segunda-feira, 6 de abril de 2009

O que os olhos veem e o coração sente

Domingo à noite. Volta pra casa de um café com amigos. Um atravessar de esquina em um bate-papo descontraído dá lugar a um choque: do outro lado da rua, um casal de garotos é assaltado por uma gangue meninos de rua. São cerca de seis, por volta de seus cinco anos de idade – o mais velho não deve passar dos oito. Cercam o casal, um deles com uma faca de açougue na mão, 15 centímetros de lâmina pra menos do que isso de mãos. O casal olha o grupo de amigos, aponta, diz algo aos meninos. Reação instantânea: fugir. Alguém grita: corre! Os quatro amigos saem correndo, um deles ainda olha pra trás, ver o que há. Tropeça em seus pés e cai, mas o instinto faz levantar rápido e continuar correndo.

Chegar em casa. Insônia. Pensando nessas crianças, pensando no casal. Pensando se eles apontaram para pedir ajuda ou mostrar aos meninos novas vítimas para se livrarem e fugir. Pensando até onde foi a faca.

Na segunda, procurar as notícias no jornal, para ver se não há nenhuma a respeito. Nada. Bom sinal? Como saber?... Saldo total: um joelho ralado e uma calça rasgada na queda. (Alguém ainda lamentou a calça, mas são muitos, e muito além daquele, os lamentos.) A calça vai ser guardada, para lembrar os olhos. E vão lembrar: os meninos, a faca, o casal. Impotência. Dúvida. Indignação. Na hora H o que predomina é o medo, e o impulso de fugir. O que poderia ser feito? Impotência. Dúvida. Indignação. E uma sensação de ridículo pela única coisa que se vai fazer efetivamente a respeito: comprar um par de tênis para correr melhor da próxima vez.

(Ligia Azevedo)

Um comentário:

Fernanda Teixeira disse...

A indignação e a impotência são os sentimentos que inundam o coração, vazio e acelerado depois de um susto desses. Fico pensando em você, tão delicada, tão especial... passando por uma situação assim. A violência é mesmo uma droga pesada.beijinho.