terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para Jovens de Bom Gosto

Maria Lúcia Candeias, especial para o Blog do Dudu
Doutora em teatro pela USP, Livre Docente pela Unicamp

Há duas peças indicadas a jovens exigentes. Uma dramática (O Primeiro Dia Depois de Tudo) e outra cômica. A mais divertida é “Vilcabamba” em cartaz no teatro da União Cultural Brasil- Estados Unidos. Duas atrizes (Alexandra Golik e Carla Candiotto) que dominam a técnica do clown, ora se alternam ora se encontram, (dirigidas por Chame Buendia) trocando rapidamente os ótimos figurinos de Olintho Malaquias, diante do excelente cenário de extremo bom gosto de Chris Aizner e da iluminação como sempre impecável de Wagner Freire.
Quem gosta de trabalho de clown vai amar. Se você gosta, não perca.

Agora, quem prefere um teatro com um belo texto vai se surpreender com a peça de Leo Lama (digno filho de Plínio Marcos) que não se dedica aos assuntos que o pai gostava, mas aos de sua geração. A peça – também dirigida por ele – traz um ótimo casal de atores (Leonardo Ventura e Priscilla Carvalho) vivendo e discutindo o tema mais recorrente nas peças escritas por jovens atuais: a descoberta dolorosa de que o amor morre, não é eterno como se acreditava, “mas infinito enquanto dure” como escreveu o poeta Vinícius de Morais. O espetáculo está em cartaz às quintas e sextas às 21,30hs no Teatro Imprensa (experimental, o menor).

Vale ver pelo texto e pelos atores.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vilcabamba resulta de talento e amplo repertório de referências. Para rir muito...

Com humor inteligente e simples ao mesmo tempo, as atrizes Alexandra Golik e Carla Candiotto, da premiada Cia. Le Plat du Jour, dão uma aula de teatro bem feito no espetáculo Vilcabamba. Fazem comédia por mera coincidência, poderia ser drama, o importante na peça é o teatro da mais pura qualidade, que foge ao riso fácil e busca consistência e conteúdo no amplo repertório de referências de seu baú teatral.
Se puder, não perca Vicabamba. No Teatro da União Cultural, sextas e sábados, às 21h30.Quem se animou tem aqui um aperitivo - http://www.youtube.com/watch?v=NOb8QD6UKQ8
(Fernanda Teixeira)

Coisas da vida

- Alô, filha, tudo bem?, pergunta a mãe, telefonando para a filha.
- Tudo bem por aqui, e a senhora, como vai, o que vai fazer hoje?
- Oi, minha filha, você me pegou por um triz, estava saindo, respondeu a senhora, esquecendo-se de que fora ela quem ligara primeiro.

***

- Filho, me empresta seu cortador de unha? Bonitinho ele...
- Mãe, não é cortador de unha, é meu pen drive....

(Fernanda Teixeira)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O ser humano realmente...

"O grande problema do ser humano é ser humano." A frase, proferida pela mulher de um dos mais importantes fotógrafos brasileiros, enquanto ele dava entrevista para um telejornal, falando de sua mais recente criação e coisa e tal, é carregada de significado. Encostada ao marido no sofá de casa, ar meio distante, calada, ela observava ele comentar sobre a importância e a grandeza de sua obra (de reconhecimento) internacinal, até que a repórter resolveu lhe fazer uma pergunta. Logo após a resposta acima, inteligente e perspicaz, pensei na qualidade que mais admiro nas pessoas, depois do caráter: a simplicidade, a generosidade - características raras nesse século 21, quando se dá valor demasiado a determinadas coisas em detrimento de outras, às vezes, vitais.
(Fernanda Teixeira)

Cobertura de Vamos? por Adriana Keunecke

Tuna Dwek e o produtor Ed Júlio

Camila Czerkes entre Jair de Oliveira e Thania Khalill


Equipe da Arteplural e amigos


Melisa Vettore e Bruno Perilo


Alex Gruli, Dalton Vigh , Rachel Ripani, Cintia Abravanel e Mario Viana


Para quem curte besteirol

Por Mária Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela UNICAMP

Uma boa sugestão é a nova peça do Mario Viana. Não sei se um jovem atual vai concordar com essa classificação e os jovens costumam ser o público que Viana mais atinge com grande sucesso. No caso de “Vamos?”, se trata de várias tentativas de estabelecer um “ménage a trois ou a quatre”.

Mesmo os mais velhos certamente vão se surpreender com a competência que o ótimo ator Otávio Martins exibe como diretor, sendo seu primeiro ou um de seus primeiros trabalhos nesta área. De cara, a cenografia de Marcia Moon consegue se adequar a todos os ambientes e tornar íntimo o palco do teatro imprensa.

Os figurinos de Elena Toscano são simples como a peça pede e de extremo bom gosto. A luz de Wagner Freire, como sempre, tempera tudo com brilho. Além do visual irretocável, a direção de atores é ótima e eles executam suas personagens com perfeição: Alex Gruli, Tânia Khalill, Rachel Ripani e Dalton Vigh dão conta do recado. Muita gente ri muito.

Provocar riso fácil também é o que acontece em “A Peça é Comédia?” Escrito pelo jornalista Gilberto Amêndola, o texto trata da morte e de sua existência? Será real mesmo? com grande humor notável, digno de um jovem que não a leva a sério, bem, quem sabe. Bem dirigida por Orias Elias, tudo dá a sensação de um ensaio que não chega a virar espetáculo pronto.

A platéia rola de rir do besteirol interpretado com eficiência pelo próprio diretor que contracena com Cláudio Bovo e Walter Lins e está em cartaz na sala Experimental do Teatro Augusta. São duas boas oportunidades de diversão, muito diferentes entre si, exceto na competência de fazer rir.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Você já foi à Amazônia?


Não? Então vá. Se já foi, não vai porque não quer, ou não pode ir, não deixe de assistir à peça “As Folhas de Cedro”, escrita e dirigida por Samir Yazbek. Em primeiro lugar porque o texto se passa por lá, e tem como personagens imigrantes e filhos de imigrantes vindos do Líbano e imediações, o que é um retrato fiel da região, por incrível que pareça. Um pessoal verdadeiramente desbravador. É impressionante! A gente não espera por isso. E, como os textos de Yazbek, é bem escrito e não se restringe apenas àquele local. Acompanha uma família que vive tendo que contrapor os valores da cultura de origem aos do local onde se estabeleceu criando novas sínteses, coisa que deve ser comum a todos os que mudam para países tão diferentes dos de sua origem.

A obra foi escrita também em homenagem à comemoração dos 130 anos da imigração libanesa para o Brasil. E é uma bela homenagem também devido ao excelente espetáculo, o primeiro dirigido por ele a que assisti. Contribuem para esse acerto a direção de atores assinada por Janô (Antonio Januzelli, professor da USP), o cenário que consegue tornar íntimo o grande palco do SESC Vila Mariana e os ótimos figurinos de Laura Carone e Telumi Hellen. Merecem referência também a música de Marcello Amalfi, assim como a excelente iluminação de Domingos Quintiliano.

Mas o ponto mais alto é sem dúvida a interpretação do elenco. E não é só Hélio Cícero, como sempre arrasando. O mesmo pode ser dito de Daniela Duarte, Douglas Simon, Gabriela Flores, Mariza Virgolino e Rafaella Puopolo. E quem mais encanta é Marina Flores, que, como as demais crianças em cartaz nos musicais, como “Gipsy”, dá a sensação de que o nosso teatro do futuro será imbatível. Você não pode perder.

Crítica por M Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela UNICAMP

Cenógrafa jovem e surpreendente

Crítica por M Lucia Candeias
Doutora em Teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp
Desde que freqüento o Espaço dos Satyros II, não me lembro de ter visto cenografia melhor do que a de Lirian Pedrazzini para “As Criadas” de Jean Genet, autor francês cujo principal texto teatral foi “O Balcão”. É fato que a maioria dos espetáculos lá apresentados não focalizam pessoas que têm a seu serviço duas criadas, como agora.

O que justifica plenamente o extremo bom gosto de todos os elementos cênicos, entre os quais muitas flores e cabides com roupas de belas cores. Os figurinos de Eneida Palermo e a iluminação de Valdecir Araújo não ficam nada atrás. Claro que são qualidades que também leva a assinatura da direção, a cargo de Elvira Lima Gentil. Além de um visual nota dez a montagem conta com excelentes atrizes (antes por aqui só lembro de ter assistido com atores): Beth Lima, Monalisa Capella e Vanice Pedrazzini.

São qualidades que garantem que uma montagem merece ser assistida, especialmente para os que não conhecem esse autor tão maravilhoso e diferente da maioria. O único aspecto discutível é a leitura realista que casa bem com o texto, mas que – nos parece – ficaria mais atual e mais fiel ao teatro do absurdo, se interpretada como um jogo. Com um pouco mais de leveza. Mesmo assim, não perca, às quintas-feiras às 21horas no Satyros II, também na Praça Roosevelt.