Ando
pela vida prestando atenção em tudo, distraída com detalhes. Rego ideias para projetos
de trabalho, viagens, simples mudanças, livros que um dia lançarei. Embaixo do chuveiro, no balcão da loja, deitada
olhando o teto. Hipnotizo-me por situações diversas, pelo jeito cuidadoso do
vendedor fazer o pacote, as mãos delicadas, dobrar o produto, cortar os frios,
embrulhar o presente. Deito os olhos nas imagens selecionadas e as congelo em
instantes quilométricos. Prazer que poderia durar mais que os poucos minutos de
seu tempo real. Saio do pensamento satisfeita, extasiada.
Ando
pela vida prestando atenção no geral e apertando o desligar. Costumo não seguir
nem ser seguida por nenhum carro quando estou na direção. Perco o rumo e erro o
caminho algumas vezes. Músicas conduzem pensamentos para lugares desconhecidos.
Retomo a trajetória sem problema, que esse mundo é muito rico em personagens e
histórias para contar. Ligo o gravador e registro o que é para lembrar e
esquecer.
Ando
por aí sem reparar quando a faxineira troca os tapetinhos limpos da cozinha sem
necessidade. Também deixo de colocar água no vaso de flores lindas. Das próximas
vezes, vou colar bilhetinhos para mim mesma, que não gosto de planta morrendo. Sem
falar nos comprovantes de estacionamento que a gente nunca sabe em que bolso ou
lugar da bolsa guardou e acaba por confundir com extratos bancários na hora de pagar.
As chaves do carro, os documentos. Meu Deus, onde estão?
Sigo
vivendo assim. Os quadros da minha casa moram no chão, escovo os dentes de meu
cachorro diariamente, vou ao cinema para alimentar a alma, escuto música bem alto
quando acordo, leio três páginas de qualquer livro antes de dormir, danço em
frente ao espelho para acalmar o coração, me escondo debaixo da mesa ou atrás
de portas para surpreender quem chega, acendo a luz durante o almoço na casa de
minha mãe, faço desfiles de moda com meus sobrinhos. Gosto de alcachofra,
pipoca e Coca-Cola. De lugar arejado, sol, mar, praia, piscina, sorvete, de
andar de avião, do mês de janeiro em São Paulo, de andar de moto e pegar onda,
do calçadão de Ipanema.
Distraída
e alerta, prossigo prestando atenção em pequenos prazeres cotidianos. Só não pergunte
se notei a cor do sofá da sala da minha analista.
(Fernanda
Teixeira)
3 comentários:
Fêzinha,
Adoro te ler, adoro você!
bj. Carmen
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