Heitor Flumian, especial para o Blog do Dudu
Creio que raríssimas pessoas foram felizes nos seus palpites nos ‘‘bolões’’ da Copa por aí. Os viciados em futebol, certamente, foram surpreendidos (novamente?); logo, mulheres (desculpem-me, vocês são a razão da nossa existência, mas a verdade é que a grande maioria não entende bulhufas), ranzinzas de plantão (apenas pessoas infelizes teimam em menosprezar a redonda e seus 22 marmanjos) e leigos despretensiosos (por que não participar da brincadeira?) devem ter ganhado uma graninha nesse bolão.
A Copa, assim como sua cria Jabulani, está um tanto inconstante. Com exceção da Alemanha entre as seleções semifinalistas – esteve entre as quatro melhores em 11 edições das 18 disputadas até agora – parece que tudo pode acontecer. As sempre favoritas seleções do Brasil, Itália, França e Inglaterra decepcionaram.
Os guerreiros-brahmeiros-religiosos canarinhos até ameaçaram brilhar, mas não se ganha o mais importante e desejado campeonato de futebol do planeta apenas com uma ótima zaga, com um ataque renomado e com os 11 titulares. O meio campo é o equilíbrio do time, onde é dada a cadência ao jogo, e nosso afável Dunga só levou carregadores de piano entre os reservas para essa posição, preterindo qualquer possibilidade de futebol arte que ousasse sair de seu regime tático para definir uma partida.
Já os vaidosos italianos envelheceram e pouco renovaram na convocação; a maioria dos jogadores deveria ter se aposentado da seleção após a conquista de 2006 a tempo de sair ‘‘por cima’’. Os nossos carrascos franceses, sem o maestro Zidane, protagonizaram o maior papelão da competição graças à arrogância e a falta de carisma de seu técnico aliado ao conflito de egos e de disciplina de alguns de seus principais jogadores. Os ingleses, por sua vez, deixaram o bom futebol no badalado Campeonato Inglês e seu maior destaque em terras africanas foi Mick Jagger, o maior pé-frio da história.
A Argentina só é decepção para nós quando ganha, então, fizeram bonito! Se os hermanos vencessem o mundial com Maradona como técnico, o mundo não seria o bastante para tanta auto-estima. Do futebol africano também se esperava mais, porém menos por sua evolução futebolística nos últimos anos que pela comum idealização de vê-lo, pela primeira vez e em seu continente, no topo do mundo. Pecaram ao tentar europeizar seu estilo de jogar futebol, jogando de maneira excessivamente pragmática, perdendo sua peculiar alegria, a magia do imprevisto, da gingada que leva ao gol e da posterior dança na comemoração. Americanos e orientais vêm melhorando cada vez mais e, junto aos sul-americanos do segundo escalão, fazem da Copa do Mundo uma competição mais equilibrada e difícil de ser conquistada.
Camisa e tradição não ganham mais jogo, e isso é bom para o futebol, o mais popular e democrático dos esportes. Popular pois não há outro esporte que pare o mundo para ser apreciado. Democrático porque não é preciso mais do que dom e um par de pernas para praticá-lo; brancos, negros, amarelos, altos, baixos, velozes, lentos, fortes, franzinos, religiosos, boêmios, há gramado para todos.
Dessa vez Espanha, que costuma chegar como uma das favoritas e amarelar no caminho, e Holanda, que foi duas vezes vice-campeã, farão uma inédita e inesperada final. Domingo uma delas entrará no seleto grupo das campeãs mundiais (Brasil, Itália, Alemanha, Argentina, Uruguai, França e Inglaterra). E depois disso, só lamento. Serão mais quatro longos anos na espera pelos próximos gols, polêmicas de arbitragem, musas nas arquibancadas, folgas no trabalho e bolões imprevisíveis.