Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp
Quem gosta de ir ao teatro e está acostumado a ver uma história com começo meio e fim, ou várias histórias com um tema comum e algumas conclusões, provavelmente está estranhando bastante, muitos espetáculos que colocam os personagens numa mesma circunstância e só.
Esse estilo foi teorizado por Hans-Thyes Lehmann (alemão com livro editado pela Perspectiva) e se chama pós-dramático. Apresenta como que algumas fotografias de uma mesma circunstância sem busca de uma progressão ou lógica. Insisto em chamá-lo circunstancial e não teatro de situação, porque esse nome já foi usado por Sartre para denominar o teatro existencialista que acreditava que não nascemos com uma personalidade fixa, mas somos moldados pelos acontecimentos de nossas vidas.
A turma do pós-dramático não acredita em nenhuma das duas coisas, apenas no caos. Há peças como “In On It” (Teatro FAAP) ou mesmo “Cachorro Morto” (Teatro Imprensa) que guardam alguma proximidade com essas teorias. No entanto, quem casa inteiramente com elas são “Cinema” e “Êxtase”.
Êxtase focaliza alguns amigos de balada bebendo e conversando juntos sobre temas jogados como é comum aos beberrões. É uma encenação irretocável assinada por Mauro Baptista Vedia, sendo o texto de um inglês pouco conhecido por aqui, Mike Leigh, cuja peça “A Festa de Abigail” já esteve em cartaz com o mesmo diretor e fez um sucesso menor do que o merecido.
Colaboram para os acertos de Êxtase, o maravilhoso elenco super afinado (Érika Puga, Amanda Lyra, Eduardo Estrela, Francisco Eldo Mendes e Fernando Catani), incluindo-se especialmente Mário Bortolotto, que volta ao palco com tudo, depois do terrível acidente de que foi vítima. Além deles há a excelente contribuição da cenografia de Álvaro Razuk, da iluminação de Marcelo Montenegro e dos figurinos de Maitê Chasseraux.
É possível que quem bebe fique louco por um copinho na platéia, mas quem não bebe e sai logo do agito das festas, talvez ache muito longo. O espetáculo está em cartaz de terça a quinta no CCBB (com van saindo do antigo edifício Zarvos) às 19,30hs.
Já “Cinema” leva a assinatura do consagrado diretor Felipe Hirsch. Criação coletiva,focaliza rápidos relacionamentos que ocorrem na platéia de um cinema em sessões diferentes nas quais se ouve sons de alguns filmes. São flashes em geral sedutores interpretados por quinze bons atores. O cenário (são só as poltronas) assinado por Daniela Thomas, os figurinos por Verônica Julian e a eficiente luz por Beto Bruel. Está em cartaz no SESI de sexta a domingo às 20hs.
Novamente apenas flashes de momentos no mesmo local. Essa estética composta de tomadas rápidas faz lembrar o dança-teatro criado por Pina Bausch, mas. nos parece, ela ganha de todos. Basta lembrar o espetáculo “Água” sobre brasileiros que apresentou no Alfa em 2001, no qual o elenco brindava falando Tim Tim, e as mulheres viviam passando as mãos no cabelo especialmente quando conversavam (coisa que a gente não nota mas todas as brasileira não param de fazer). Não dá pra comparar com a alemã, mas quem mais se aproxima dela por aqui é sem dúvidas Mariana Muniz.
Fui assistir espetáculo para surdos dirigido por ela,“Encontros de Dois”, esperando uma mímica que eu não entendesse e meu queixo caiu. Os atores se movimentavam, dançavam, falavam e gesticulavam com extrema competência (Carol Vuditti, Deborah Andrade, Emilene Gutierrez, Fernando Dourado, Lúcia Kakazu, Leonardo Costa e Patríck Amstalden). Ao mesmo tempo em que uns se comunicavam por gestos outros por palavras de maneira que toda a platéia entendia seus felizes encontros cheios de afeto. Esteve em cartaz em curta temporada no Teatro Olido e vão para outras cidades. Se voltarem para cá você não deve perder.
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp
Quem gosta de ir ao teatro e está acostumado a ver uma história com começo meio e fim, ou várias histórias com um tema comum e algumas conclusões, provavelmente está estranhando bastante, muitos espetáculos que colocam os personagens numa mesma circunstância e só.
Esse estilo foi teorizado por Hans-Thyes Lehmann (alemão com livro editado pela Perspectiva) e se chama pós-dramático. Apresenta como que algumas fotografias de uma mesma circunstância sem busca de uma progressão ou lógica. Insisto em chamá-lo circunstancial e não teatro de situação, porque esse nome já foi usado por Sartre para denominar o teatro existencialista que acreditava que não nascemos com uma personalidade fixa, mas somos moldados pelos acontecimentos de nossas vidas.
A turma do pós-dramático não acredita em nenhuma das duas coisas, apenas no caos. Há peças como “In On It” (Teatro FAAP) ou mesmo “Cachorro Morto” (Teatro Imprensa) que guardam alguma proximidade com essas teorias. No entanto, quem casa inteiramente com elas são “Cinema” e “Êxtase”.
Êxtase focaliza alguns amigos de balada bebendo e conversando juntos sobre temas jogados como é comum aos beberrões. É uma encenação irretocável assinada por Mauro Baptista Vedia, sendo o texto de um inglês pouco conhecido por aqui, Mike Leigh, cuja peça “A Festa de Abigail” já esteve em cartaz com o mesmo diretor e fez um sucesso menor do que o merecido.
Colaboram para os acertos de Êxtase, o maravilhoso elenco super afinado (Érika Puga, Amanda Lyra, Eduardo Estrela, Francisco Eldo Mendes e Fernando Catani), incluindo-se especialmente Mário Bortolotto, que volta ao palco com tudo, depois do terrível acidente de que foi vítima. Além deles há a excelente contribuição da cenografia de Álvaro Razuk, da iluminação de Marcelo Montenegro e dos figurinos de Maitê Chasseraux.
É possível que quem bebe fique louco por um copinho na platéia, mas quem não bebe e sai logo do agito das festas, talvez ache muito longo. O espetáculo está em cartaz de terça a quinta no CCBB (com van saindo do antigo edifício Zarvos) às 19,30hs.
Já “Cinema” leva a assinatura do consagrado diretor Felipe Hirsch. Criação coletiva,focaliza rápidos relacionamentos que ocorrem na platéia de um cinema em sessões diferentes nas quais se ouve sons de alguns filmes. São flashes em geral sedutores interpretados por quinze bons atores. O cenário (são só as poltronas) assinado por Daniela Thomas, os figurinos por Verônica Julian e a eficiente luz por Beto Bruel. Está em cartaz no SESI de sexta a domingo às 20hs.
Novamente apenas flashes de momentos no mesmo local. Essa estética composta de tomadas rápidas faz lembrar o dança-teatro criado por Pina Bausch, mas. nos parece, ela ganha de todos. Basta lembrar o espetáculo “Água” sobre brasileiros que apresentou no Alfa em 2001, no qual o elenco brindava falando Tim Tim, e as mulheres viviam passando as mãos no cabelo especialmente quando conversavam (coisa que a gente não nota mas todas as brasileira não param de fazer). Não dá pra comparar com a alemã, mas quem mais se aproxima dela por aqui é sem dúvidas Mariana Muniz.
Fui assistir espetáculo para surdos dirigido por ela,“Encontros de Dois”, esperando uma mímica que eu não entendesse e meu queixo caiu. Os atores se movimentavam, dançavam, falavam e gesticulavam com extrema competência (Carol Vuditti, Deborah Andrade, Emilene Gutierrez, Fernando Dourado, Lúcia Kakazu, Leonardo Costa e Patríck Amstalden). Ao mesmo tempo em que uns se comunicavam por gestos outros por palavras de maneira que toda a platéia entendia seus felizes encontros cheios de afeto. Esteve em cartaz em curta temporada no Teatro Olido e vão para outras cidades. Se voltarem para cá você não deve perder.
Foto de cena de Êxtase
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