quarta-feira, 24 de março de 2010

Bastidores de Cats no Programa da Hebe

Parte do elenco de Cats, musical em cartaz no Teatro Abril, gravou na tarde de segunda-feira dois números musicais para o Programa da Hebe. Chegamos bem cedinho no SBT para ensaio, passagem de som e últimos acertos para que tudo ficasse pronto para a gravação.

Mas é na hora do ao vivo que tudo fica mais bonito. The Rum Tum Tugger, intertratado por Cleto Baccic, abriu o programa. Logo o estúdio foi tomado por vários gatinhos e suas coreografias contagiantes. Ao final da canção, Hebe Camargo entrou no palco recepcionada pelos gatos e as palmas da platéia, com direito a selinho e tudo. Paula Lima abriu o segundo bloco cantando a versão de Memory. A plateia aplaudiu de pé!

Abaixo alguns momentos nas fotos cedidas pelo fotógrafo Lourival Ribeiro.



(Adriana Balsanelli)

terça-feira, 9 de março de 2010

É de Encher os Olhos

Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp

A beleza do espetáculo “O Rei e Eu”, em cartaz no Teatro Alfa, além de encher os olhos, faz com que se corra o risco de sair babando e até mesmo de queixo caído. Não dá pra descrever o encanto dos cenários (Duda Arruk), dos figurinos (Fábio Namatame), iluminados com total perfeição (Ney Bonfante). Tudo tão imperdível que o enredo (Margaret Landon adaptado por Cláudio Botelho) focaliza especialmente uma professora inglesa (Claudia Netto), que, contratada pelo rei do Sião – atualmente Tailândia – (interpretado com extremo brilho por Tuca Andrada), acaba por produzir algumas mudanças de costumes por lá.

Sua missão é a de dar aulas para jovens e crianças da corte. O curso funciona tão bem que convence o monarca da importância do livro de modo geral. O que se comprova na cena seguinte, quando duas estantes orientais são incorporadas ao cenário, tão deslumbrantes que o espectador fica com vontade de arrematá-las num leilão no fim da temporada da montagem, o mesmo acontecendo com todos os trajes e adereços (Wilson Castro).

A famosa história - que já foi sucesso retumbante no mundo todo tanto no teatro como no cinema - continua conquistando a atenção e o interesse do público, assim como as qualidades já mencionadas e também a competência do enorme elenco (cerca de 60 atores inclusive crianças maravilhosas), que dá show de interpretação, canto de dança o tempo todo.

Todas essas qualidades se devem também, é óbvio, à direção perfeita e, portanto, irretocável, do mais que famoso Jorge Takla, que já deu shows de encenação em muitas peças de diversos estilos e mesmo assim inesquecíveis como por exemplo, ”O Jardim das Cerejeiras” , “My Fair Lady” e “Lago 21”, entre outras.

É claro que num musical (Richard Rodgers), em grande estilo como o atual, a importância da música (diretor musical Jamil Maluf) é crucial. A orquestra a que se escuta é fora de série assim como os arranjos regidos por Vânia Pajares, conhecida na área de óperas, que já contracenou ao piano com Eva Wilma e que empresta seu brilho a um teatro musical popular.

Além de imperdível é inesquecível.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Abaixo o Preconceito

Por Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP
Livre Docente pela Unicamp

“Hair Spray” (escrito por Mark O’Donnell e Thomas Meehan), sem dúvida não é o primeiro musical americano a tratar de preconceitos, buscando sua extinção. No entanto é o mais alegre e jovial. Certamente porque seus personagens são jovens e liberais que a princípio afrontariam o espectador com alguma prevenção contra negros e contra mulheres gordas. Como seria bom se fosse uma guerra ganha. Nesse aspecto, o que nos diferencia dos americanos, é só o constrangimento de demonstrar os preconceitos enraizados no fundo do nosso ser, e que eles assumem sem muito escrúpulo.

Mas falando de teatro, a peça tem uma versão brasileira e é dirigida pelo Miguel Falabella. Isso não é suficiente para ir ao Teatro Bradesco no Shopping Bourbon? A cenografia assinada por aqui é do experiente Renato Scripilitti, os figurinos são de Marcelo Pies, tudo de extremo bom gosto e adequação.

O elenco de apoio – mais de 20 atores – os quais cantam e dançam com perfeita sincronia e ritmo, uma coreografia de Jeff Whiting e Fernanda Chamma, tudo destacado pela iluminação como sempre maravilhosa de Maneco Cundaré. As músicas de Marc Shaiman são interpretadas por orquestra sob regência de José Luiz Ribalta e são todas alegres, muito ritmadas e juvenis, e sendo assim, agradam menos à platéia mais idosa, segundo me pareceu. Mas é um senão pouco relevante, considerando as maravilhosas interpretações de Edson Celulari (em papel feminino), de Simone Gutierrez como a atriz gordinha, de Arlete Sales, e das outras intérpretes loiras, assim como do galã Jonatas Faro.

O espetáculo está em cartaz às quintas (21hs), sextas (21,30hs). Sábados (17hs e 21,30hs) e domingos (18hs). Se você gosta de bons musicais, não perca.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Um quê de ingenuidade adorável

Cats é uma delícia! Quem gosta de musical vai lamber os beiços. E pode levar a garotada maior de 6 ou 7 anos. Eles vão aproveitar. Um quê de ingenuidade deixa o espetáculo ainda mais interessante. O elenco é fantástico, orgulho de tanta gente talentosa - interpreta, canta e dança lindamente (do jazz ao clássico). Todos estão exímios. Vontade de sair cantando e dançando com os braços para cima, como fez a plateia que lotou ontem à noite a ssessão das 21h. E, preste atenção: se a crítica malhar, aí é que você deve ir mesmo. É quase certo, vão dizer por aí...., "é datado e coisa e tal, o musical só cresce no segundo ato". Besteira. Não faz mal nenhum uma pitada de anos 70 nessa lambança geral do Brasil século 21.
(Fernanda Teixeira)

Citando Clóvis Rossi


Acordei com um gosto amargo na boca, bílis, cabo de guarda-chuva, como minha mãe diz.

Quem discorda e quem concorda com a decisão do presidente Lula de se abster ao apelo dos presos políticos de Cuba, como aconteceu com Orlando Zapata, que morreu de greve de fome na última terça, 23? A resposta não vem ao caso, mas o silêncio sepulcral entrega.

Antes de Lula desembarcar na ilha, presos políticos haviam pedido que ele intercedesse junto aos irmãos Castro pela libertação dos dissidentes. Lula, entretanto, preferiu se abster do tema dos direitos humanos durante sua visita a Cuba.

Um dos mais brilhantes jornalistas brasileiros, Clóvis Rossi, disse tudo na edição de sábado, 27 de fevereiro de 2010, do jornal Folha de S. Paulo. Inteligente, culto, sábio, afirmou que "o silêncio cúmplice da esquerda brasileira mostra como é difícil desfazer-se de uma lembrança sentimental."

Para quem não leu, peço licença para reproduzir aqui alguns trechos. O respeitado profissional, em seu raciocínio, levanta pistas sobre a boca fechada do governo Lula a respeito das violações aos direitos humanos na ilha do Caribe.

"No fundo, é simples: a revolução cubana faz parte da memória sentimental da esquerda brasileira. E a esquerda brasileira, em seus mais variados matizes, está no poder desde a queda de Fernando Collor de Mello, no já remoto ano de 1992.

"Afinal, Castro e seus companheiros de certa forma fizeram a Revolução Francesa que a América Latina jamais fez nem antes nem depois. E não há nada mais sedutor do que o brado de liberdade/ igualdade/ fraternidade."

"De mais a mais, a América Latina e o Brasil foram, a partir de 1959, o ano do trunfo da revolução, uma seqüência de ditaduras militares fincadas a pretexto de evitar a ditadura de signo posto."

"Quem não gosta de ditaduras – e as pesquisas do Latinobarômetro revelam um suporte majoritário, embora oscilante à democracia - ficou emparedado entre criticar a cubana, o exercício favorito das ditaduras latino-americanas, ou apóia-la, por ser contra as demais. Ou calar."

"Ademais, é evidente que Fidel Castro sempre foi, visualmente, mais simpático que, por exemplo, Augusto Pinochet, além de ter uma aura romântica, já remota, é verdade, mas presente na memória sentimental do subcontinente."

"...Pode ser difícil para a maioria dos mortais jogar ao mar os sonhos que a memória guardou, mas não dá para negar o fato: a revolução virou um pesadelo. Silenciar sobre ele não traz de volta o sonho."

O jornal espanhol, El País, analisa a visita de Lula como um derradeiro gesto de apoio político e econômico a Cuba antes do fim de seu governo. O jornal ressalta que essa é a quarta viagem do presidente brasileiro a Cuba em seus oito anos de governo, e que o principal objetivo da visita é respaldar setores estratégicos da economia cubana, como a infraestrutura e o petróleo, no momento em que a falta de liquidez e a crise vêm afetando o governo da ilha. Ainda conforme o El País, não há espaço para os dissidentes na agenda de Lula, “um velho aliado do regime”.

A frieza de Lula, a insensatez de Marco Aurélio Garcia - “há problemas de direitos humanos no mundo inteiro” -, envergonham os brasileiros que acreditam que ninguém mais deve morrer de fome de liberdade.

Depois não adianta levantar bandeira de direitos humanos. Ditaduras, sejam de direita ou de esquerda, já na cabem no mapa mundi de hoje. Péssimo o presidente ser lembrado por esse episódio. Constrangedor até para quem, como eu, um dia votou nele e acreditou no idealismo que o um partido poderia mudar os rumos da história. Dá pra desculpar quando se é jovem e idealista.

Procuro não pensar. Às vezes é inevitável: como a popularidade de Lula bate recorde após recorde com histórias trágicas como essa? O Brasil, realmente.... Deve ser porque este exemplo da impunidade não faz a mínima diferença para o povo faminto e sem Educação, que precisa, sim, de comida, e que aceita, é óbvio que de bom grado, esmola, esmola, esmola.

Já sinto um aroma de tutti-frutti. Coisas do meu paladar infantil.
(Fernanda Teixeira)