quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ótimos Autores Reunidos


Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp

Chamar August Strindberg e Ingmar Bergman - os dois suecos campeões que, juntamente com o norueguês Erick Ibsen são os maiores dramaturgos da Escandinávia, - de ótimos autores, parece bem pouco e é. No entanto, seus textos, (“A Mais Forte” e “Persona”), reunidos no espetáculo atualmente em cartaz no Viga Espaço Cênico, “Strindbergman”, nos pareceu muito menor do que cada um deles separados. Que Bergman (séc.XX) foi influenciado por Strindberg (séc.XIX) todo mundo sabe, pois o cineasta e encenador teatral cansou de dizer. Mas, nenhum dos dois gostava de desperdiçar palavras. Quem lê “A Mais Forte” em que uma personagem é muda e a outra fala, sem observar as pausas do discurso, pode pensar que se trata de falar por falar. Mas não é o caso. Uma ouve e tem reações silenciosas enquanto a outra monologa sobre os prós e contras de ser casada como ela e amante como a outra. A solução dessa dúvida é que é a questão central da obra.

Se a peça me agrada menos do que os originais, a encenação (Marie Dupleix) é de extremo bom gosto. Além disso, as três atrizes, Clara Carvalho, Janaina Suaudeau e Nicole Cordery estão maravilhosas, razões suficientes para tornar a assistir à encenação com grande prazer. Vale conferir.

Já “Da possibilidade da Alegria no Mundo” reúne cinco autores (e não quatro como há até no programa) aos quais foram pedidas peças curtas que se dedicassem ao tema proposto no título. Quem abre a cena, antes de se adentrar à sala é Simone Evaristo que com as ótimas improvisações que apresenta, mostra que é excelente atriz, como se verá em toda a montagem e uma dramaturga promissora.
Além dela há ninguém menos que Denise Weinberg, que está com tudo e não está prosa, assim como José Roberto Jardim e Sérgio Módena que não ficam atrás. Entre os autores há Newton Moreno (“Agreste” e “Centenárias”) e nomes inéditos em nossos palcos: É o caso de Abel Neves português da gema, de Mariana Pecovitch uma uruguaia provavelmente de família russa e Naghmeh Samini do Irã. Por incrível que pareça, Moreno como diretor consegue imprimir unidade ao belo espetáculo que tem cenários assinados por ele e Marcelo Andrade, figurinos excelentes de Carol Badra e iluminação irretocável do tarimbadíssimo Domingos Quintiliano. A dramaturgia e a encenação prendem o espectador o tempo todo e, embora a construção do texto “Quenguinha”, um dos dois que Newton assina nos pareça o mais perfeito, lembrando Shakespeare, não é dos mais otimistas. Mas alguns dos outros são, por exemplo dando graças a Deus por ter realizado um dos sonhos da personagem e não todos. Momento em que o espetáculo anda de mãos dadas com o sábio Calderon de La Barca para quem a vida é sonho.
E eu diria, como esse trecho parece dizer que a alegria é impossível sem sonhos. Esse e outros momentos tornam a montagem mais otimista, o que por si só vale uma ida ao teatro, especialmente num semestre que se caracterizou por muitos monólogos e textos para mais atores, de extremo pessimismo.

Ninguém devia perder, pois é um trabalho diferente do comum.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Argh!


As críticas de diversos setores da sociedade à visita do presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil - homossexuais e movimentos de diferentes etnias o acusam de preconceito, integrantes da comunidade judaica repudiam o iraniano por suas declarações questionando a ocorrência do Holocausto e defendendo o fim do Estado de Israel – têm fundamento sim. Não somos intolerantes. Respeitamos a diversidade. E temos princípios – isto é, imagino (e espero que não seja sonho) que a uma parcela dos brasileiros – a dos instruídos, estudados, inteligentes, cultos e bem educados - tenha princípios. Coisas que o iraniano, com certeza, não tem.
(Fernanda Teixeira)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Strindbergman retrata relação íntima


Por Adriana Guivo,
do Colherada Cultural

A intimidade que duas pessoas alcançam ao serem forçadas a um convívio constante é o tema de “Strindbergman”, em cartaz em São Paulo. A produção, já apresentada em Paris, é inspirada nas obras clássicas de dois suecos: o filme “Persona” (1966), do cineasta Ingmar Bergman, e a peça “A Mais Forte” (1888), de August Strindberg. Ainda que não se conheça as histórias originais, é possível se emocionar com a humanidade das protagonistas.

Na peça, uma paciente e sua enfermeira partem rumo à praia, na tentativa de obter uma melhora não alcançada em três meses de internação clínica. A primeira é Elisabeth Vogler, uma famosa atriz que subitamente emudeceu. Para sua médica, essa seria apenas mais uma interpretação em sua carreira, que findaria como uma temporada teatral.

A outra é Alma, uma jovem que deseja fazer os outros felizes, e que expõe seus segredos pelo prazer de ser ouvida por alguém que admira. O relacionamento entre elas apresenta aos poucos os interesses particulares que mantêm, enquanto suas identidades se fragmentam e se fundem – ou se confundem – uma com a outra. A fragilidade de uma declaração de alto teor erótico faz emergir o lado cruel de suas personalidades, numa inevitável admiração mútua.
As duas alcançam assim o mais profundo de suas emoções para compartir força e fraqueza, num jogo especular de dominação psicológica. Aberta a múltiplos significados, a peça pode ser compreendida conforme o nível de identificação que se tenha com as confissões das personagens.As atuações de Nicole Cordery e Janaína Suaudeau impressionam pela cumplicidade e vitalidade em se expressar através de gestos, silêncio e verborragia.
Entre os elementos cênicos se destacam a montagem multimídia, que projeta imagens de ambas as atrizes vivenciando um enredo de traição; um leito-passarela que alterna uma dinâmica de equilíbrios, entre altos e baixos condizentes com os estados emocionais sentidos; e um impecável figurino em preto e branco, composto de imensos chapéus, elegantes vestidos e maiôs, os quais reforçam tanto a feminilidade quanto a semelhança entre as mulheres.

“Strindbergman”. Até 20 de dezembro no Viga Espaço Cênico. Rua Capote Valente, 1323 – Pinheiros – São Paulo. Tel: (11) 3801-1843.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Noite escura


Ao celular, a ligação é interrompida bruscamente. 22h15, acaba a novela das nove, as luzes do apartamento começam a piscar, diminuem gradativamente de intensidade e apagam de vez. Blecaute. Corro para a janela, um grupinho de moradores se reúne lá embaixo na portaria. Os carros que chegam não podem entrar na garagem.

O mesmo ocorre em outros prédios da rua. Nas janelas dos edifícios aparecem pessoas com lanternas e velas. O telefone, da Net, não funciona, assim como o laptop. Não tenho rádio para ouvir as notícias. Peço para uma amiga, que mora no prédio em frente, exatamente no mesmo 6. andar, que procure alguma notícia no rádio. Depois ela conta que o blecaute atingiu vários Estados, inclusive Rio. O apagão deixou a cidade às escuras. Sentada no sofá, só ouvia a buzinação da avenida Brigadeiro Luiz Antonio.

Vou para a cama apreensiva. Penso em quem está na rua – meu irmão Flávio e minha cunhada Penha foram ver o show de Dona Summer-, quero saber se meus sobrinhos e sobrinhas estão em casa... , se meu irmão Roberto (que mora no Rio) está bem, se aconteceram arrastões ou assaltos, se alguém ficou preso no elevador, se todo os hospitais tem geradores, se o metrô parou, se houve pânico.... Rezo para meu anjo da guarda.
Deitada, lembro de ter lido no site Opinião e Notícia que "no último domingo, 8 de novembro de 2009, o programa “60 minutes”, da emissora norte-americana CBS, exibiu uma reportagem segundo a qual dois apagões no Brasil nos últimos quatro anos teriam sido causados por ataques de hackers. A hipótese de que essa tenha sido a causa deste último blecaute foi descartada pelo ministro das Minas e Energia, Edison Lobão".

Penso, ainda, na coluna de Carlos Brickmann no "Observatório da Imprensa", sobre a censura prévia imposta ao jornal O Estado de S. Paulo. Dá um frio na espinha. "A pedido do filho do senador, Fernando, que administra os bens da família, o Estadão foi proibido de citar qualquer fato apurado pela Operação Boi Barrica, da Polícia Federal", escreveu Carlinhos, para depois tirar um sarro: "Não se pode ignorar a força política de Sarney: quem escreve livros como aqueles que publicou e consegue ir para a Academia Brasileira de Letras é capaz de façanhas inacreditáveis". Apesar de tudo, apago logo. Só a TV do celular ligada.

Conforme reportagem do SPTV do dia seguinte, o técnico do INPE disse que foram raios que atingiram o Sul do Estado de São Paulo. Falou que São Paulo é a cidade do Brasil mais atingida pior raios, e o Brasil, no mundo, é o maior alvo dos raios. Então, deduzo que a culpa é do tempo mesmo. Hoje às cinco da tarde toda a cúpula dos poderosos de Brasília mais os entendidos em energia tem reunião para tratar do assunto. Penso que deve estar na pauta bolar uma estratégia para passar para a assessoria de imprensa oficial. Afinal o discurso tem que ser único.

(Fernanda Teixeira)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Detalhes cotidianos

Vantagens de se trabalhar próximo ao Ibirapuera. Essa ilustre visita inesperada, cantando na janela.

(Ligia Azevedo / Douglas Picchetti)

Sem rotina

Cena de Strindbergman

Maquete, feita em caixa de sapato, da peça do Duílio Ferronato

Feriado na segundona, semana curta, cheia de trabalho, obrigada senhor! Trabalhar com coisa boa e no que a gente gosta é um prazer. Deixa o dia-a-dia mais dinâmico e sempre surpreendente. De vez em quando penso: gostaria de ganhar dinheiro só escrevendo. Morar numa praia, ficar de papo pro ar, mandando os textos por email. Logo depois, me animo, gosto dessa rotina (que rotina?) de assessoria de imprensa, ter escritório, conviver com outras pessoas, mais jovens, mais velhas, mais leves, entusiasmadas e, principalmente, de bom-humor.

Depois da estreia da peça As Meninas, neste fim de semana tem a stand-up comedy Comédia em Pé e a cabeça Strindbergman, com Nicole Cordery e Janaína Suaudeau, sob a direção da francesa Marie Dupleix. Semana que vem tem Um Conto Idiota, com a cia do bailarino e coreógrafo Jorge Garcia, na Sala Crisantempo; Arrufos, do Grupo XIX, no Espaço dos Fofos, e a reestreia de O Ano do Pensamento Mágico, com Imara Reis, no Sergio Cardoso.

Na sequência, faremos Se Você me Amasse, do amigo Duílio Ferronato, nos Satyros; O Animal na Sala, do grupo Linhas Aéreas, de Ziza Brisola, no Sesc Santana; . Antes de terminar o ano, faremos também O Quebra Nozes, com o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Ana Botafogo apresentando a nova geração de seu corpo de baile) e a exposição sobre a Índia Urban Manners 2 – Artistas Contemporâneos da Índia.

Semana passada teve Kabarett, de Kleber Montanheiro, no Miniteatro, ótimo; o espetáculo de dança da cia P.U.L.T.S, na Galeria Olido, com e bailarina Renatinha (mãe do Lucas e amiga da Candice), sem contar o show de Beto Guedes e a peça L'Effet de Serge, ambos no Sesc Santana.

Reuniões com clientes, entrevistas com artistas, passagens de cena para televisões ou cobertura para coluna social. De rotina não podemos reclamar.

(Fernanda Teixeira)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

As Meninas e a tarde de emoções

O Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, ficou pequeno para abrigar tantos corações emocionados. Era meio de feriado prolongado, sábado passado, dia da estreia do espetáculo As Meninas, adaptação de Maria Adelaide Amaral para o livro homônimo de Lygia Fagundes Telles.

Dava para sentir um clima especial no ar. Comandados pela dramaturga, a equipe toda subiu ao palco, a plateia ainda vazia, deu as mãos e, em circulo, pediu aos deuses do teatro pela saúde de um familiar da diretora Yara Novaes – que precisou ir a Belo Horizonte às pressas e não pôde comparecer. Com um vidrinho de água benta nas mãos, Maria Adelaide abençoou cada um. Prenúncio de um dia diferente.

Lá fora, os convidados já chegavam. Atores como Gustavo Machado, Lúcia Veríssimo, Débora Fallabela, Maria Fernanda Cândido, Daniel Alvin, Xuxa Lopes, Karin Rodrigues, Marcelo Mansfield, os produtores Celso Curi, Wesley, Roberto Monteiro, Zé Maria Pereira, os amigos Bel Gomes, Claudia Hamra, Célia Forte, Ubiratan Brasil e a convidada mais esperada, Lygia Fagundes Telles, acompanhada pela neta Lucia.

Antes do inicio, o ator Dan Stulbach – diretor artístico do teatro - subiu ao palco para pedir compreensão do público por conta de pequena confusão gerada pelo grande número de pessoas. Cadeiras extras foram providenciadas e só mesmo algumas pessoas da equipe, como o produtor Fernando Padilha, o musico Dr. Morris e o pessoal da assessoria, assistiram a peça de pé no fundo do teatro.

As atuações do elenco foram brilhantes – Clarisse Abujamra, forte e com grande magnetismo, e Tuna Dwek, firme, em cenas engraçadas ou mais dramáticas (as duas atrizes convidadas) e as "meninas" Luciana Brites, em interpretação arrebatadora; Clarissa Rockenbach, mostrando a veia boa de atriz e cativando o público; e Sílvia Lourenço, prometendo crescer (à altura de seu talento) ainda mais no papel; e Júlio Machado, presença marcante nos dois personagens que vive.

Um romance dos anos 70 tão atual como músicas e poemas que trazemos grudados na memória. Uma peça que sintetiza de forma exemplar os dramas e conflitos do livro, dando oportunidade igual a todos os personagens. E por fim a grande emoção de ver Lygia Fagundes Telles feliz.
Abaixo, email de Lygia Fagundes Telles para toda a equipe da peça:

"Meninos e Meninas",
Escrevo com muita emoção para dizer que amei o que vi hoje. A peça está linda, forte, densa e me deixou muito, muito emocionada. Obrigada. Sucesso enorme para esse trabalho tão bem feito e sério, que traduz de uma forma linda o meu romance e a história dessas Meninas.
Um beijo em cada um,
a Lygia.
obs. Lúcia também manda beijos emocionados.
Agora email do jornalista Ubiratan Brasil, sub-editor
do Caderno 2 para o produtor Fernando Padilha:
Querido Fernando,

Novamente mil parabéns pela produção - fazia tempo que eu não assistia a uma peça tão cuidadosamente cuidada. Fiquei emocionado como há muito na ficava. Houve momentos que, confesso, não consegui segurar as lágrimas. Tenho certeza que Lygia teve ter se sentido honrada com tamanha homenagem. Se puder, mande, por favor, um beijo enorme pro elenco, pois não consegui falar com todos na saída. Na verdade, sempre fico inibido em estreias pois me sinto como um intruso, mas dessa vez acreditei fazer parte da "casa". Já comecei a fazer o boca a boca, pois a peça merece. Quero mesmo voltar a ver, pra pegar mais detalhes.

Um beijo grande, obrigado por me deixar participar de um momento tão raro.
Bira