A militância não faz meu estilo. Sempre preferi o low profile. Em todas as áreas. Ao mesmo tempo, sempre tentei lutar pelos meus direitos. Em todas as áreas também. (Até quando era pré-adolescente e quebrei o maior pau com meus pais porque eles não deixaram que eu fosse para a Bahia sozinha de ônibus. Não entendia porque meu irmão, de 15 anos, podia e eu não.) Por isso, depois de anos, é uma alegria renovada ir à nova edição da Parada Gay de São Paulo. A de domingo foi a 13a, e até parece que foi ontem quando a gente ainda conseguia ocupar um espaço considerável na rua, no vão livre do masp, para combinar de encontrar os amigos. Não tinha prefeito, nem governador, e já era um compromisso importante. Nos anos seguintes, minha claustrofobia permitia, ao máximo, ficar parada em uma das esquinas da Paulista, na Rocha Azevedo, Peixoto Gomide, olhando tudo e todos.
Homossexuais, travestis, héteros de todos os tipos – vovôs, vovós, titias, cachorros, crianças e até bebês – já freqüentavam. Mesmo que no dia seguinte as plumas e os paetês eram o que mais se via nos jornais e nas TVs. Compreensível, porque as fantasias coloridas sempre fizeram mais a alegria de fotógrafos e emissoras que a gente comum, sem maquiagem, sem graça, sem o glamour (?) esperado pela mídia. Os estereótipos chamam mais a atenção, rendem pauta, assim como as notícias de tragédias despertam mais a curiosidade do ser humano (ô gente esquisita!).
Ontem, pelo segundo ano consecutivo, aceitei o convite da jornalista Roseli Tardelli, diretora da Agência de Notícias da Aids, para ficar no Camarote Solidário, promovido por ela, e assistir ao desfile do mezanino do Conjunto Nacional. A iniciativa da jornalista já tem 7 anos e agora conta com o apoio DKT do Brasil e do Programa Municipal de DST/Aids e tem por objetivo recolher alimentos para as casas de apoio às pessoas que vivem com HIV/aids, como a Casa Brenda Lee e o Grupo de Apoio e Prevenção à Aids, o Gapa, entre outros. Os convidados precisam levar 5 quilos de alimento não perecível para ver a parada lá de cima, lugar privilegiado, com visão deslumbrante do evento. A avenida lotada, colorida de pessoas de todos os tipos. Ainda mais num dia claro de sol, céu azul, a luz refletindo nos prédios. Um bufê de comidinhas, bebidas e caldos era servido enquanto a DKT distribuía preservativos Prudence, sabor chocolate.
Toda orgulhosa, não sem motivo, Rosely nos apresentou a vice-prefeita de São Paulo Alda Marco Antônio, que disse ser "uma emoção diferente ver a parada do Camarote". Entre jornalistas a trabalho e um batalhão a paisana, assim como produtores, atores e gente, muita gente desconhecida andava de mãos dadas com seus pares. Discreta em seu canto, a cantora Wanderléa se mostrava solícita a cada pedido para tirar fotos.
Também foram à parada, mas não ao Camarote, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e o governador do Estado de São Paulo José Serra, além de Martha Suplicy. Fico pensando que isso quer dizer alguma coisa. Que os caras não iam sair de casa num domingão gelado de junho à toa. Eles não iam é deixar de aproveitar a oportunidade de aparecer e se mostrar favoráveis à causa. Santa ingenuidade, Batman! De acordo com o que li pela internet assim que cheguei em casa, projeções da SP Turis, que gerencia o Turismo em São Paulo, davam conta que a cidade recebeu 400 mil turistas. Ainda pelos dados da empresa, que li no Uol, o impacto na economia deverá ser de R$ 200 milhões e a taxa de ocupação dos hotéis foi cerca de 90%. Financeiramente falando, os dados são mais que atraentes – e devem fazer qualquer político perder o preconceito rapidinho. A expectativa dos organizadores é ter reunido 3,5 milhões de pessoas.
Também pesquei na internet que José Serra disse apoiar a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Na entrevista coletiva, realizada ontem de manhã, envolvendo lideranças das comunidades LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e dirigentes e organizadores da 13ª Parada Gay de São Paulo, ele afirmou: "A união estável, que inclusive já tem um processo sobre isso, e está realmente rolando, nós apoiamos". O tom marcante da entrevista, dizia a matéria publicada no site da própria Agência de Notícias da Aids, foi a crítica em relação à demora por parte do Senado em aprovar um projeto de lei que criminaliza a homofobia. O texto já foi aprovado pelos deputados federais e depende agora de análise do Senado, onde encontra resistência. Essa demora faz com que a intolerância continue rolando livre, humilhando, matando gente do bem. É a arma dos covardes, ignorantes, reacionários, xiitas, dos desprovidos de inteligência, respeito e humanidade.
Voltando ao preconceito, se hoje a meninada na faixa dos vinte e poucos anos já se arrisca a andar naturalmente de mãos dadas pelas ruas de São Paulo, com suas namoradas e namorados, muita água teve que rolar nas últimas duas décadas para o cenário ter mudado um pouco de figura. Mesmo que gays ainda sejam alvo de crimes bárbaros e que o projeto de lei acima mencionado precise ser sancionado, o medo de ser descriminado nas ruas parece que diminuiu, pelo menos sinto no ar. Assim como dá para notar, está na cara, o orgulho nos olhos das pessoas. Cabeça erguida, nariz empinado, a certeza de que a batalha pela conquista do respeito valeu a pena, e que sair do armário era necessário para isso acontecer.
Parabéns, Roseli Tardelli, você é muito responsável por essa mudança de comportamento.
Homossexuais, travestis, héteros de todos os tipos – vovôs, vovós, titias, cachorros, crianças e até bebês – já freqüentavam. Mesmo que no dia seguinte as plumas e os paetês eram o que mais se via nos jornais e nas TVs. Compreensível, porque as fantasias coloridas sempre fizeram mais a alegria de fotógrafos e emissoras que a gente comum, sem maquiagem, sem graça, sem o glamour (?) esperado pela mídia. Os estereótipos chamam mais a atenção, rendem pauta, assim como as notícias de tragédias despertam mais a curiosidade do ser humano (ô gente esquisita!).
Ontem, pelo segundo ano consecutivo, aceitei o convite da jornalista Roseli Tardelli, diretora da Agência de Notícias da Aids, para ficar no Camarote Solidário, promovido por ela, e assistir ao desfile do mezanino do Conjunto Nacional. A iniciativa da jornalista já tem 7 anos e agora conta com o apoio DKT do Brasil e do Programa Municipal de DST/Aids e tem por objetivo recolher alimentos para as casas de apoio às pessoas que vivem com HIV/aids, como a Casa Brenda Lee e o Grupo de Apoio e Prevenção à Aids, o Gapa, entre outros. Os convidados precisam levar 5 quilos de alimento não perecível para ver a parada lá de cima, lugar privilegiado, com visão deslumbrante do evento. A avenida lotada, colorida de pessoas de todos os tipos. Ainda mais num dia claro de sol, céu azul, a luz refletindo nos prédios. Um bufê de comidinhas, bebidas e caldos era servido enquanto a DKT distribuía preservativos Prudence, sabor chocolate.
Toda orgulhosa, não sem motivo, Rosely nos apresentou a vice-prefeita de São Paulo Alda Marco Antônio, que disse ser "uma emoção diferente ver a parada do Camarote". Entre jornalistas a trabalho e um batalhão a paisana, assim como produtores, atores e gente, muita gente desconhecida andava de mãos dadas com seus pares. Discreta em seu canto, a cantora Wanderléa se mostrava solícita a cada pedido para tirar fotos.
Também foram à parada, mas não ao Camarote, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e o governador do Estado de São Paulo José Serra, além de Martha Suplicy. Fico pensando que isso quer dizer alguma coisa. Que os caras não iam sair de casa num domingão gelado de junho à toa. Eles não iam é deixar de aproveitar a oportunidade de aparecer e se mostrar favoráveis à causa. Santa ingenuidade, Batman! De acordo com o que li pela internet assim que cheguei em casa, projeções da SP Turis, que gerencia o Turismo em São Paulo, davam conta que a cidade recebeu 400 mil turistas. Ainda pelos dados da empresa, que li no Uol, o impacto na economia deverá ser de R$ 200 milhões e a taxa de ocupação dos hotéis foi cerca de 90%. Financeiramente falando, os dados são mais que atraentes – e devem fazer qualquer político perder o preconceito rapidinho. A expectativa dos organizadores é ter reunido 3,5 milhões de pessoas.
Também pesquei na internet que José Serra disse apoiar a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Na entrevista coletiva, realizada ontem de manhã, envolvendo lideranças das comunidades LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e dirigentes e organizadores da 13ª Parada Gay de São Paulo, ele afirmou: "A união estável, que inclusive já tem um processo sobre isso, e está realmente rolando, nós apoiamos". O tom marcante da entrevista, dizia a matéria publicada no site da própria Agência de Notícias da Aids, foi a crítica em relação à demora por parte do Senado em aprovar um projeto de lei que criminaliza a homofobia. O texto já foi aprovado pelos deputados federais e depende agora de análise do Senado, onde encontra resistência. Essa demora faz com que a intolerância continue rolando livre, humilhando, matando gente do bem. É a arma dos covardes, ignorantes, reacionários, xiitas, dos desprovidos de inteligência, respeito e humanidade.
Voltando ao preconceito, se hoje a meninada na faixa dos vinte e poucos anos já se arrisca a andar naturalmente de mãos dadas pelas ruas de São Paulo, com suas namoradas e namorados, muita água teve que rolar nas últimas duas décadas para o cenário ter mudado um pouco de figura. Mesmo que gays ainda sejam alvo de crimes bárbaros e que o projeto de lei acima mencionado precise ser sancionado, o medo de ser descriminado nas ruas parece que diminuiu, pelo menos sinto no ar. Assim como dá para notar, está na cara, o orgulho nos olhos das pessoas. Cabeça erguida, nariz empinado, a certeza de que a batalha pela conquista do respeito valeu a pena, e que sair do armário era necessário para isso acontecer.
Parabéns, Roseli Tardelli, você é muito responsável por essa mudança de comportamento.
Fotos de Adriana Balsanelli e Vera Toledo Piza.
(Fernanda Teixeira)
(Fernanda Teixeira)
4 comentários:
Delícia ler vc, Fê!!
bjs,
Clê
Mais que uma cobertura do evento, Fê, você fez foi uma crônica deliciosa. Parabéns! Ah, adorei sua lista das coisas irritantes e já me vi fazendo (ou sofrendo) algumas. Mas me diverti imaginando você chegar de taxi em casa, e só então lembrar que tinha ido de carro. Essa foi a the best.
nani, chérie, i love you so much! sinto não poder ter ido ao lançamento de nossa amiga Laura Fuentes, que vc ajudou a divulgar.
Obrigada sempre pelas doces palavras. beijo!
cleidoca, minha sobrinha de casamento, quanto amo você!!! e não devolvi a ligação de sexta. Amanhã eu ligo. beijos!
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