Fui ver o show da Marina Lima no Teatro do Sesc Pompéia, no começo de maio. Saí surpresa com a novidade, o frescor do espetáculo de uma das cantoras mais bacanas que temos. O ritmo do trabalho na Arteplural engole meu tempo, e o vício jornalístico de escrever sempre com um gancho quase mata essa resenha. Sem desculpas, se precisava de nova oportunidade, já tenho: haverá outra temporada de Marina na cidade, desta vez sábado, 24 de maio, no antigo Tom Brasil.
Nos tempos de redação, anos 80 e 90, era pautada para ir aos shows de lançamentos de discos, às entrevistas, escrevia matérias para Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Estadão, como repórter, respectivamente, de Wladyr Nader, Edson Paes de Melo e Marta Goes. Por conta da profissão, acompanhei de perto a carreira da Marina, de Nosso Estranho Amor a Fullgás e Acontecimentos, passando por Grávida, Difícil, Criança e À Francesa. E todas essas músicas estavam no show! Depois, deixei escapar de vista sua trajetória. Tanto que não tenho os CDs mais recentes.
Dizem que ela perdeu a voz, calada por uma grande depressão, causada não se sabe por quê. Pouco importa, segui gostando de Marina à distância. Não cogitei desembolsar R$ 500 para ver o show do Baretto - também confesso ter um certo preconceito com casas de alto luxo. Assim, o show do Sesc Pompéia marcou meu reencontro com Marina. Se sua voz hoje está menor, não sei, pode ter diminuído à medida que aumentou sua empatia e carisma com o público. "Quero cantar e encantar." Simpática, espontânea e comunicativa, brincou com a platéia e disse que voltou fascinada da Argentina, antes de cantar o tango funkeado, "como diria Roberto Carlos". Comentou da intensidade latina, caiu nos braços do guitarrista Fernando Vidal, contou que os pais nasceram no Piauí, falou do irmão Antônio Cícero.
À vontade como nunca, próxima e calorosa com a platéia, Marina está diferente, ganhou postura de palco. E pela reação do público que lotou o Pompéia segue venerada por seus fãs. Afinal, é isso que se espera de uma grande artista: alem de talento, comunicação e empatia. A Marina de hoje está mais soltinha e brincalhona ("vocês já foram na Lôca?", perguntou, referindo-se à clássica balada trash paulistana) e com a mesma voz rouca e sujinha que sempre lhe garantiu uma dose extra de charme. A cantora sexy e moderna, que continua flertando com o rock e está exuberante aos 50 anos, deu a volta por cima para encarar de frente o que escolheu fazer na vida. Hoje mostra-se uma grande artista. A música brasileira merece ter uma representante deste naipe.
(Fernanda Teixeira)