quarta-feira, 30 de maio de 2012

BOM RETRATO DE FAMÍLIA


Camila Appel tem sua segunda peça, “Véspera”, encenada com ótima direção de Hudson Senna nos fins de semana no Teatro Itália. Tudo ocorre na véspera do natal, quando parte da família está se encontrando para resolver como fica a festa e coisas assim. Como em toda a reunião de pessoas tão íntimas, não faltam conflitos de todos os lados. Há entre pai e mãe e mais ainda entre filhos e pais, onde todos se comportam com a mais absoluta intimidade sem nenhuma cerimônia, como se cada um fosse dono da verdade e fim de papo.

Além de ótimos diálogos tudo transcorre numa sala lindíssima, de uma casa chiquérima, dando a impressão de a briga não é definitiva apesar do tom sem conciliação, como ocorre na maioria das famílias.  O mesmo pode ser dito dos figurinos ambos assinados por Márcio Vinícius e da iluminação como sempre irretocável de Paulo César Medeiros.

A primeira impressão é a de que espetáculo e texto não se levam a sério e só depois se conclui que como na maioria das famílias os conflitos parecem irreconciliáveis mas, no próximo encontro está tudo bem e esquecido, como se nada tivesse acontecido. Os atores estão bem nos papéis: Cris Nicolotti é convincente protagonista, seu marido o Tadeu di Pyetro e ainda, Jussara de Morais, Sílvia Lourenço e Rafael Maia.

Vale ver, afinal "only diamonds are forever".

                                            Maria Lúcia Candeias
                                           Doutora em teatro pela USP
                                           Livre Docente pela UNICAMP

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Maria Lúcia Candeias lança livro

Em A Fragmentação da Personagem, Maria Lúcia Levy Candeias traça o percurso histórico pelo qual se manifesta uma das mais destacadas tendências dos palcos e das experimentações cênicas contemporâneas, em que a personagem teatral passa por um processo de desconstrução e fragmentação, apontando para um teatro menos empostado e dependente de uma persona coesa e completa. Caminha-se na direção de uma construção menos totalizante, em que as partes ganham autonomia e significado próprios.

Concebida no final dos anos de 1980, a pesquisa mostra toda a sua atualidade e potência, ao ser confrontada com as mais recentes e relevantes montagens, que, em grande medida, confirmam as tendências nela apontadas e validam sua abordagem crítica, ao mesmo tempo sensível e rigorosa, constituindo-se em um instrumento valioso para os que estudam e praticam o teatro, tanto como tema de seus principais debates e não menos como fonte para os processos de renovação artística na cena.


Maria Lúcia Levy Candeias - Crítica teatral e professora, formou-se em Artes em 1973, pela eca-usp, onde defendeu o mestrado em 1990 e o doutorado em 1997. Pela Unicamp, tornou-se livre-docente em 2006. É professora dessa instituição e mantém uma coluna de crítica no site Aplauso Brasil e na newsletter Colunas e Notas. Publicou Duas Tábuas e Uma Paixão: O Teatro Que Eu Vi (coleção Aplauso, Imprensa Oficial, 2006), reunindo críticas de sua coluna no jornal Gazeta Mercantil, entre 1997 e 2002. Foi uma das curadoras do Festival Ibero-Americano de Teatro de 2011.

DELICADA, DIVERTIDA E INSTIGANTE

Reunir essas qualidades num mesmo texto teatral não é pra qualquer um, mas é simples para Neil Simon, o campeão dos sucessos na Broadway. Nascido em 1927 escreveu peças como “O Estranho Casal” e “Hair Spray” seus sucessos mais recentemente montados por aqui. Agora estreou em SP “A Garota do Adeus”. Peça que merece como quase todas as obras (“Descalços no Parque” e “Jesus Cristo Superstar”) entre outras da enorme coleção do autor, o título que escolhemos para esse artigo. O enredo trata de uma senhora Paula, abandonada pelo marido, o qual simplesmente subloca a própria casa, onde ela e a filha moram. Fazer o que? Era ele quem tinha assinado o contrato...


O responsável pela ótima adaptação é Edson Fieschi que também interpreta o novo locatário com brilho e tem que se acertar com a protagonista Paula a cargo da maravilhosa Gabriela Duarte, cuja filha, na peça, Júlia Gomes, de tenra idade, promete ser uma futura Fernanda Montenegro. Em papeis secundários Nilton Bicudo ( que está dando um verdadeiro show em “Coisa de Louco”, peça nova de Fauzi Arap) e Clara Garcia que interpreta uma bailarina um pouco atriz convincentemente. Além de emplacar na direção de elenco, Elias Andeato, bem cercado de profissionais experientes: o cenário é de José Dias, o figurino de Fábio Namatame . A luz é do famoso produtor Mário Martini que surpreende quem não o conhecia por esse dom.

Por essas e outras não deixe de ver. É mais um grande acerto do Teatro Renaissance que não costuma errar no repertório, em cartaz às sextas (21,30hs) sábados (21hs) e domingos (18hs).

Maria Lúcia Candeias, doutora em teatro pela USP, Livre Docente pela UNICAMP.