quinta-feira, 26 de julho de 2012

Niklasstrasse, 36


Processo colaborativo da Cia. dos Imaginários foi elaborado a partir da obra A Metamorfose, de Franz Kafka. A trama narra o caso de um homem que acorda transformado num gigantesco inseto e presencia um mundo repleto de
perversidade das relações familiares, das estruturas de dominação,
além da alienação humana

Baseado na obra A Metamorfose, de Franz Kafka, a Cia dos Imaginários volta com a peça Niklasstrasse, 36, dia 4 de fevereiro, sábado, às 21 horas, no Teatro Commune. A trama tem a direção de René Piazentin, responsável também pela adaptação do texto e direção de arte. Em cena, os personagens vividos pelos atores Aline Baba, Camila Nardoni, Luana Frez, Lucas Pinheiro e Mariana Viana revezam-se no papel de narradores da história.
“Uma nova temporada é sempre uma oportunidade para revisitar o próprio trabalho, especialmente quando ela não ocorre logo em seguida à primeira. É uma chance não só de levar a público novamente o trabalho, mas de olhá-lo com outro frescor. Como a temporada no Teatro Cacilda Becker foi curta, muitos nos perguntaram sobre a peça, achando que ela ainda estava em cartaz e acabaram perdendo a oportunidade de assistir. Esperamos que agora mais pessoas possam conhecer Niklasstrasse, 36", diz o diretor.

A montagem mostra uma manhã que deveria ser como outra qualquer, mas que marca, definitivamente, a vida de Gregor Samsa. A metamorfose já aconteceu. O que o espectador vê, ao longo da fábula kafkiana, é a transformação do entorno, das pessoas que convivem com Gregor - a clareza cada vez mais nítida sobre a perversidade das relações familiares, das estruturas de dominação, além da alienação humana.

Utilizando as palavras do texto de Kafka e trechos de comentários retirados de análises e traduções diversas sobre o autor, René criou uma encenação que traz o olhar de quem percebe a metamorfose e reage a partir dela.

O espaço cênico é alterado pela dinâmica do uso de objetos, em especial por malas em diversos tamanhos que guardam em seu interior elementos figurativos. As malas fazem referência à profissão de Gregor - caixeiro viajante. “O recurso essencial é o jogo de recodificação, sem a tentativa de uma perspectiva ilusionista”, comenta a atriz Mariana Viana sobre a direção de arte da peça. Para o figurino, René optou pelo simples. “Pequenas mudanças na indumentária dão suporte às mudanças de personagens.”

Para fazer a adaptação do livro A Metamorfose a equipe buscou seguir a linha da fábula original, mas sem passar por uma etapa de escrita de uma dramaturgia. René propôs que trechos do conto fossem improvisados diretamente pelos atores. Ele selecionou fragmentos que interessavam à narrativa, para aos poucos serem transformados em um roteiro. “A tentativa é ressaltar a metamorfose de Gregor pelo seu entorno - através do que acontece com as figuras exteriores à sua transformação - mais que na caracterização da figura central”, comenta o diretor.
“Encenar Kafka é um desafio, em especial no que diz respeito ao risco de se cair em alguns lugares comuns, como uma atmosfera lúgubre ou depressiva. Sem negar os elementos de densidade que estão presentes na essência da obra kafkiana, a proposta valoriza a ironia que emana do texto, em especial pela não adaptação do conto em uma estrutura de diálogos, mas no desmembramento da narrativa em vozes múltiplas que conduzem a fábula”, enfatiza René Piazzentin.

Sobre Kafka
Franz Kafka nasceu em Praga, no dia 3 de julho de 1883, filho de um rico comerciante judeu. A relação com o pai, com as diferentes estruturas de poder e um sentimento de espanto com a falta de sentido da existência humana são uma constante em sua obra, influenciada por três culturas: a judia, a tcheca e a alemã. Formou-se em direito, nunca se casou, foi funcionário de uma companhia de seguros. Durante toda sua vida teve uma saúde extremamente frágil e jamais conseguiu fama com seus livros.

Pouco antes de sua morte, em 3 de junho de 1924, em um sanatório para tuberculosos perto de Viena, pediu a seu amigo Max Brod que queimasse seus manuscritos. Graças à “traição” do amigo, hoje conhecemos obras como “O Castelo”, “O Foguista” (que é na verdade o primeiro capítulo de “América”), “A Sentença” e “O Artista da Fome”. “A Metamorfose”, seu conto mais conhecido, foi escrito em 1912, quando o autor tinha 29 anos. Na história, um homem acorda transformado em um “inseto monstruoso”, sem que haja qualquer explicação sobre como ou porque isso acontece. Através desta situação fantástica, Kafka dá seu testemunho de desespero frente ao absurdo e à opressão do mundo.

Sobre a Cia dos Imáginários
A Cia. dos Imaginários formou-se em 2006, a partir do encontro do diretor René Piazentin com atores que desejavam iniciar uma trajetória profissional vinculada à pesquisa e estruturação de uma linguagem cênica que valorizasse mais a construção de imagens e símbolos que o aspecto verbal. No repertório da companhia: Hamlet- Zero (adaptado de Shakespeare), As Troianas (Sartre), Quixote (Cervantes), Sonata dos Espectros (Strindberg).

Serviço:
Niklasstrasse, 36 – Reestreia dia 4 de fevereiro, sábado, às 21 horas, no Teatro Commune. Com a Cia. dos Imaginários. Processo Colaborativo a partir da obra A Metamorfose, de Franz Kafka. Elenco: Aline Baba, Camila Nardoni, Luana Frez, Lucas Almeida e Mariana Viana. Gênero: drama. Duração: 60 minutos. Classificação: 16 anos. Direção e adaptação: René Piazentin. Assistente de Direção: Carolina Loureiro. Coordenação do Projeto: Aline Baba. Preparação de Ator: Paulo Renato Panzeri. Iluminação, cenário e figurino: René Piazentin. Maquiagem: Carolina Costa. Produção: Núcleo Imaginário de Produção. Projeto gráfico: Mariana Viana. Fotografia: Mariana Noguera.
Teatro Commune - Rua da Consolação, 1.218. Telefone: (11) 3476-0792. Reestreia: dia 04 de fevereiro. Temporada: Sábados às 21 horas e domingos às 20 horas. Ingressos: R$ 20,00 e 10,00 (meia). Lotação: 86 lugares. Até 26 de fevereiro.

Nenhum comentário: