quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Da bermuda rasgada a bota bico fino



Não é por nada, não, mas não costumo jogar. Desligada, esqueço que existe esse tipo de divertimento/passatempo. Assim, nunca penso em ganhar na loteria. Acontece que na modalidade amigos tirei o bilhete premiado. Sempre que sobrar um tempinho, vou dedicar algumas linhas a alguns deles, os mais antigos talvez. Posso mudar de ideia, entretanto hoje começo por uma pessoa de personalidade forte, interessante e que esteve comigo nos momentos mais importantes da vida.

Bancária e instrumentista, agora optou pela segunda carreira. Graças a isso, não acorda mais de mau-humor, atrasada, reclamando de tudo. Ó vida, ó azar, a imagem da hiena Hardly do desenho animado desgrudou dela, musicista de primeira. A montanha de compromissos continua. Difícil ela aceitar de primeira um programa. Festa, jantar? Não sei se posso, tenho que ensaiar, arrumar o quarto, fazer uma trilha, produzir aquela faixa.

Bermuda abaixo do joelho, tênis all star gasto, camiseta rasgada com logo de grupo de rock. Contrabaixo no ombro, a cara amarrada, nosso primeiro encontro não foi dos mais amigáveis. Tocava na banda de uma amiga em comum, de quem eu era produtora - hoje cantora com músicas direto na rádio. Afinidades musicais descobertas, começamos a ir juntas a shows, então ficamos amigas.

Como todos os amigos, dividimos bons e maus pedaços, no tempo de vacas mais magras. Ela trabalhava na Caixa Econômica Federal, agência Cambuci, e já tinha uma banda de reggae de meninas (a Shallabal). Eu tinha acabado de trocar a Folha da Tarde pelo Shopping News, onde segui escrevendo sobre música.

Passam cenas na cabeça, da gente em Camburi, da visita a sua mãe na UTI, da missa de sétimo dia de meu pai (ela e a amiga em comum Liane Rossi), da gente comprando bota de bico fino para ela fazer show, da noite que fomos assistir ao imperdível Os Sete Afluentes do Rio Ota, com cinco horas de duração, o encontro com a maravilhosa Maria Luisa Mendonça no hall do antigo teatro Hilton (a atriz "lindona", como ela chama seus queridos, e de sotaque carregado, frequentou muito a Arteplural – almoçava com a gente, se esparramava no sofá, via novela no Vale a Pena ver de Novo, conversava com minha mãe e sempre mandava beijos pro Dudu).

Da Vila Madalena aos espaços mais alternativos da cidade, como Madame Satã, acompanhei vários de seus shows com as muitas bandas com quem já trabalhou, de grupo de reggae a de forró. Ex-baixista de Paulo Miklos, é produtora musical de gosto refinado. Recentemente, assinou a produção do novo CD de Moisés Santana. Agora, ao lado de Gigi Trujilo, encabeça o original projeto Chalalá é Chic. Guardem esse nome, que ainda vamos ouvir falar muito dele.

Sensível, não raro fica com a emoção à flor da pele. No dia em que castrou seu gato, chegou em casa chorando que nem um bezerro desmamado. "Eu não tinha o direito", falava e de debulhava em lágrimas. Não poupava cuidados e atenção ao Boris, seu cão doente.

O lado esquentado também conta - hoje ela equilibra bem os dois. Batalhadora, comprou apê, juntou mais dindim e depois investiu numa casa antiga, que reformou toda para fazer um belo estúdio de gravação - que abriga também escritório com lugar para seus vinis e aparelho de videocassete - num bairro gostoso da cidade. Os amigos brincam que ela desencalhou. Ri, acho que concorda. Também falam que não gosta de ligar o ar condicionado no auge do Verão. Para economizar. Sorri, sem negar. Responsável e organizada, a criativa pisciana Gigi Magno tem seus métodos para realizar seus projetos. E que projetos! Parafraseando o escritor Mário Prata, ela inaugura a lista de "meus homens e minhas mulheres".

(Fernanda Teixeira)

8 comentários:

Unknown disse...

Adorei, Fezinha.

Bj,
Bribba

Fê disse...

oi briba, é ou não é a cara dela?
bj e obrigada pela visita. Fê

Marli Gonçalves disse...

Fernanda, Adorei a idéia do Blog do Dudu, de vc falar dos amigos! É mais ou menos igual ao dia que eu escreve NUMPINTUMSÃO.

Claudia Perroni disse...

Oi Fernandinha, Adorei te reencontrar e receber seus mails.
Visitei o site da arte plural
e fiquei impressionada com o seu talento...Parabéns.bjs

Vicina Restaurante Pizzaria disse...

Algumas pessoas são fazedores de casebres outros de monumentos e
construir amizade é uma obra arquitetonica para poucos e este arte é dom de Deus!

Legal sua idéia de contar um pedacinho da alma das suas "construções"

beijos
Renata

Sandra Polaquini disse...

Histórias que já conheço de ouvir falar... é a cara do "ti.......".

Fê disse...

Renata, assim fico envergonhada, hein? beijo!

Anny Santos disse...

Que lindo o seu texto, acho que nem os familiares dela a conhecem tanto quanto você. Pode ter certeza de que tudo que escreveu, descreve o como ela é. Gi, é uma figura muito especial, amiga e acima de tudo (apesar de sempre estar ocupada e atrasada) companheira, ela é uma pessoa para não se perder nunca. Ela realmente é uma pessoa digamos que surpreende todas as expectativas, uns dias se veste e se porta como criança encrenqueira e outros como uma ladie, assim é Gigi Magno. No lado musical tenho a dizer que apesar de muito pouco conhecimento nesta arte, ela sempre se mostra muito responsável e coesa em tudo que faz. Detesta injustiça (com toda razão), já esteve com pessoas extremamente capazes em todos os sentidos e outras que posso afirmar que eticamente nem tanto, mas assim vai levando sua vida artística com muita seriedade para obter o sucesso. A Gi é merecedora de todas as suas conquistas e uma delas de ser sua amiga. PS: ontem quando a encontrei, ela estava chorando de ter lido o seu texto, ela realmente é especial e sensível.
Adorei muito o texto! Bjs