Histórias engraçadas lavaram a alma agora à noite. Leveza do ser. Quase a felicidade. Nestes momentos gosto mais das peças espetaculares de Ariano Suassuna que dos textos trágicos de Nelson Rodrigues. É quando prefiro me sentir diferente a correr atrás do igual - como há tempos. O particular tem um gosto bem mais interessante que o universal. Este é o meu segredo hoje. Boa noite, que os anjos da guarda estejam por perto dos amigos que estão sofrendo.
Foi uma alegria quando Nice trouxe o Dudu para me visitar hoje à tarde. Eu não esperava, sinto saudades quando ele dorme na casa da minha mãe. Antes deles chegarem, comi as unhas, tomei café, li jornais velhos, fiquei deitada, tive aula de inglês no quarto. São muito proveitosos esses encontros, o inglês me deixa mais descontraída e espontânea. A professora é grande amiga. A tontura durou horas, só melhorou à noite.
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Madrugada de cão. Ninguém dormiu em casa hoje. Perdi o número de vezes que levantei passando mal. Tropecei no escuro, bati a cabeça na parede, escorrei no banheiro. Quanto mais tento ser silenciosa, a maçaneta da porta range, a cama faz barulho, a mão resvala no criado-mudo, o despertador cai no chão.
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Tenho uma amiga espirituosa, de humor refinado e aguçado, o que faz dos momentos que estamos juntas ainda mais deliciosos. Na saída para a estreia, as duas arrumadas, perfumdas, não resisti ao comentário do pretinho básico que vestíamos. "Pretinho trágico", emendou, rindo. E não era o prenúncio de uma noite bem difícil no teatro!
E o melhor é que as tiradas são espontâneas, naturais, de um ser otimista por natureza. "Eu sou homossexual não praticante e você é hétero não praticante", provocou ela outro dia, com fina ironia, debochando da amiga e dela mesma, ambas sem sem namorado há tempos. (Fernanda Teixeira)
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