quinta-feira, 26 de março de 2009

Noite no Villagio Café

Por cerca de seis meses, fui estagiária do SESC Avenida Paulista. Na verdade, foi assim que conheci a Fê e que, algum tempo depois de meu estágio ter terminado, cheguei à Arteplural. Foi uma fase ótima, daquelas de final de universidade, a impaciência e nostagia antecipada do último estágio. Lá também tive a oportunidade de conhecer pessoas talentosas, competentes e adoráveis.

Não canso de me surpreender com a versatilidade da maior parte das pessoas que trabalham com cultura. Às vezes produtores são atores, jornalistas são dramaturgos, assessores são cantores... É o caso da minha ex-responsável de estágio, Lígia Moreli, animadora cultural da área musical da unidade.

Filha de músico, a Lígia se graduou em jornalismo e, depois de passar por algumas redações, prestou o concurso do SESC já pensando em trabalhar com a programação musical. Todos nós levamos vários rótulos, alguns mais apropriados que outros. Ela pode ser jornalista ou animadora cultural, mas quando a vemos no palco percebemos que a forma correta de defini-la é como cantora.

Há algum tempo eu a ouvi cantar no Villagio Café (Teodoro Sampaio, 1229), ao lado do violonista João Paulo Gonçalves, seu namorado, e do contrabaixista Rafael Abdalla. A noite começou bem pelo local: aconchegante, bom atendimento, um clima gostoso. Boa companhia também, claro. Tudo coroado pela voz poderosa da Lígia, entre músicas e conversas bem humoradas com o público. A própria gerente do SESC Av. Paulista gritou, no final, "toca lá na Comedoria"!

Agora e só esperar pelo próximo show. E, para quem quiser ver um pouquinho dessa noite, é só entrar no YouTube:

Branca - música do pai da Li em homenagem à sua mãe
Vou deitar e rolar
Ladeira da Preguiça
Beijo Partido

(Caroline Carrion)

domingo, 22 de março de 2009

2 amigas, 1 casal de italianos, 1 cachorra sem dono

Depois de assistir a sessão de Senhora dos Afogados, adaptação para musical de Zé Henrique da obra de Nelson Rodrigues, no Teatro Imprensa, tudo o que Adriana e Maria queriam era ir para casa descansar. Sexta-feira foi um dia daqueles no trabalho. Não imaginavam, entretanto, a noite movimentada que teriam pela frente. Quando foram buscar o carro no estacionamento, um casal de velhinhos italianos, perdidos por São Paulo, pararam para perguntar como chegar à Praça da República. Estavam perto, mas como explicar o caminho para os italianos? Maria, que adora a Itália e fala italiano, pediu para o casal esperar enquanto elas pegavam o carro. Em seguida, as duas levariam os estrangeiros até seu destino. (Para Maria, somos responsáveis por receber bem qualquer visitante em nossa cidade). Já com essa incumbência, logo outro fato mudaria o rumo das coisas novamente.

Enquanto esperavam o carro, apareceu uma cadelinha, filhote de vira-latas, mais ou menos 3 meses, linda e dócil, o olhar meigo de cachorro sem dono, fazendo a maior festa para as duas. O guardador do estacionamento sugeriu que elas seriam as melhores donas para o cãozinho sem teto: "Não, não temos a mínima condição, moramos num apartamento pequeno, trabalhamos o dia todo, o cachorro vai crescer, não podemos deixá-la sozinha em casa", argumentavam, firmes, o bichinho já grudando na perna de Adriana, pedindo colo. Ele apelava, dizendo que o filhote já tinha escolhido elas: "Vejam como ela gostou de vocês", insistia o cara do estacionamento.

Decididas a não pegar a cadelinha, Adriana e Maria entraram no carro para acompanhar o casal de italianos quando, numa fração de segundos, a vira-latinha mais linda que elas tinham visto na vida saiu correndo, atravessou a rua e quase foi atropelada, ficando entre as duas rodas de um carro que vinha passando. Não tiveram mais dúvidas. Quase enfartada, imediatamente Maria saltou do carro e pegou o animal. Se olharam: em questão de minutos tinham um casal de italianos perdidos e uma cachorrinha sem dono para cuidar.

Resolvido o problema, bem mais fácil, dos italianos, levaram para casa o bichinho, que, à vontade, deitou nos pés de Maria, no assoalho do carro. Já era tarde quando, em casa, se deram conta de que não tinham comida de cachorro. A solução foi pedir ração emprestada ao zelador, ele também um cachorreiro. Depois de alimentada, a pequena corria feliz pelo apartamento. "E agora?", pensavam as duas. Tinham que achar um dono para ela ainda no final de semana. No dia seguinte, com vários compromissos, se depararam com a primeira dificuldade: ficariam fora de casa, cada uma com seus afazeres, por cerca de três horas. Adriana fez logo o que era mais urgente: levou a cadela ao pet shop para um bom banho e algum outro cuidado especial que precisasse. Contou seu problema para os donos da loja, que logo se encantaram com a bichinha. “Quem sabe algum cliente não queira ficar com ela”, sugeriram.

Maria ficou com a missão de ir buscá-la. Quando a avistou, estava linda, de banho tomado e laço vermelho no pescoço, fazendo festa ao reconhecê-la. Para sua surpresa, uma cliente que estava na loja foi logo dizendo: “Não se preocupe, fico com ela! Impossível resistir a essa coisinha fofa!” Alegria e tristeza ao mesmo tempo. Sem olhar para trás, para não ser traída pela emoção, Maria deixou a simpática cachorrinha com sua nova dona. Em menos de 24 horas aquele bichinho fez parte da vida das duas e deixou muitas saudades.

Em tempo: No dia seguinte, na outra estreia da semana - a peça O Processo, com Tuca Andrada, direção de José Henrique, no Teatro do SESC Santana -, os olhos de Adriana, minha fiel parceira de trabalho, coordenadora da Arteplural, ficavam marejados toda vez que contava essa história. Queridas e sensíveis, duas grandes amigas minhas.
(Fernanda Teixeira)

sábado, 14 de março de 2009

Telefonema insólito ou que carteirada que nada!

O celular acorda a jornalista (que hoje trabalha com assessora de imprensa) durante um pequeno cochilo na tarde quente de sábado. Ainda atordoada, ela atende prontamente, afinal não pode reclamar porque deixou o aparelho ligado:

- Alô...
- Oi, aqui é o fulano de tal (diz a voz de homem do outro lado, como se seu nome fosse a porta de entrada para o paraíso, o passaporte dourado para a maior festa vip do planeta) do jornal X (cita um dos maiores veículos de comunicação do Brasil) e do blog tal.
- Oi, como vai?, diz ela.
- Eu quero dois convites para assistir a Noite Mais Fria do Ano.

Sem graça, ela é objetiva:
- Infelizmente não temos mais. Nossa cota de dois pares já foi preenchida para todo o fim de semana. Costumamos passar a lista de convidados para o teatro na sexta-feira.
- Mas eu preciso ver, insiste ele. Telefonei para o teatro, pedi o contato da produtora e eles me deram o seu, fala, indignado.
- Sei, acontece que......., ela tenta explicar, mas ele não deixa.
- Então me dê o telefone da produtora.
- Infelizmente não tenho. Estou em casa, você poderia ligar....

Antes que ela pudesse terminar a frase, arrogante, ele interrompe bruscamente:
- Já vi que com você não vou conseguir nada mesmo!

E bate o telefone na cara dela, que pensa: para que tanta falta de nobreza e educação?
(Fernanda Teixeira)

quinta-feira, 12 de março de 2009

O teatro vivo

Fui assistir Comunicação a uma Academia, peça que faz parte do Projeto Vitrine Cultural do Teatro Imprensa, com Juliana Galdino e Gê Viana no elenco e direção de Roberto Alvim. Já imaginava que iria gostar do espetáculo por tudo o que já ouvi falar sobre Juliana Galdino e seu grupo Club Noir. Mas dessa vez, mais do que gostar do espetáculo, assisti uma aula de interpretação. Juliana tem o tempo certo, a colocação das palavras, o silêncio, a pausa, o peso do texto na medida. A história de um macaco que se transforma em homem e conta sua saga diante da platéia poderia cair no clichê, porém Juliana e a direção segura de Alvim dão o tom certo, sem afetação ou trejeitos. O texto de Kafka é lindo e nos faz pensar na domesticação humana. Recomendo!

Levei comigo o Luis Alberto Alonso, diretor do grupo de teatro Oco Teatro Laboratório de Salvador e diretor do FILTE (Festival Latino-Americano de Teatro da Bahia), que está em visita a São Paulo. Alonso ficou hipnotizado por Juliana Galdino. Cubano, morando em Salvador há 6 anos, é um dos responsáveis por colocar a Bahia no circuito dos festivais de teatro. Em agosto desse ano acontece a 2º edição do FILTE. A Cia Estável de Teatro foi selecionada e representa São Paulo na edição 2009 com os espetáculos O Auto do Circo e Homem Cavalo & Sociedade Anônima. Fica aí a dica para grupos e produtores de teatro: o FILTE é um importante festival que permite a troca de experiências com grupos da América Latina. Mais informações sobre os projetos contemplados e sobre o Oco Teatro Laboratório em http://www.ocoteatro.com.br/

(Adriana Balsanelli)

terça-feira, 10 de março de 2009

Dudu e Nair vão bem, obrigada

Com o coração na mão, deixei o Dudu, que dá nome a este blog, para fazer uma cirurgia. À medida que fomos chegando perto da clínica, na Vila Madalena, meu pequeno daschund arlequim, tipo malhado de cinza e preto, olfato apuradíssimo, foi ficando estressado, latindo muito. Inteligente - como nós quando sentimos cheiro de hospital, de dentista -, ele sabia que estávamos chegando na veterinária.

Quando fui embora, lançou na minha direção aquele olhar de coitado, lânguido, melancólico, triste, a cara de cachorro abandonado que só ele sabe fazer. Nem olhei para trás. Quando a respiração desacelerou, desatei o nó na garganta e os olhos marejados foram focando novamente. Dirigi direto para o hospital. No caminho, pensamentos ao vento, fiz o trajeto mecanicamente. Da janela do 12. andar do quarto no Sírio Libanês, onde minha mãe esteve internada desde quinta-feira, dia 5, à noite, para fazer exames (agora ela está bem), vejo São Paulo por cima. O heliponto do edifício Fecomércio, a avenida 9 de julho, a torre do Banespa, o céu com cobertura de nuvens cinzentas.

Contemplativa mirando essa paisagem, de repente acordo para a vida com o toque do celular. Era dra. Lu, ligando para informar ter sido bem-sucedida a operação do Dudu. Todos comemoraram no quarto do hospital, eu me apressei para avisar a Sandra (que iria buscá-lo) e as meninas da Arteplural, grandes companheiras de dia-a-dia do nosso mascote. Outros telefonemas, como da Gigi Magno e da Lu Cassas, também procuravam notícias desse ser canino tão querido e mimado.

Com ele e minha mãe já em casa, a rotina vai sendo retomada. Com um colar elizabetano que mais parece uma cúpula de abajur enfiada no pescoço, tirando-lhe a visão lateral, no começo Dudu parecia perdido, sem ação. Tive ímpeto de colocá-lo na minha cama para dormir junto do meu bichinho, como fazia antes de namorar, há 5 anos. Nem foi preciso. O cara se aninhou em sua caminha, bem ao lado da minha. Ficou me espiando, como que tomando conta de mim, ou espionando para eu não fugir do alcance de sua visão. E eu dormi tranqüila, provavelmente antes do meu sombra. O desenho abaixo é de Rosana Rodrigues e vai virar uma tatuagem.

(Fernanda Teixeira)

domingo, 8 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Desabafo

Uma insanidade a atitude do bispo da Igreja Católica, que excomungou os envolvidos no caso do aborto da menina de 9 anos, estuprada pelo pai. Enquanto isso, Fernando Collor de Mello volta com tudo, apoiado por ninguém menos que Renan Calheiros. Que País é este? Se Henfil estivesse vivo, pelo menos teríamos motivos para achar graça de um desses casos vistos pela lente irônica do artista. Também sinto falta daquelas músicas de protesto. Onde estão os artistas indignados? Nos EUA, a Califórnia vota contra a união dos homossexuais.....Que Primeiro Mundo que nada! É de quinta esse mundo!
(Fernanda Teixeira