Pessoas que têm ou gostam de bicho, cachorro de preferência, os cachorreiros, possuem características peculiares. Aos olhos de alguns são esquisitos, gente estranha que chega a dormir com seu animal de estimação. Engraçado, já vi gente que condenava essa prática e hoje não vai para a cama sem seu pet. O fato é que esse povo carrega consigo doses generosas de humanidade (escrevo sem querer ser cabotina, óbvio, lembrando que São Francisco de Assis, protetor dos animais, é o maior exemplo de todos. Foi uma criatura de paz e de bem, terno e amoroso. Amava os animais, as plantas e toda a natureza.
Essas idéias passeavam pela cabeça ontem, vindo para casa a pé, depois de saltar do táxi no meio do engarrafamento, na esquina das ruas Augusta e Estados Unidos. Achei melhor gastar a sola do sapato e deixar o Dudu caminhar a enfrentar as buzinas dentro do carro. No caminho, passei por várias pessoas com seus cachorros na coleira. Um sorriso aqui, outro ali, os bichos se cumprimentando com seu jeito característico de cheirar focinho e rabo. E os donos, bem os donos, arrumando assunto para enrolar nessas paradinhas
Especificamente falando, não sei qual palavra define melhor a atração que os donos de daschunds ou teckels, raça de cachorro popularmente conhecida como salsicha (celebrizado pelo anúncio dos amortecedores da Cofap), têm pela raça. Estranho fascínio, encantamento? O fato é que já fui parada várias vezes no trajeto por pessoas que faziam questão de agradar o Dudu, dar uma passadinha de mão, fazer algum comentário irresistível e logo informar "tenho um igual".
Depois de optar por atravessar o mar de carros sentindo o vento frio bater no rosto, estava descendo a avenida Rebouças quando percebi um Fusca trafegando no mesmo ritmo que eu e Dudu. Um barulho infernal de motores e buzinas estridentes de motos (quem disse que eles podem andar entre as faixas com o dedo apertando esse botão para acionar essa espécie de sirene e informar "sai para lá, carro, estou passando, nem tente mudar de faixa que vamos em cima!").
Até que entramos na Capitão Prudente e o carro também virou à direita. Paramos para Dudu carimbar mais uma árvore com xixi, antes de entrar em casa. Nessa altura, o motorista do mesmo Fusca, já quase parando, me chama. O carona põe a cabeça para fora e, olhar de "ah, que belezinha", dispara: "Eles são uns amores, não é? Tão inteligentes e companheiros! Tenho uma fêmea em casa. Adoro essa raça, ela dorme comigo". Tenho a sensação de que jamais sentirei solidão nesse mundo enquanto houver um dono de cachorro, especialmente se for salsicha.
(Fernanda Teixeira)
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