quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Sobre cavaleiros inexistentes, alephs e escritores imortais

Pensei muito sobre como fazer meu début neste blog. Poderia comentar algo sobre a situação política atual, como a Fê fez tão bem, resenhar algum filme que vi recentemente, falar sobre algum CD interessante ou uma banda legal e desconhecida que tenha parado sem querer em meus ouvidos. Mas o único jeito de começar direito seria com a minha grande paixão, os livros.

Sempre amei os livros. E digo os livros, não literatura, porque a paixão não se refere somente às palavras que parecem ter o ritmo certo na mão do autor, mas também ao papel, à diagramação, à capa, ao cheiro, à textura. É muito difícil que me peguem sem um livro na bolsa. Sempre carrego um comigo, para garantir que, em qualquer lacuna do cotidiano, possa escapar para seja lá qual universo fantasioso que ele possa abrir para mim.

Em especial, sou fascinada pelo realismo fantástico. Terminei, anteontem, O Cavaleiro Inexistente, de Ítalo Calvino. Não posso dizer que se tornou um de meus favoritos, mas gostei muito. Como todo Calvino, é bem escrito, com um humor de refinada ironia lançado aqui e ali pela freira-narradora. O cavaleiro que não existe, mas é capaz de ser, ao lado de seu escudeiro que não tem consciência de ser, mas existe, lançam o pensamento a múltiplas direções, desde Quixote até os gregos Heráclito e Parmênides. O enredo fantástico beira o absurdo, com cavaleiros de Carlos Magno e do Santo Graal, aldeões corajosos, viúvas insaciáveis e amores improváveis.

Para citar um de meus favoritos, indico Borges. O Aleph foi minha porta de entrada ao mundo do realismo fantástico. Desde Os Imortais até o conto que dá nome ao livro, meus olhos não podiam se desviar das palavras que pareciam inexistir, como se o autor e suas histórias estivessem diretamente em meu pensamento, sem mediação. Difícil acreditar que ele – apesar de todas suas polêmicas pessoais – não gostasse do que escrevia. Mais do que como autor, ele gostaria de poder definir seu mérito como leitor (afinal, você nunca escreve algo tão bom quanto gostaria, mas sempre lê o que considera o melhor possível). Assim, se puder utilizar a mesma fórmula, quero me definir como leitora de sua obra.

(Caroline Carrion)

3 comentários:

Anônimo disse...

Carolzinha, bem-vinda ao blog! Sensível como você, seu texto é um brilhantinho. beijo, beijo, beijo.

Anônimo disse...

Estava navegando e encontrei o blog do dudu. Grata surpresa. Vocês são muito criativos. Vou virar fã. Também gosto de livros.

Laura Fuentes disse...

Wellcome, Caroline! Auxilio luxuoso prá este blog que já é um luxo. A começar pelo Dudu...rs