas para ficarem à disposição daqueles que pretendem conhecer o teatro posterior, sem se basear apenas nos mais que consagrados Décio Almeida Prado e Sábato. Ainda mais que ambos deixaram de escrever em jornais acompanhando as temporadas. Primeiro o Décio, no início dos anos 60, e depois o próprio Sábato, a quem Guzik substituiu com brilho.

Me lembro de ter sido dirigida por Alberto – ainda na graduação – numa peça chamada “Marcelo e Marcela”, eu é claro, era do coro. Depois de deixar a mídia impressa, Guzik se dedicou de maneira mais constante à atuação, integrando os grupo dos Satyros e também à direção teatral. Falta mencionar seu legado como autor, que não é pouco. São peças extremamente bem escritas entre as quais destacaria “Um Deus Cruel” e nos brindou com um romance que depois adaptou para o palco “Risco de Vida”.

Creio dever a ele e a Aimar Labaki (então crítico da Folha) minha indicação para integrar a comissão do prêmio Shell de teatro, onde estivemos muitos anos juntos e nem sempre concordando com as indicações, como só acontece a todos que votam em premiações bem como nos que se candidatam aos incentivos do tipo Fomento e Proac.

Guzik foi uma pessoa íntegra, sincera e competente em todas as atividades que exerceu, Sua morte foi uma grande perda para nosso querido teatro.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Cara de um, focinho de outro



É a Sofia, filha mais nova do Dudu, se esbaldando na praia.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Ufa!

Que bom que o jogo terminou logo. No final da partida, o time da Coréia do Norte resolveu atacar, estimulado pelo seu primeiro gol. Em um balanço da partida, o Brasil demorou para engatar e fez o torcedor sofrer. E por que Dunga tirou Elano depois do gol? Tudo bem que colocou Daniel Alves, mas o fato é que a seleção precisa jogar no ataque e não ficar nesse lenga-lenga de tirar a paciência de qualquer mortal. Alô, alô, Dunga, vamos jogar para a frente!
(Fernanda Teixeira)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Capobianco e Sinisterra inspiram Georgette Fadel


Uma sopa e um copo de vinho estimularam nossos corações e mentes para encarar o Inverno fora de época nesse começo de junho.

Na gélida noite de ontem, terça, dia 8, o parco público que enfrentou o trânsito e o frio para ir até o Instituto Cultural Capobianco - na abertura da primeira mostra de teatro para comemorar os 70 anos do dramaturgo, diretor, pesquisador e professor espanhol José Sanchis Sinisterra – saiu de lá revigorado.

A ausência não explicada de Fernando Peixoto, que comandaria o bate papo depois da leitura dramatizada de Nhaque ou Sobre Piolhos e Atores, foi suprida por uma palestra interessantíssima de Georgette Fadel, da Cia São Jorge de Variedades.

Aos 36 anos, a jovem diretora deixou a platéia entretida em sua conversa gostosa, decorrente de pensamento elaborado. Discorreu sobre Memória, tema da palestra, nome da sala (Teatro da Memória, dirigido hoje por Fernanda Capobianco, sob os olhos atentos de dr. Júlio Capobianco, seu avô, e que nos anos 20 sediou a fábrica de ladrilhos de seu bisavô, Remo Capobianco) e assunto de pesquisa do próprio Sinisterra.

Para falar de memória, passado, Georgette encontrou ganchos no presente e no futuro. Comentou o hábito de nos referirmos com nostalgia romântica aos anos que não voltam mais, "quando tudo era melhor", "puxa, antigamente a gente andava sossegado.....".

Disse que o passado é a história de cada um, de cada povo, nação, que ele constrói conhecimento, a memória da humanidade/universo. E o presente resulta dele, nos prepara para novos passos. Tocou na velocidade desse século 21, na "necessidade" imposta (goela abaixo) a todos pela ditadura da eterna juventude. A "ordem" de apagarmos as marcas do passado, riscos, rugas dos nossos rostos.

No final, agradecemos a Baco por te nos encorajado a sair de casa e sorver tão fascinantes idéias.
(Fernanda Teixeira)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Os argentinos dão pano pra manga


Argentinos são dramáticos - tudo a ver o tango tem nascido lá. Na direção de táxis, guiam como loucos. Escandalosos buzinam sem se importar se já é meia noite, tirando fina de ciclistas. Emburrados, insistem em dizer que não ligam mais para futebol. Você pergunta se eles estão confiantes, se gostaram da escalação da seleção de Maradona, eles ficam calados, fazem aquele silêncio para dramatizar o momento, depois dizem não gostar mais de futebol porque a situação econômica do País está ruim, blá blá, blá.

Mal informados e com pose de engajados politicamente, acham Lula o máximo pelo fato dele ter sido sindicalista. É a única informação que têm sobre nosso presidente. A Messi, mal-humorados, dedicam o seu desprezo pelo jogador há anos defender as cores de time europeu, o Barcelona. Daí você chega no hotel moderninho - daqueles denominados boutique, não sei o porque, com a parede do quarto pintada de preto, horrível, o hall mais parecendo uma boate -, liga a TV e só passa programa de futebol. Muda de canal e tome futebol! E os caras não dão o braço a torcer.

Espertinhos, costumam passar notas falsas – até no aeroporto nos dão essa informação - , por isso é bom andar com pesos de pequeno valor, que o táxi é baratinho lá. E como a moeda deles está bem desvalorizada, é o paraíso para brasileiros fazerem compras em Buenos Aires, mresmo com motoristas chatos. Tem táxi que não leva quatro pessoas. Sorte a nossa que apenas uma vez ficamos na mão por esse motivo. Situação saia justa foi uma só, na chegada e na saída de uma hora e meia de passeio por Puerto Madero, à noite. Mas isso eu conto em outra oportunidade. Hospedados na Recoleta, andamos a pé até o Centro e passeamos pela Galeria Pacífico, um dos lugares ainda não degradados do Centro da cidade.

Para ir até Palermo - o bairro mais descolado da cidade, com uma arquitetura bem charmosa, reunindo lojinhas, cafés e estúdios de artistas transados -, o jeito é pegar táxi mesmo. Sem problemas. Além de nos distrairmos bastante nessa curta viagem de quarta a domingo, passeando por uma Buenos Aires que continua linda e convidativa, aproveitamos para nos divertir a cada táxi que pegávamos. Assim, lavamos a alma, rimos muito da cara deles. De quebra, tomamos muito vinho, visitamos museus e o cemitério, compramos, sentamos em fofíssimos cafés para filosofar e ainda tivemos fôlego para namorar.

Obs – Uma graça os passeadores de cachorros, sempre às voltas com pelo menos seis bichinhos de raças e tamanhos diferentes.
(Fernanda Teixeira)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Nara tem tudo a ver com Nara Leão

Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp

Em primeiro lugar é uma peça musical que homenageia a musa da Bossa Nova. Foi escrita por Márcio Araújo e Fernanda Couto (que também interpreta a protagonista). Totalmente baseada em dados da vida da cantora, consegue ser tão gentil e delicada como ela foi e apresentar alguns de seus maiores sucessos.

Fernanda além de cantar de forma muito semelhante a da personagem, apresenta o tempo todo gestual delicado e, aparentemente tímido como o dela, com feminilidade igual. Todas essas são características que mostram porque ela foi considerada a musa do movimento. Pra quem não sabe ou não se lembra, a bossa nova se insurgiu contra o excesso de melodrama que caracterizava os samba-canções e suas letras na época antecedente, o batuque talvez um tanto desenfreado dos sambões do período e o vozeirão dos cantores que acentuava o exagero das emoções retratadas.

Nara, assim como João Gilberto, era bossa nova no jeito de cantar e agir, mesmo longe dos microfones. É claro que a turma que ficou apelidada de velha guarda não gostou a princípio. Quem viveu aquele momento deve lembrar da antipatia inicial até de um músico brilhante como Ary Barroso, por aquela geração cantando tão mansinho e mais mexendo os olhos e o rosto do que requebrando.

O autor da “Aquarela do Brasil”,cansou de ironizar esses então jovens “com voz de apartamento” no programa de TV que comandava na época. A ponto de Carlos Lyra compor uma música querendo se livrar de “Influência do Jazz”. Pois Nara, de aparência tímida como a bossa começou a gravar justamente os sambas de Zé Ketty e Nelson Cavaquinho, com a mesma aparente inconsciência e delicadeza que sempre foi sua marca registrada e a de João Gilberto.

Posteriormente enturmou com a jovem guarda e sua geração não a acompanhou. O espetáculo apresenta tudo isso e muito mais graças à maravilhosa atriz/cantora e aos três músicos impecáveis e talentosos: Rogério Romera, Silvio Venosa e Rodrigo Sanches.

Isso sem citar a eficiente direção de Márcio Araújo (também autor já citado) do como sempre ótimo diretor musical de Pedro Paulo Bogossian, Vale mencionar ainda os figurinos de Cássio Brasil e a cenografia de Valdy Lopes tudo muito discreto e de bom gosto, como o da protagonista e da bossa em si.

Todo mundo que foi ver gostou muito, ou como eu, amou. Destaco como um único senão, o fato de não citarem o nome do Sivuca durante o espetáculo. Foi ele que compôs a melodia de “João e Maria”. O saudoso Sivuca além exímio sanfoneiro, era uma pessoa de uma alegria e de um humor inigualáveis. Duvido que Chico Buarque tivesse escrito “agora eu era herói e meu cavalo só falava inglês”, não fosse em parceria com Sivuca, o grande brincalhão.