Por Douglas Picchetti
Eu sempre peço para, depois de morto, ser cremado ou jogado no mar. Minha família e meus amigos já sabem - quem não souber, fique sabendo agora. Um dos maiores medos da minha vida é acordar vivo num caixão. Deus me livre, já imaginaram? Sem água, sem comida, sem poder me mexer, e o pior de tudo: sem sono, para poder dormir por horas e horas. Seria impossível se levantar, virar de lado ou deitar de bruços.
É exatamente nesse pesadelo que estão vivendo milhares de haitianos agora. Ainda existem corpos soterrados pelos escombros e todos os dias alguém é resgatado com vida, ou pelo menos consciente. Trauma eterno. O pior de tudo, além da dor insuportável, é não saber o que aconteceu. Imaginem só: você estava fazendo compras, andando pela rua, levando seu cão para passear e, de repente, BUM: acorda soterrado, com outra visão, em outro universo e sem ninguém pra te contar nada. A hipótese de que aconteceu um terremoto gravíssimo, que abalou as estruturas do mundo inteiro – inclusive as emocionais – e que exista uma equipe à procura de desaparecidos até hoje, dezessete dias após o desastre, nem deve passar pela cabeça da vítima.
Eu não costumo me abalar com tragédias, mas essa me agonizou, principalmente pelo meu medo de ser enterrado vivo. Nessas condições, eu certamente prenderia a respiração e pronto! Acabaria logo com a tortura.Agora, se mesmo sabendo do meu medo, quiserem teimar e me enterrar, não poderei me defender. Mas, por favor: coloquem uma campainha no meu caixão ou me enterrem numa super casinha, cheia de comidas, água e um depósito bonitinho para fazer as necessidades. Se não eu ficarei muito, mas muito chateado.
4 comentários:
Obrigado por publicar aqui, Fê. Eu adoro estar no Blog do Dudu.
Gosto de ler o que você escreve, Douglas. Escreva mais, você é um cronista. Dou a maior força!
Douglas, vc não assistiu Kill Bill 2? Vai treinando na madeira...rsrs
Mas eu tbm penso muito na agonia dessas pessoas soterradas. A imagem daquela mulher grávida, que foi resgatada por um soldado brasileiro, me marcou muito.
bj
Adriana
Sei como é, Douglas, tenho uma certa claustrofobia. Quando eu me form, também quero virar pó! rsr
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