Fidelidade, lealdade, casamento profissional, afinidades. Não sei qual palavra definiria melhor a parceria de quase 10 anos com o diretor Gabriel Villela. Como jornalista responsável pela assessoria de imprensa de pelo menos 11 de seus espetáculos, sempre me senti privilegiada com os convites para integrar sua equipe, "sua turma", como ele gosta de dizer. Sim, porque a gente vira amigo, desenvolve um sentimento especial pelas pessoas em volta dele. Dos técnicos à camareira, passando, é claro, pelos atores. Com alguns, laços de amizade; com outros, a simples passagem pela minha vida deixou sinais importantes.
Leopoldo Pacheco, Vera Zimmermann, Domingos Quintiliano, Serrroni, Renatinha Alvin, Thiago Lacerda, Dona Cleide, Maria do Carmo Soares, Walderez de Barros, Fábio Mazzoni, Daniel Maia, Babaya, Rachel Ripani, Cacá Toledo, Dib Carneiro, Magali Bif, Marcelo Várzea, Pascoal, Pedrinho, Rodrigo, Rodolfo, César Augusto, Ivan Andrade e mais um pá de gente que conheci por causa dele. Estava prestes a escrever Alcides Nogueira, mas este veio antes e também é caso de amor à parte – conheci o Tide no incrível Traças da Paixão (com Claudinho Fontana e Walderez de Barros), que fui convidada a fazer por Chico Marques.
Da Ópera do Malandro (2000, de Chico Buarque), quando era diretor artístico do TBC, depois da saída de Fauzi Arap, a Vestido de Noiva (de Nelson Rodrigues, prestes a estrear no Teatro Vivo), nossa rica trajetória passou por momentos mais ou menos difíceis – e quando digo isso me refiro às adversidades que acompanharam alguns dos trabalhos. Como em Mossoró, no Rio Grande do Norte, a 350 km de Natal, quando o calor absurdo do clima semi-árido do sertão daquela terra ameaçava derreter nossos miolos. Estávamos tão longe e tão perto naqueles dias, ele tentando proteger "meu coraçãozinho", como disse na época.
Além de conviver com um profissional criativo, inteligente, de cultura refinada - com as raízes mineiras do barroco e a visão panorâmica da arte universal impregnada em seus olhos e coração -, tenho a sorte de conhecer o homem sensível, generoso, carinhoso, preocupado em jogar foco de luz sobre as várias pessoas da ficha técnica da peça que está dirigindo. Como todos os que se gostam, algumas vezes tivemos brigas, sempre superadas por esse fascínio exercido por ele sobre quem está perto, essa força estranha que puxa a gente para o lado de quem amamos e respeitamos.
Nessa estrada de aprendizado, realmente usufruí o que pude de nossa convivência – mesmo observando, muitas vezes só de longe, os trabalhos de mesa, a confecção de figurinos (seja no TBC ou em ateliês montados por ele em outros locais) e cenários, a afinação da luz, enfim todas as etapas de um processo de produção teatral, os ensaios, as entrevistas, as passagens de cena para televisão, as coletivas de imprensa. De Calígula (2008, Sesc Pinheiros), Salmo 91 (2007, Sesc Santana e Oficina), Leonce e Lena (2006, Sesc Avenida Paulista), Esperando Godot (2006, Sesc Belenzinho), Fausto Zero (2003, Espaço Promon), A Ponte e a Água de Piscina (2004, CCBB - SP), O Auto da Liberdade (2003, Mossoró, RN), Gota D'Água (2001, Tom Brasil e TBC) até Saltimbancos (2001, TBC), só posso comemorar sua lealdade a mim.
Gosto quando ele me liga para trocarmos figurinha sobre qualquer assunto e, principalmente, sobre os espetáculos, a ansiedade na véspera das estreias. Atualmente, andamos nos vendo mais, por conta da estreia de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, com Leandra Leal, Vera Zimmermann, Luciana Carnieli, Marcello Antony, Cacá Toledo, Helô Castilho, Rodrigo Fregnan, Pedro Moutinho, Flávio Tolezani, Maria do Carmo Soares.
(Fernanda Teixeira)
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Vestido de Noiva - Bastidores
Uma das coisas mais bacanas de trabalhar com o diretor Gabriel Villela é ter a chance de aprender sempre mais sobre teatro. Acompanhar uma entrevista com Gabriel, além de ser um grande prazer, é uma lição sobre teatro, autores, filósofos, pensadores, diretores e tudo o que envolve o universo teatral. As coletivas que antecedem suas montagens sempre rendem boas matérias para os colegas da imprensa e engraçadas conversas de bastidores.
O assédio da imprensa é intenso e assim foi também na coletiva de imprensa da peça Vestido de Noiva, nova montagem do diretor que estreia dia 9 de maio, no Teatro Vivo. Como brincou o ator Marcelo Antony, “Gabriel Villela ao centro e seus apóstolos”, conduzia a coletiva, com espaço para todos falarem e divagar sobre Nelson Rodrigues.
O encontro reuniu cerca de 20 veículos, no Teatro Vivo, na tarde de quarta-feira, 29 de abril. Durante mais de uma hora, os jornalistas entrevistaram o diretor, seus assistentes e os 10 atores do elenco. Ficamos sabendo que as pinceladas do diretor Gabriel Villela em sua encenação de Vestido de Noiva vão de referências ao espetáculo Café Muller, da coreógrafa alemã Pina Bausch, a homenagem a Antunes Filho. Abaixo alguns momentos da coletiva.
(Adriana Balsanelli)