Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp
Alguns espectadores que saem do Teatro Bibi Ferreira discutem se “A Dança Final” está ultrapassada ou não. Tudo por conta do Viagra. Em primeiro lugar a peça em cartaz no momento, com as maravilhosas interpretações de Denise Weinberg e Norival Rizzo, foi escrita por Plínio Marcos em 93 e reescrita em 2002, para a primeira montagem dirigida por Kiko Jaez, onde se incluía o Viagra que o protagonista não podia tomar.
O espetáculo atual se baseia no texto de 93 e não inclui o medicamento propositadamente, pois menciona que alguém do mesmo prédio não podia tomá-lo por ser diabético. Nunca li o texto original só o vi nas duas encenações, sempre brilhantes, como tudo que o autor escreveu. A peça montada com Nuno Leal Maia, no papel principal tinha uma evolução dramática que envolvia a platéia. A atual não tem. E, nesse aspecto foi modernizada e transformada num teatro pós-dramático.
Além disso, conta com belos figurinos de Leopoldo Pacheco, ótima iluminação de Wagner Freire e trilha como sempre irretocável de Aline Meyer. Sem dúvidas merece ser vista. Há quem prefira a primeira montagem, mas ambas são ótimas. De todo modo é um Plínio. Tem que ver.
Essa questão de ultrapassado ou não, é coisa de pouquíssimo antes do século XX. Como é sabido, só no fim do XIX, com a invenção da eletricidade, o espetáculo teatral passou a ter maior importância do que o texto escrito. E, alterar algo que o autor escreveu, deixou de ser uma atitude iconoclasta. Hoje, pode-se cortar ou ampliar qualquer texto se parecer necessário.
É o que eu gostaria que tivessem feito em “O Grande Inquisidor”, mas tenho que reconhecer que mexer em Dostoievski talvez fosse excesso de ousadia. A peça transforma em monólogo teatral um trecho que consta do livro “Os Irmãos Karamazov”. Um Inquisidor – ninguém menos do que Celso Frateschi – questiona Cristo (ótima participação de Mauro Schames) sobre aspectos inaceitáveis no mundo criado por ele. Hoje, teríamos mais questões irrespondíveis para colocar no diálogo, que, apesar de não estar mais atualizado, toca em pontos fundamentais.
O espetáculo singelo, conta com a direção certeira da Rubens Rusche, cenários e figurinos adequados de Sylvia Moreira e iluminação impecável também de Wagner Freire. Quem gosta de textos instigantes, com atores nota dez, não pode perder nenhum dos dois.
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp
Alguns espectadores que saem do Teatro Bibi Ferreira discutem se “A Dança Final” está ultrapassada ou não. Tudo por conta do Viagra. Em primeiro lugar a peça em cartaz no momento, com as maravilhosas interpretações de Denise Weinberg e Norival Rizzo, foi escrita por Plínio Marcos em 93 e reescrita em 2002, para a primeira montagem dirigida por Kiko Jaez, onde se incluía o Viagra que o protagonista não podia tomar.
O espetáculo atual se baseia no texto de 93 e não inclui o medicamento propositadamente, pois menciona que alguém do mesmo prédio não podia tomá-lo por ser diabético. Nunca li o texto original só o vi nas duas encenações, sempre brilhantes, como tudo que o autor escreveu. A peça montada com Nuno Leal Maia, no papel principal tinha uma evolução dramática que envolvia a platéia. A atual não tem. E, nesse aspecto foi modernizada e transformada num teatro pós-dramático.
Além disso, conta com belos figurinos de Leopoldo Pacheco, ótima iluminação de Wagner Freire e trilha como sempre irretocável de Aline Meyer. Sem dúvidas merece ser vista. Há quem prefira a primeira montagem, mas ambas são ótimas. De todo modo é um Plínio. Tem que ver.
Essa questão de ultrapassado ou não, é coisa de pouquíssimo antes do século XX. Como é sabido, só no fim do XIX, com a invenção da eletricidade, o espetáculo teatral passou a ter maior importância do que o texto escrito. E, alterar algo que o autor escreveu, deixou de ser uma atitude iconoclasta. Hoje, pode-se cortar ou ampliar qualquer texto se parecer necessário.
É o que eu gostaria que tivessem feito em “O Grande Inquisidor”, mas tenho que reconhecer que mexer em Dostoievski talvez fosse excesso de ousadia. A peça transforma em monólogo teatral um trecho que consta do livro “Os Irmãos Karamazov”. Um Inquisidor – ninguém menos do que Celso Frateschi – questiona Cristo (ótima participação de Mauro Schames) sobre aspectos inaceitáveis no mundo criado por ele. Hoje, teríamos mais questões irrespondíveis para colocar no diálogo, que, apesar de não estar mais atualizado, toca em pontos fundamentais.
O espetáculo singelo, conta com a direção certeira da Rubens Rusche, cenários e figurinos adequados de Sylvia Moreira e iluminação impecável também de Wagner Freire. Quem gosta de textos instigantes, com atores nota dez, não pode perder nenhum dos dois.
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