terça-feira, 28 de julho de 2009

Engenho Mostra Um Pouco do Que Gosta

Em agosto acontece a 4ª Edição do Engenho Mostra Um Pouco do Que Gosta, uma iniciativa do Engenho Teatral, conceituado grupo de teatro, cuja sede está montada ao lado da Estação Carrão do Metro, na Zona Leste, dentro do Clube Escola Tatuapé (Parque da Prefeitura que alguns moradores da região ainda conhecem como Sampaio Moreira). A cada final de semana, uma Cia de Teatro é convidada a se apresentar, sempre aos sábados e domingos, às 19 horas. A mostra reúne grupos e peças representativas do cenário paulistano. Os ingressos são gratuitos. Mas atenção! É recomendado chegar com, pelo menos, 1 hora de antecedência, pois os espetáculos costumam lotar.

A primeira a se apresentar é a Cia São Jorge de Variedades com a peça Quem Não Sabe Mais Quem É, O Que É e Onde Está, Precisa Se Mexer, nos dias 1 e 2. Baseado na obra de Heiner Muller, o espetáculo discute o marxismo, a luta de classes e outros elementos da revolução socialista com humor e contemporaneidade. Em busca de respostas para o agora, três jovens revolucionários desenvolvem planos e ações para reverter o quadro da imobilidade. Os jovens são cheios de vida e intenções. Têm inteligência, ideais, coração, mas vivem o patético da ação aprisionada. A montagem, porém, está longe de ser pessimista em relação ao destino humano. A peça rendeu à São Jorge a indicação ao Prêmio Shell 2009 na categoria especial pela pesquisa e criação.

Dias 8 e 9 é a vez da Cia Estável de Teatro com o elogiado Homem Cavalo & Sociedade Anônima. A peça apresenta um cruzamento de situações sobre trabalho, moradia e consumo, costurado pela fábula de um homem animalizado e explorado em seus esforços por sobrevivência. O assunto é sério, mas é tratado com tons de ironia e bom humor. O espetáculo é resultado de uma pesquisa de mais de dois anos dentro de uma casa de acolhida para homens em situação de rua. Comparado ao clássico Eles Não Usam Black-Tie, de Guarnieri, pelo Jornal O Estado de São Paulo, como o Black-Tie dos dias de hoje.

Nos dias 15 e 16 o Grupo Clariô apresenta Hospital da Gente. Espetáculo construído a partir dos desconcertantes contos/cantos do escritor pernambucano Marcelino Freire. O Grupo Clariô de Teatro criou uma favela em seu espaço (Espaço Clariô em Taboão da Serra) para a realização da peça que conta com 7 atrizes no elenco. Trabalhadoras do Brasil abrem as portas dos seus barracos para revelar a que vieram, qual o seu papel, seu lugar no caos. O Clariô recebeu o Prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro 2008 pela Ocupação de Espaço e Grupo Revelação.

A Cia Os Crespos leva seu Ensaio Sobre Carolina, dias 22 e 23. A peça é baseada no diário da catadora de papel Maria Carolina de Jesus (1914-1977), publicado em livro com o título Quarto de Despejo, Diário de Uma Favelada. O grupo, formado por negros, surgiu na EAD (Escola de Arte Dramática da USP). Em comum, a vontade de discutir a sua formação e, como foco, estudar a história do negro nas artes cênicas no Brasil, numa instituição em que essa discussão não existia. O grupo utiliza a dança, o canto e o corpo como linguagem. Ensaio Sobre Carolina também foi selecionada para o Projeto Vitrine Cultural do Centro Cultural Grupo Silvio Santos, onde entra em temporada a partir de setembro.

Fechando a Mostra, a Brava Cia apresenta o espetáculo A Brava, nos dias 29 e 30. Inspirado na história de Joana d’Arc, a trupe propõe uma reflexão sobre os objetivos, rumos e escolhas de cada indivíduo e sua postura frente às conseqüências destas escolhas. Nesta montagem, a saga da heroína francesa é mostrada de forma épica, valendo-se de recursos como a música e a interação com a plateia, referências da cultura popular e da cultura pop, agregadas a situações cênicas que exploram o drama e um humor anárquico, para construir paralelos com os dias de hoje. A Brava foi contemplada com o Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro 2009 como Melhor Espetáculo de Rua.

Engenho Teatral
Rua Monte Serrat, 230 - Estação Carrão do Metrô.
Clube Escola Tatuapé. Estacionamento no local.
Telefone para informações - 2092-8865.
Homem Cavalo & Sociedade Anônima

A Brava

(Adriana Balsanelli)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Like Sophie

Isso é um plágio. Sophie Calle namorou alguns meses com o autor do email que ficou famoso, mote da exposição no Sesc Pompas. Eu, nem sequer cheguei a beijar o autor deste email, mas passei no mínimo uma semana pensando no estado das coisas neste início de século 21. Como Sophie, pedi ajuda a outras mulheres na interpretação do texto. Abaixo, o email recebido em junho de 2009. Sinta-se à vontade para dar sua interpretação.
"Renata, tudo bem?
Entonces, desculpe se parece que estou te ignorando, mas é que não sei muito bem como reagir aos seus emails.
Vou tentar ser claro: Como disse no bar, estou há algum tempo fechado pra balanço, e quero continuar assim. Minha vida, minha casa, minha rotina, meu tempo...tudo está montado de uma maneira egoísta, em que eu só preciso cuidar de mim.
Sei que a gente não está falando de viver junto até os 375 anos, ter 227 filhos, 439 cachorros, 256 gatos e 2115 papagaios, mas digamos que a gente fique. Depois de ficar tem o lance de ter de ligar, pra deixar claro que o outro é especial, que a coisa foi muito bacana e taus. E aí entra o: "Se foi bacana, por que não de novo?".
E aí a coisa vai.Não quero esse vínculo, esse lance de ter de mostrar/provar que o outro é especial pra mim. Assim como não quero ter a responsa de ser especial para alguém.Uma hora isso muda.Mas por enquanto é isso.Espero que você entenda".

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Horinhas de Descuido

Hoje o dia amanheceu mais quente. Mais feliz pra quem detesta passar o dia encolhida. O "agitinho" da manhã brotense, a disposição das pessoas com mais um dia começando e a convicção de que vamos sobreviver, pelo menos por hoje. Ao chegar a minha mesa de trabalho deparo, como todos os dias, com o Estadão (assinado pela família desde o nº 0).

E aí minha manhã começa a mudar ao ver estampada a foto de Lula e Collor se abraçando, ambos muito felizes. No rodapé, a frase do Presidente : "Quero fazer justiça ao senador Collor". E essa não é a manchete, que diz assim: "Oposição acua Sarney e governo blinda investigação".

Embora calejada, e estagnada com tanta barbaridade das quais nos tornamos meros espectadores, não tenho como deixar a tristeza e a desesperança me invadirem. Faço um retrospecto dos tempos que saíamos às ruas para lutar por um presidente do povo ou para derrubar um presidente dos marajás. Que força, que paixão, que esperança...

E agora ? O que a gente faz? Se deprime, chora, esperneia, só assiste ? Será mesmo que todo mundo tem um preço? Será que nós também devemos nos entregar as manobras da corrupção ? Será que meus acentos estão no lugar certo ? Se não tiverem peço desculpas, mas não estou conseguindo acompanhar tanta mudança.

Abandono o jornal e resolvo ir comprar mamão e banana para o café da manhã da Dona Ermínia, minha mãe. Isso sim, é felicidade. Ela prefere a nanica, e vocês? Como deixou escrito o sábio Guimarães Rosa : "A felicidade se acha em horinhas de descuido"!
Tenham todos muitas horinhas de descuido hoje e sempre. Beijos.

Célia Jordani, especial para o Blog do Dudu

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Laranja podre

De família humilde, morena, olhinhos verdes espertos, a menina cresceu alegre e extrovertida. Adolescente, o jeito de moleca acentuado, passou a dar trabalho em casa quando começou a namorar. Nada de se meter com drogas ou bandidos, que ela não era chegada a isso. O pai e a mãe, ignorantes, não sabiam como lidar com a filha, considerada terrível.

Até que um dia, ele resolveu dar um jeito definitivo na situação. Empurrou com o pé, para junto da filha, uma caixa de laranja. A menina, bonita mas franzina, abaixou-se e cumpriu a ordem de procurar a fruta podre. Quando achou entregou-a ao pai, que tinha a frase na ponta da língua. "Tá vendo esta laranja bichada, estragada? É você no meio das minhas outras filhas. Não quero isso pra elas. Pode pegar suas roupas e ir embora!"

Aos 17 anos, a pequena - não media nem um metro e meio - saiu de casa no Interior de Pernambuco para nunca mais voltar. Caiu na vida, como gosta de dizer. Descolada e inteligente, veio para São Paulo e conseguiu trabalho em casa de família. Sempre enrabichada por algum homem, foi tendo filhos, cada um de um pai diferente.

Educou as crianças direitinho e, na medida do possível, nunca deixou que faltasse nada para eles. Aos primeiros, deu os nomes de Fernando e Fernanda, homenagem à família de um dos primeiros patrões. Mudou muito de emprego, até que sossegou o facho. As crianças cresceram e foi então que passou a ter problemas, principalmente com uma delas, muito parecida com a mãe, namoradeira também.

Depois de trabalhar 15 anos com minha mãe, hoje ela está na minha casa e, quando tomamos café da manhã, ela nos conta pedacinhos de sua história. Cada dia um trecho. A passagem da caixa de laranja deixou meus olhos cheios de lágrimas e me fez entender algumas coisas da vida. O por que de algumas pessoas terem determinados comportamentos. Com um pai daqueles, ela até que se virou bem. Sempre de bom-humor, gosta de cuidar da gente e contar casos. Por isso relevo mentirinhas que ela solta de vez em quando. Danada que é, tem uma imaginação e tanto para criar.

Consumista, um de seus prazeres prediletos é freqüentar a lojinha de R$ 1,99 perto da Teodoro Sampaio. No dia seguinte ao pagamento, sempre aparece de roupa ou celular novos. A Sandra até que tenta ensiná-la a guardar dinheiro, mas não adianta. Faz cara de sapeca e esconde a fatura do cartão de crédito. Vez ou outra tem uma conta chegando pelo correio. Lá em casa, nosso dia-a-dia é divertido, mesmo quando ela arruma tudo, guarda no lugar que bem entende e a gente não acha nada. Na minha festa de aniversário, foi o centro das atenções quando comandou uma coreografia de dance music. Quem estava lá sabe do que estou falando. Grande pequena Nice!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Cena de Teatro 2009 | Coletivos Teatrais


clique na imagem para ampliar
(Adriana Balsanelli)