Doutora em Teatro pela Usp
Livre Docente pela Unicamp
Quando João Gilberto gravou chega de saudade tinha toda a razão. Não eram só as canções vigentes mas também o modo exagerado de cantar que estavam em questão. A temporada teatral, especialmente do segundo semestre deste ano, está merecendo esse protesto contra o pessimismo vigente. O Brasil sempre foi o país da esperança, do afeto, do otimismo, do bom humor. Não dá pra entender porque abraçar o pessimismo europeu de um Beckett e de outros tantos autores internacionais que caíram nas graças das produções do momento. Afinal nossa participação nas duas guerras foi irrisória, a crise econômica internacional foi mil vezes melhor que no Velho Mundo e desde os fins do século 19 a humanidade já sabe que a ciências humanas estão longe de ser infalíveis.
Também já se tomou consciência naquela época de que a comunicação humana é imperfeita, visto que não conseguimos entrar e sair dentro do mundo do outro e, às vezes, nem do nosso próprio mundo. Mas vale lembrar que, se mesmo num ato de amor, não sabemos exatamente como o outro está sentindo isso não impede que tal ato nos faça felizes e alegres. Não é porque a comunicação é imperfeita que não é bom ter amigos, papear e sair juntos.
Que Samuel Beckett tenha feito grande sucesso porque as pessoas começaram a compreender esses fenômenos a partir do trabalho da Gestalt, nos parece verdadeiro. Mas Esperando Godot foi escrita em 59. Faz tanto tempo, que me lembro do inesquecível professor Anatol Rosenfeld (falecido em 1973) explicar que a “humanidade chora a perda do absoluto”.
Chega de tanto pessimismo e tanto monólogo. Contamos com uma safra de excelentes dramaturgos que devem ter peças bem menos choronas dentro da gaveta: Sérgio ROveri, Newton Moreno, Mário Viana, Jarbas Capusso, Gilberto Amêndola, Antonio Rogério Toscano, Naum Alves de Souza, Franz Kepler, Antonio Rocco, Samir Yazbek, fora os que não estou lembrando e os mais montados como Adelaide Amaral, Marta Góes e tantos outros e outras.
Será que esse tipo de repertório ora em cartaz traz ou tira público dos teatros?
Pelo que tenho ouvidos dos críticos cansa qualquer um.
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