Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp
Chamar August Strindberg e Ingmar Bergman - os dois suecos campeões que, juntamente com o norueguês Erick Ibsen são os maiores dramaturgos da Escandinávia, - de ótimos autores, parece bem pouco e é. No entanto, seus textos, (“A Mais Forte” e “Persona”), reunidos no espetáculo atualmente em cartaz no Viga Espaço Cênico, “Strindbergman”, nos pareceu muito menor do que cada um deles separados. Que Bergman (séc.XX) foi influenciado por Strindberg (séc.XIX) todo mundo sabe, pois o cineasta e encenador teatral cansou de dizer. Mas, nenhum dos dois gostava de desperdiçar palavras. Quem lê “A Mais Forte” em que uma personagem é muda e a outra fala, sem observar as pausas do discurso, pode pensar que se trata de falar por falar. Mas não é o caso. Uma ouve e tem reações silenciosas enquanto a outra monologa sobre os prós e contras de ser casada como ela e amante como a outra. A solução dessa dúvida é que é a questão central da obra.
Se a peça me agrada menos do que os originais, a encenação (Marie Dupleix) é de extremo bom gosto. Além disso, as três atrizes, Clara Carvalho, Janaina Suaudeau e Nicole Cordery estão maravilhosas, razões suficientes para tornar a assistir à encenação com grande prazer. Vale conferir.
Já “Da possibilidade da Alegria no Mundo” reúne cinco autores (e não quatro como há até no programa) aos quais foram pedidas peças curtas que se dedicassem ao tema proposto no título. Quem abre a cena, antes de se adentrar à sala é Simone Evaristo que com as ótimas improvisações que apresenta, mostra que é excelente atriz, como se verá em toda a montagem e uma dramaturga promissora.
Além dela há ninguém menos que Denise Weinberg, que está com tudo e não está prosa, assim como José Roberto Jardim e Sérgio Módena que não ficam atrás. Entre os autores há Newton Moreno (“Agreste” e “Centenárias”) e nomes inéditos em nossos palcos: É o caso de Abel Neves português da gema, de Mariana Pecovitch uma uruguaia provavelmente de família russa e Naghmeh Samini do Irã. Por incrível que pareça, Moreno como diretor consegue imprimir unidade ao belo espetáculo que tem cenários assinados por ele e Marcelo Andrade, figurinos excelentes de Carol Badra e iluminação irretocável do tarimbadíssimo Domingos Quintiliano. A dramaturgia e a encenação prendem o espectador o tempo todo e, embora a construção do texto “Quenguinha”, um dos dois que Newton assina nos pareça o mais perfeito, lembrando Shakespeare, não é dos mais otimistas. Mas alguns dos outros são, por exemplo dando graças a Deus por ter realizado um dos sonhos da personagem e não todos. Momento em que o espetáculo anda de mãos dadas com o sábio Calderon de La Barca para quem a vida é sonho.
E eu diria, como esse trecho parece dizer que a alegria é impossível sem sonhos. Esse e outros momentos tornam a montagem mais otimista, o que por si só vale uma ida ao teatro, especialmente num semestre que se caracterizou por muitos monólogos e textos para mais atores, de extremo pessimismo.
Ninguém devia perder, pois é um trabalho diferente do comum.
Ninguém devia perder, pois é um trabalho diferente do comum.
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