A exemplo da
montagem de O Livro dos Monstros
Guardados, de Rafael Primot, em 2009, o diretor Zé Henrique de Paula aposta na nova
dramaturgia brasileira e leva aos palcos o texto de autoria do jovem Ricardo Inhan,
formado pelo Núcleo de Dramaturgia do Sesi / British Council. Recentemente,
Inhan foi um
dos roteiristas da versão brasileira da série In Treatment, dirigida por Selton Mello.
Para Zé
Henrique, Mormaço se comunica, de
alguma forma, com as peças da Trilogia da
Guerra (As Troianas – Vozes da Guerra, Casa/Cabul e Bichado), ao abordar temas como
violência, poder e desesperança.
Mormaço narra histórias de jovens sem ambição,
devastados pelo isolamento e pela solidão. O enredo se desenvolve por meio de
três quadros: dois amigos punks que são agredidos por um grupo de
skinheads numa manhã ensolarada de domingo; dois irmãos presos em casa
que planejam a morte do pai; e dois amigos, numa pista de skate, que saem com a
mesma garota e aguardam o mormaço passar. Veja o site do grupo www.nucleoexperimental.com.br
Poder de
comunicação
Zé Henrique conheceu o
autor Ricardo Inhan em 2010, quando leu as peças produzidas no Núcleo de
Dramaturgia do SESI/British Council, segunda turma. “Das doze peças que eu li
naquele ano, a do Inhan me chamou a atenção pela escrita de alto poder de
comunicação, aliando sofisticação dramatúrgica, inventividade formal e aquilo
que eu busco em qualquer texto teatral, um olhar humano sobre os personagens”,
diz o diretor.
Começou uma correspondência
entre os dois e Ricardo foi mandando para Zé seus outros textos. Mormaço foi desenvolvido durante esse
período, em parceria com integrantes do Núcleo Experimental que haviam
trabalhado como assistentes de direção. “Com a peça mais amadurecida, acabei
achando que ela já podia ser trabalhada com um grupo de atores e vir à cena”,
fala Zé Henrique.
Sobre a montagem da peça, o
encenador conta que ele e o grupo passaram mais da metade do processo debruçados
sobre o estudo do texto, dos temas abordados, da gênese dos personagens e dos
elementos visuais que inspiram a encenação (arte de rua, grafite, o registro
fotográfico dos movimentos punk e skinhead, além de obras de pintores como
Schiele, Rebolo e Munch).
“Como sempre, tenho
privilegiado o trabalho dos atores, a ideia de descobrir e investigar a peça com
os atores na sala de ensaio, o teatro como processo mais do que
resultado. Claro que prezo pelo
acabamento visual e musical - desta vez, a parceria em música se dá com o músico
Hélio Flanders, vocalista da banda Vanguart”, diz Zé
Henrique.
É a segunda peça que o
grupo ensaia inteiramente no Teatro do Núcleo Experimental. Para o diretor,
“esse fato, sem dúvida, acrescenta um outro elemento à concepção de direção, que
é a interação com o nosso espaço cênico, a possibilidade de descobrirmos a
concretude, a materialidade da peça, no próprio espaço em que ela será
encenada”.
Desta vez, Zé
Henrique de Paula usará o espaço aberto, as perspectivas, as longas distâncias,
a ocupação dos cantos e dos vãos da sala, criando o ambiente inóspito e
sufocante que Ricardo Inhan sugere para as três cenas da peça.
Texto
potente
Para Ricardo Inhan, o texto de Mormaço não respeita a ideia de trama.
“Não é uma obra que permite uma aproximação com um enredo feito para dar sentido
nas ações e criar emoções de identificação no espectador”, explica.
O texto
foi escrito para mostrar (e não discutir) as circunstâncias que levam
determinadas ações de violência a lugares extremos.
“É um mosaico sobre
desesperança e desamparo. Ao mesmo tempo em que não permite uma interpretação
imediata, uma única visão de mundo. Acho que pode ser um texto potente, por
operar por outras formas de subjetivação e não focar em construções de
personagens, mas por rascunhos de personalidades.”
Para o autor, Zé Henrique é um diretor de escolhas dramatúrgicas interessantes, corajosas. “O impacto da primeira vez que vi uma peça sob sua direção foi forte e pensei 'quero que esse cara dirija uma peça minha um dia'. Quando o conheci percebi que, além de inteligência e uma observação particular sobre o fazer teatral, ele é um diretor de estilo próprio, dono de um universo particular, e isso é raro fundamento para qualquer artista.”
Vocalista da
Vanguart
O músico Hélio Flanders, da banda Vanguart,
recebeu o convite para fazer a trilha sonora do espetáculo. “Tinha ouvido falar
muito bem do trabalho do Zé Henrique e logo que tive mais contato com suas
montagens, ele é absurdo! Admiro muito o Zé, suas observações para a criação da
sonoplastia serão muito importantes. O texto de Mormaço é muito instigante e já
estou sentindo uma conexão forte com a trilha. A ansiedade de fazer algo inédito
se mescla a uma excitação enorme e o prazer de estar trabalhando com um diretor
tão talentoso”, afirma Hélio.
Na concepção da trilha
sonora, Hélio Flanders pretende
utilizar colagens e alguns enxertos de música clássica, além de climáticas e
ambiências. Vocalista do Vanguart, Hélio Flanders continuará, no segundo
semestre, com a turnê de Boa Parte de Mim
Vai Embora (o álbum foi recordista de indicações ao VMB Brasil 2012) e, em
outubro, entra em estúdio para gravar o terceiro álbum da
banda.
Ficha
Técnica:
Mormaço
-
Direção: Zé Henrique de Paula. Texto: Ricardo Inhan.
Assistente de Direção: Thiago Vieira. Produção: Firma de Teatro.
Realização: Núcleo Experimental. Elenco: Ana Elisa
Mattos, Danilo Rodriguez, Edu Zenati, Gisa Araújo, Juliana Calderón, Laerte
Késsimos, Rafaela Cassol, Ricardo Mancini, Simone Sallas, Stephanie Lourenço,
Thiago Vieira, Tiago Real, Valmir Martins. Para maiores informações:
www.nucleoexperimental.com.br
Para roteiro:
Estreia
9 de agosto, quinta-feira, no Teatro do Núcleo Experimental, na
Rua Barra Funda, 637. Temporada – 9 a 27 de agosto. De sexta a segunda –
sextas, sábados e segundas às 21h. Domingos às 19h. Ingresso: R$ 30,00 inteira /
R$ 15,00 meia. Ingresso gratuito às sextas (sujeito à lotação da sala).
Capacidade: 50 lugares. Duração: 60 minutos. Censura: 16 anos.
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