Juju, Júlia Roberts,
da querida Salete
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
DA VINCI E MAQUIAVEL REVOLUCIONARAM O MUNDO DESDE O RENASCIMENTO
Da Vinci revê entre outras
antigas crenças as formas e ideias sobre o corpo humano e as expõe verbalmente,
mas mais ainda através de suas pinturas. Ele (Tadeu di Pietro) encontra
Maquiavel (Tadeu de Pietro também) que o público diferencia devido aos ótimos
figurinos que foram criados pelo diretor Elias Andreato que assina ainda a
cenografia e a iluminação, mostrando competência em todas essas atividades, que
colaboram para o ótimo espetáculo.
Maquiavel é o principal
protagonista, expondo com clareza suas ideias de que o homem é uma criatura que
se move segundo seus próprios interesses e não por forças externas místicas ou
não. Quem nunca se deteve na leitura de “O Príncipe” levando em conta a revolução
que foi e são suas ideias precisa correr para ver. Vale muito a pena. O texto
elaborado por Miguel Filiage e o próprio ator teve supervisão de Chico de Assis
e é sucinto, assim como claro. Até didático – sem esquecer que não se trata de
uma aula – como convém a peças teatrais. Especialmente indica ao público jovem,
a meu ver.
Além dessas qualidades. o
espetáculo se passa no MUBE Museu Brasileiro da Escultura que divide um terreno
na avenida Cidade Jardim esquina de rua Alemanha, Jardim Europa, com o Mis,
Museu da Imagem e do Som. Locais extremamente agradáveis de se visitar, ambos
atualmente exibindo várias peças.
Se você se interessou pelo tema Leonardo
Da Vince e Nicolau Machiavel, não deve perder, pois é um assunto que continua atualíssimo, com ótima
atuação de Tadeu de Pietro e excelente direção de Elias Andreato.
Maria
Lúcia Candeias
Doutora
em teatro pela USP e Livre Docente pela Unicamp
quarta-feira, 10 de abril de 2013
O Perfume do Cadáver
Você não pode encontrar
paz evitando a vida. (Virgínia Woolf) ___________________________________________________________________
Lembro com carinho do velório de JR. A placa de plástico preta ao lado da porta de vidro fumê. Nela, o nome de José Ricardo Almíscar de Figueiredo escrito em letras amarelas. Ajeitando no nariz os óculos de massa caramelo, entro e dirijo-me ao caixão. Antes, arrumo o nó da gravata estreita de seda francesa e abotôo o paletó do terno azul marinho feito sob medida. O aroma das coroas de flores asfixia parentes, amigos, a viúva traída. Pigarro, mais outro, a tossinha seca, duas gargantas irritadas. Uns fumam. Alguém abre o basculante da janela que dá para a rua. O vento agradável é um novelo de algodão acariciando o rosto dos enlutados.
Antes que me aproxime do corpo, reconheço o delegado, as garotas de programa, o dono da boate, os leões de chácaras, os cantores, o padre. Olho no olho de cada um, cumprimento todos ao mesmo tempo com um movimento lento de cabeça para baixo, os olhos fechados. Avisto o corpo de JR acomodado entre ramos de alecrim e folhas de lavanda. Insustentáveis lembranças. Poderíamos ter sido bons amantes. Deixo os cabelos lisos e compridos caírem sobre o rosto ao me inclinar para beijar a boca do morto. Ninguém nota. Gosto de madeira, perfume de malte escocês. Neurótico que sou, sigo roendo as unhas mesmo relaxado. Sobra uma farpinha.
De terno de linho claro, camisa esporte e barba feita, JR morreu jovem. Um parque de diversões pela frente. Overdose de pó e uísque. Foi encontrado nu, o corpo torneado, queimado de sol, estirado na cama do flat de luxo. A gente se conhecia desde os 14 anos. No RG, a mesma idade. 33 anos, em dezembro deste ano. Os dois de Capricórnio. Estilista bem-sucedido. Eu me formei advogado.
Fantasio nossa última noite no dancing. Não me lembro por que nos desentendemos. Concentrado em pensamentos de noites passadas, levo susto com a loira vagaba que, aos berros, se joga sobre o morto. Descontrolada, agarra o corpo de JR alheia ao zum zum zum do ambiente. A cena pega mal, o caixão balança. Na certa, pela manhã, já sabendo do ocorrido, fez os últimos gastos no cartão de crédito dele, logo depois de entrar em seu apartamento e levar o jogo de porcelana inglês.
Saudades eternas de JR, seu perfume, o velório. Amor que não se enterra e a derradeira cafungada, antes do sepultamento, pelo tubo da bic cristal numa carreira bem esticada de 15 cm sobre a tampa da privada do banheiro.
Esta é pra você, meu amor.
Fernanda Teixeira
domingo, 24 de março de 2013
terça-feira, 12 de março de 2013
PASMEM! UM DIVÓRCIO DE GENTE QUE SE AMOU, PODE VIRAR PIADA.
Não é fácil, mas Franz Kepler conseguiu. Um casal de advogados divorciados atende dois
clientes mais jovens querendo entrar em acordo para assinar o fim do
matrimônio. Em geral, quando as relações chegam ao final um culpa o outro por não formar o par que parecia perfeito no
começo do relacionamento. José Rubens Chachá ( como sempre nota mil) faz o
defensor da garota jovem, Natália Rodrigues, que interpreta com precisão, uma
garota um tanto tímida. O oposto da
defensora do seu ex, Suzy Rêgo, que está o tempo todo fervilhando de raiva, numa
composição muito divertida, em defesa do jovem que não gosta de brigar Pedro
Henrique Moutinho. Com texto tão diferente e brilhante de Kepler, elenco de
ótimo nível o espetáculo já merece ser assistido. Mas não é só por isso.
O diretor Otávio Martins não só brilha como diretor desse
elenco, como do espetáculo como um todo. A iluminação de Wagner Freire é como sempre
impecável e de extremo bom gosto. Os figurinos de Marichilene Artisevekis cujo
trabalho eu desconhecia são elegantes – mas nem tanto – como pede a peça. A
cenografia de Marco Lima é também adequada e bonita, ocupando com inteligência
o espaço do Teatro Raul Cortez, cujo palco é enorme e essa questão se resolve tirando e colocando
móveis grandes e muito bonitos. Além disso, não é possível não citar a música
original e bem casada com tudo o que acontece em cena, de autoria de Ricardo
Severo.
Quem costuma ir ao teatro para se divertir, ou para ver uma
encenação excelente, sem fazer a menor questão de grandes nexos ou lições, vai
morrer de rir e adorar “Divórcio”, uma
comédia pra lá de divertida. Se é o seu caso, não perca.
Maria Lúcia Candeias,
doutora em teatro
pela USP, Livre Docente pela Unicamp.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
ENSAIO É DAS MELHORES PEÇAS ATUAIS VISTAS POR AQUI
Leonardo Moreira (texto e
direção) focaliza casais - um fato presente em toda a história da humanidade -
tentando entender a si próprio e um ao outro. Trata a questão com tanta
delicadeza que faz lembrar Tom Jobim: “são as águas de março fechando o verão,
é promessa de vida no seu coração”.
Em 1950, quando surge o Teatro do
Absurdo era natural um tom muito trágico para tratar das incompetências
humanas, como o de Samuel Beckett, mesmo que Eugène Ionesco lidasse com a
questão com um humor relativo. Afinal, durante quase todo o século XIX,
pensávamos que a razão era perfeita e incapaz de cometer enganos e que a
ciência iria resolver todas as nossas dúvidas. Já pensou que futuro chato? Um
mundo sem surpresas? Melhor que a vida tenha bastantes ensaios e a gente não
tenha certeza de como será a estreia.
Como diretor Moreira acerta
também na escolha de apresentar o espetáculo num palco giratório e desse modo
trocar os cenários (Andre Cortez e cenotécnicos Gerson Rodrigues e Lázaro
Ferreira). O espectador se pergunta se é o mesmo casal em tantos contextos ou
se são vários. Nesta mesma linha estão os figurinos de João Pimenta, tão
discretos que a gente fica em dúvida se vestem cada personagem em cada cena ou
se é o mesmo casal em diversos contextos. O mesmo pode ser dito da música de
Marcelo Pellegrini que se preocupa com a emoção focada no momento em cena e só.
A iluminação de Marisa Bentivegna emoldura com brilho todas as cenas.
São aspectos que ajudam o
espetáculo que além deles contam com excelente elenco: Maria Helena Chira que
faz a personagem feminina ou todas as mulheres do texto,Rafael Primot que se
encarrega de ser seu par e Fabrício Licursi que participa de tudo na maioria
das cenas como fotógrafo. Os três se saem maravilhosamente bem e, participaram
da criação da peça.
Por essas e outras, corra ao
Centro Cultural Thomie Ohtake, rua Coropés 88, travessa da Faria Lima e da
Pedroso de Morais. É um espaço com 96 lugares, mas você não pode perder.
Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela UNICAMP
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
A foca e a letra trocada [Texto: Fernanda Teixeira]
Guardo histórias engraçadas do tempo de redação, precisamente, como se diz no jargão jornalístico, quando era foca, nome atribuído ao profissional em começo de carreira que, como o animal em questão, mete o nariz em tudo. Era ainda jornalista desta espécie quando fui trabalhar na editoria de Variedades da Folha da Tarde, o primo-pobre da Folha de São Paulo, hoje já extinto. E claro, como qualquer jovem, sobretudo novato em algum emprego, tentava acompanhar os colegas em tudo o que faziam para me sentir aceita e entrosada. E o repórteres daquela redação tinham o hábito de todo dia, naquele hiato entre o fechamento e a última revisão, descer em grupo até a padaria e tomar uma cervejinha. Não sei se os tempos eram mais românticos ou politicamente incorretos, o fato é que jornalistas costumavam beber mais – menos eu.
Homem tranquilo e jornalista experiente, nosso editor não se importava. Sabia que uma saída rápida como aquela não comprometia a qualidade do trabalho. Mal sabia ele que, no caso de uma repórter distraída e pouco acostumada a bebidas alcoólicas, poderia comprometer sim.
Cigarro entre os dedos, a cinza caindo no meio das teclas da primeira geração dos jurássicos computadores, tijolões quadrados da dimensão de microondas, eu aguardava ansiosamente por estes momentos de lazer com o pessoal. Nesse dia não foi diferente. Dei a tradicional escapada para aliviar a visão das pastilhas coloridas das paredes. Larguei o texto que deveria ser fechado naquele dia. Salvei e desci. Atravessei a Barão de Limeira e, como de costume, pedimos cerveja de garrafa e sanduíche de queijo com mortadela.
Na volta, antes de continuar a escrever, fui até a editoria de arte. Neste momento fatídico deve ter ocorrido o inexplicável em meu cérebro. Se distração ou efeito dos dois copos de cerveja, não sei. Pedi, então, ao diagramador uma ilustração para a matéria que produzia. Precisava ser o desenho de uma caneca ou um copo de cerveja, a espuma escorrendo, para dar água na boca do leitor e destacar meu texto sobre a festa da cerveja, programada para o fim de semana na casa de Portugal, conforme informava o release de divulgação.
Cervejas importadas trazidas de várias regiões de Portugal? A princípio, estranhei as informações inusitadas, mas não dei bola e prossegui. Engraçado Portugal ser celeiro de cerveja, não sabia da variedade da bebida existente neste País, pensei. E eles ainda exportavam, curioso! Até aquele dia, cerveja para mim era com os alemães.
Dia seguinte, jornal rodado, ainda nem tinha visto o resultado do trabalho, quando o telefone tocou na redação vazia. Atendi. Do outro lado, uma voz em tom extremamente irritado perguntava quem havia feito a reportagem da Casa de Portugal.
Que absurdo um repórter ser tão desatento e distraído! Vou reclamar com o editor, vociferava a senhora que ameaçava pedir a demissão do responsável por aquele erro grosseiro, além de outras ameaças. Fui me encolhendo, falando baixinho, olhos arregalados de medo de ser surpreendida.
Tentei acalmar a senhora, mas só piorava a situação. Sem saber se fora o efeito da cerveja no sujinho ou a distração, mas o fato é que a desligada repórter aqui trocara a palavra cerejapor cerveja. E esta letrinha entre o “erre” e o “e” faria toda a diferença. No mínimo, mudava o tema da festa de fruta para bebida. Sorte não haver ninguém na redação. Nenhuma testemunha flagrou o telefonema, ufa! Consegui esconder de todos as consequências desastrosas de uma cervejeira ocasional, saí ilesa do episódio e até hoje me divirto muito com o acontecido.
Assinar:
Postagens (Atom)