sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Jornalismo e Marketing

Nos primeiros dias da Primavera, o tempo está estranho, chove, faz frio, parece Inverno. Tenho certeza - e a cada dia de uma forma diferente - de que a Internet revolucionou o mundo. Para o bem e para o mal. A mídia impressa preocupa-se muito mais hoje com as vendas. O jornalismo glamurizado morreu. Não é mais o editor de cultura que aprova as pautas. Perdeu essa autonomia. Agora o marketing quer saber o que estará nas páginas do jornal.

O próprio repórter precisa estar antenado nesses assuntos, puxar um pouco a brasa para essa sardinha. Afinal, as pessoas precisam ler notícias fresquinhas, continuar indo à banca comprar jornal e revista, ou mesmo assinando. O departamento comercial dos veículos hoje manda mais que antes porque a competição acirrou-se e é preciso vender. Se a notícia sai antes na internet, pensam eles, ninguém mais lerá no papel. Atualmente, a internet é uma faca afiada apontada na cabeça do publisher. Ela esgota os assuntos. Será?
(Fernanda Teixeira)

Novatos bem-sucedidos

Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em Teatro pela USP/ Livre Docente pela Unicamp


Quem costuma ir ao Espaço dos Satyros, certamente já viu Silvanah Santos em cena e agora poderá ver como encenadora. Sua estréia como diretora dá indícios de que tem jeito para essa atividade. Um aquário e um recepiente com areia branca são suficientes para alguns efeitos mágicos conseguidos também pela atriz Patrícia Vilela que apresenta excelente interpretação corporal.

É um espetáculo de 45 minutos (vapt vupt) apresentando texto de Ivam Cabral (a partir de Virginia Woolf e Marguerite Duras), com o título de “Safo”, que se apresenta às quintas-feiras às 21,30 hs. Tem lá suas qualidades.

Mas o novato mais bem sucedido em cartaz é sem discussão Bertolt Brecht. “Na Selva das Cidades” foi uma de suas primeiras peças, escrita antes de sua conversão ao marxismo e por isso mesmo até desconsiderada pelo autor. É um texto interessante (talvez um pouco longo, mas é difícil cortar o grande mestre do distanciamento) que foi montado em 1969, por ZéCelso no Oficina. De lá pra cá permaneceu nas estantes dos estudiosos e na memória do público da época. Marcelo Marcus Fonseca ousou encená-lo e foi bastante bem sucedido.

A obra parece manter um pequeno pé no século XIX, defendendo que o homem é essencialmente um animal briguento. O que até o momento parece verdadeiro, mostrando que somos realmente descendentes de animais, nos mantendo um tanto selvagens. O diretor inclui entre a selvageria, o descaso com a natureza através de ótimos recursos cênicos. O elenco conta com 14 atores, alguns muito experientes como Wanderley Martins, Liz Reis e o próprio diretor. Outros são inteiramente novatos em cena. São eles: Záira Alves, Sérgio Ricardo (que não é o músico e assina a cenografia com Marcelo), Nader Ghosn e Thiago Molfi.

Está em cartaz no Teatro da Funarte, que ficou muito bonito depois de grande reforma, mas que, por enquanto não tem estacionamento. Mesmo assim, Na Selva tem lotado, principalmente de público jovem.
Vale conferir.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Twitter or not twitter?

Como meu amigo Sergio Roveri, estou adorando o twitter e acabo de descobrir novo uso para ele! Novidades da era tecnológica me interessam, no entanto admito nutrir certo receio em aderir de cara a modernidades desse segmento específico. Prefiro elaborar melhor o pensamento a adotar postura seguidora de tendências logo ao primeiro apelo. Uma pontinha de desconfiança não faz mal a ninguém, não é verdade? E, vamos e venhamos, nada como seguir as intuições. Elas podem nos preservar de aborrecimentos futuros. (Pena que, às vezes, eu me distraia, largue a intuição em casa e me deixe levar só pelo coração.)

Confesso ter resistido quando a amiga Adriana Balsanelli me apresentou a essa ferramenta da Informática. Entre seus argumentos, o de que o twitter é um instrumento importante de trabalho para a Arteplural disseminar informações que podem virar notícias, dependendo do tanto de gente a se interessar por elas. Demorei um pouquinho a me deixar convencer. Até que me rendi a seu poder de fogo. Sem arrependimentos, que hoje eu digo com todas as letras: amo o twitter. O máximo. Entendi uma porção de coisas depois que ele entrou na minha vida – digo, principalmente no meu cotidiano profissional. Admito não ter total domínio de seu uso ainda, mas enxergo suas reais possibilidades.

O flagra

De lá pa cá, procuramos alimentar o twitter da Arteplural sempre que temos coisas importantes, do nosso ponto de vista, é óbvio, para dizer. Nessa onda, tenho aprendido muita coisa, até a seguir gente que registra simples e úteis informações, notícias de shows, eventos culturais em geral ou outras delícias produzidas por espíritos elevados. Esses leio e respeito. Não vou deletar da minha lista, não. Porque é muito bom escolher quem ler quando se está de papo pro ar.

Outra confissão foi a discreta (e divertida sensação) de flagrar a quantidade de gente desocupada ou com compulsão por expor sua vida em detalhes, sem o menor pudor ou constrangimento. Tem um povo engraçado que prefere bisbilhotar a vida alheia e, muitas vezes, vejam só, até os mais ocupados, encontram uma brecha entre uma e outra tarefa profissional durante o expediente, para deixar escapar o incontrolável desejo de emitir uma opinião, fazer um desabafo qualquer ou relatar uma insignificância. Sim, esses seres - dotados de inigualável capacidade e talento para realizar várias atividades simultaneamente.

Diário escancarado

Rapaz, como diriam meus amigos baianos Moisés Santana e Simone Chemmes, tem neguinho usando essa ferramenta como um diário escancarado de suas mais desinteressantes ações cotidianas! Coisa mais bizarra. Veja você exemplos: "Agora vou dormir", "já levantei", "cheguei em casa agora", "to com uma dorzinha de cabeça, assim não me concentro no release", "perseguida por goteiras.... ". Paciência se alguém se ofender. Na roda gigante/ montanha russa desse parque de diversões é irresistível não expressar a lasquinha de ironia ao ler mensagens dessa natureza até de amigos. Coisas que não farão a menor diferença na minha vida – nem na sua que está lendo.

Mas grandes descobertas merecem comemoração. Uma de suas grandes utilidade é a gente poder conhecer um pouquinho melhor as pessoas pelo que elas escrevem. E o meu olhar desconfiado vai para quem fica, como se diz, twitando o dia todo, a cada passo de seu cotidiano.

Mau negócio

Interessante essa nova forma de reality show inventada num tempo louco (e Cazuza já dizia: "o tempo não pára") em que os humanos adoram uma invasãozinha de privacidade. No século 21, quando o mundo é digital e a informação tem uma velocidade estonteante, muita gente ainda não se tocou de que, na hora de contratar, por exemplo, hoje as empresas sabem que quem consegue publicar mais de um texto por dia no twitter pode não ser um bom negócio no final das contas. Santa ignorância, Batman!

O pior é a grande maioria das banalidades escritas, puro lixo. Em todo o caso, como tudo tem dois lados, reforço que também amo o twitter porque o lixo produzido por muitos deles não faz mal nem a peixinhos ou plantinhas. São restos e sobras de pensamentos tortos ou inutilidades de quem tem tempo a desperdiçar – mesmo não tendo, como já disse lá em cima.

Combustível para a alma

Porque é combustível para a alma elaborar o pensamento. Como escutar música, escrever, namorar quem se ama, conversar com um amigo, tomar café com outro, almoçar com a equipe, reconhecer as qualidades de um profissional, aceitar defeitos também. Compartilhar silêncios, tratar bem as pessoas, ser simples e viver tentando ser um pouco melhor.

Fernanda Teixeira)

Teaser da peça O Pelicano



Teaser da peça O Pelicano, de Strindberg, com direção de Denise Weinberg, em cartaz às quartas e quintas às 21h no Teatro Sergio Cardoso. O Pelicano é uma peça de câmara de August Strindberg, datada de 1907, que mostra uma família cujo pai morreu no momento em que o filho descobre uma carta onde ele conta toda a verdade sobre a natureza de sua esposa. Os filhos, revoltados, infelizes, com a vida destruída pela avareza e o egoísmo dessa mãe, fazem uma aliança para se vingarem dessa profunda falta de amor.

(Lígia Azevedo)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Cuidado, Garoto Apaixonado!


por Nanda Rovere

A peça, que fala da descoberta do amor através de uma linguagem moderna, é a primeira direção do escritor Toni Brandão. Cuidado: Garoto Apaixonado é um espetáculo de teatro infanto-juvenil que, numa linguagem simples e direta, como é a do jovem, fala da descoberta do amor entre colegas de escola e valoriza a amizade. Mostra como Tui, um garoto sensível e inteligente, descobre o amor ao se apaixonar pela mesma garota que o seu melhor amigo, Ale.

Como este salvou a sua vida na praia, esse sentimento é sufocado...até uma hora em que ele não aguenta mais a renúncia. Adaptada e dirigida por Toni Brandão, escritor renomado de livros infanto-juvenis e que assina a sua primeira direção teatral, a peça já foi montada por Débora Dubois e recebeu importantes prêmios, como APCA (melhor autor infanto-juvenil pela adaptação para o teatro), Mambembee Coca-Cola. Para Brandão, a única coisa que as duas montagens têm em comum é o texto: “Eu levei dez anos para ter coragem, depois de ver como ficou legal o espetáculo da Débora”, brinca. “A direção da Débora valorizava aspectos diferentes, até porque eu sou menino e ela é menina. Primeiro, foi a versão da mãe e, agora, é a do pai", diz. ¨É uma visão masculina da mesma história, que ressalta mais o humor, a brincadeira, e menos o romantismo. E nenhuma é melhor que outra, é só uma maneira diferente, finaliza”.

Questionado sobre a decisão de tornar-se diretor teatral, declara: ¨Escrever é muito solitário. Dirigir foi uma oportunidade para interagir com as pessoas. Me distanciei do ¨Toni autor¨ e criei com liberdade, diz. O texto trabalha com assuntos que não saem de moda e fazem parte do cotidiano dos estudantes, sem apelar para o óbvio. A reflexão sobre o afeto é o mote da montagem, sem deixar de lado o entretenimento. O cotidiano dos personagens está permeado de referências culturais, levando para o palco o hábito da leitura, a força da palavra e aulas de canto e teatro, que culminam com amontagem de Romeu e Julieta (numa homenagem a Antunes Filho).

“Eu tento mostrar que ir ao coral ou fazer teatro pode ser tão gostoso quanto jogar videogame ou bola. Isso é um desafio enorme, porque o que interessa, hoje, é a capa, não o conteúdo. Mas a ponte que nós fazemos é que, se dermos conteúdo pra garotada, vão tomar aquilo para si e vão gostar, que é exatamente o barato da arte. Vamos mostrar que dá para se divertir com qualidade”, conta o diretor. A montagem prima pela agilidade típica das histórias em quadrinhos e, para dar sustentabilidade ao ritmo das cenas, as ambientações são modificadas através da movimentação de uma pequena estante de quatro faces e da troca de objetos de cena. Elementos de cartoon, de videogame e um muro de escola, com pichações e CDs, merecem destaque.

A trilha é eclética e o figurino ¨descolado¨, com uniformes estilizados. O realismo do dia-a-dia dos adolescentes é quebrado pela presença de Eros, a consciência de Tui que o desperta para a conquista de Camila (a garota disputada pelos amigos). No elenco, Iara Jamra e mais sete jovens atores: Beto Galdino, Daniel Iasi, Beatriz Diaféria, Guilherme Magon, Jessica Drago, Patricia Pantaleão e Alan Ribeiro. Iara Jamra é conhecida pelos seus trabalhos em teatro e TV. Toni Brandão sempre teve vontade de trabalhar com a atriz. ¨Uma intérprete consistente, que a garotada merece conhecer¨, afirma o diretor.A temporada vai até 8 de novembro e o objetivo é agendar o espetáculo para escolas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Frames é Imperdível

Crítica de Maria Lúcia Candeias

Três peças curtas reunidas compõem um retrato surpreendente da vida na cidade de São Paulo na ótica dos jovens como o autor, Franz Keppler, o diretor Flávio Faustinioni e todo o excelente elenco. Não dá pra perceber se os textos foram escritos com ou sem idéia de continuidade, visto que parecem um conjunto perfeitamente integrado, atualíssimo, e vapt vupt como diria Antunes Filho.

Como se isso não bastasse, autor e encenador assinam cenários de uma simplicidade, assim como de beleza e eficiência muito raros, notadamente em obras cujo orçamento não conta com grandes verbas. O mesmo pode ser dito da trilha e iluminação (Faustinioni), e dos figurinos (Camila Raffanti) simplesmente perfeitos.

Some-se ainda a qualidade dos intérpretes, que têm tanta confiança na sua própria eficiência, bem como na dos colegas, que possibilitam que o público distribua os papéis do espetáculo a seu gosto via internet, nas vésperas do dia em que pretendem comparecer ao Instituto Cultural Capobianco. (rua Álvaro de Carvalho, travessa da Martins fontes). São características que fazem de “Frames” senão a melhor, uma das melhores montagens que estão em cartaz.

Não deixe de ver. Não perca.


(Maria Lúcia Candeias -Doutora em teatro pela USP- Livre Docente pela Unicamp)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Genial Autor Inédito em Nosso Teatro

Crítica Maria Lúcia Candeias, especial para o Blog do Dudu

Nascido em 1963, Neil Labut - conhecido por filmes como “A Enfermeira Betty” - indicado para a Palma de Ouro – estréia em nossos palcos pelas mãos talentosas de Antonio Fagundes e Márcio Aurélio. Exatos vinte anos mais moço do que Sam Sheppard com quem tem em comum a genialidade e a competência de se deixar influenciar pelos mitos gregos de Sófocles com sucesso maior do que todos os outros autores modernos, a nosso ver. Não é a toa que outra de suas peças estreará também no Rio esse mês.

Diferentemente das criações de Sheppard, Edward Carr, personagem de “Restos”, um monólogo, não tem raízes em sua cidade, classe social e outros que tais. Os “restos” de sua personalidade são as poucas e singelas lembranças do passado. Sente-se que se trata de um homem em processo, moldado pelas circunstâncias, como de “resto” todos nós. Essa característica o torna mais atual do que Sheppard e até mesmo do que Milton Nascimento quando é “caçador de mim” ou seja de si próprio, em busca de um nexo definitivo.

O enredo é um diálogo com a platéia focando-o numa época em que ficou viúvo. Fagundes, pra variar, está com tudo e não está prosa. A tradução fluente é de Clarice Abujamra. A bela cenografia (disfarça totalmente as colunas do teatro da FAAP) de André Cortez surpreende e encanta o público com pequenos e discretos objetos, iluminados com a perícia do premiado diretor (Márcio Aurélio).
São qualidades que fazem de “Restos” uma montagem inesquecível.
Não perca.

(Maria Lúcia Candeias -Doutora em Teatro pela USP -Livre Docente pela Unicamp)