sexta-feira, 4 de abril de 2008

Bastidores do nosso cotidiano

No começo de Cardiff, antes mesmo do público entrar no teatro, o próprio diretor da peça, André Garolli, explica como o espectador deve agir ao entrar na sala de espetáculo, além de passar recomendações (atenção, se você é claustrofóbico é melhor não entrar; não perca a senha que você recebe com o número da sua poltrona). As pessoas ocupam o centro das fileiras e ficam de cara com uma cortina de ferro. De repente, uma pequena porta se abre e pode-se ver um grupo de marinheiros numa coreografia que lembra uma cena de Thriller (clipe de Michael Jackson que marcou época). Logo em seguida, a porta é fechada e, quando aberta novamente, vemos os mesmos homens sobrevivendo a uma tormenta em mar aberto. Então, o público sai de suas cadeiras e é convidado a embarcar com o elenco no navio onde a história de Eugene O'Neil se passa. Mais realista, impossível. Estamos num convés de um navio, ocupado por marinheiros de todos os cantos do mundo. E não acaba aí, após presenciar um acidente em câmera lenta, os espectadores descem ao porão e vivem a intimidade desses soldados do mar: suas angústias, seus medos, suas memórias e seus sonhos são representados a centímetros de nossos olhos. Tudo isso acontece na Mooca, teatro Arthur Azevedo. A peça inteira é cinematográfica! Efeitos que são alcançados com muita criatividade e competência. Para quem não viu ainda, recomendo. E o ingresso custa somente R$15,00.

(Vanessa Fontes).
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Quando dirijo, costumo optar pelos caminhos mais interessantes - ruas de bairro, arborizadas e simpáticas, ao invés de marginais e vias de tráfego pesado. Nem sempre são os mais curtos. No caso que vou contar, escolhi (com a dica da Adriana Balsanelli) o caminho dos teatros para chegar na Galeria Olido, na noite da dança em São Paulo. O itinerário incluiu descer a Brigadeiro, passar pela porta do Ágora, seguir a Rui Barbosa até o Sérgio Cardoso, atravessar a Martins Fontes, sentido Cultura Artística, ladeando a praça Roosevelt, e descer em direção ao Municipal. A pequena sala Paissandu na Galeria Olido, na avenida São João, ficou menor ainda para receber todo mundo que queria assistir ao espetáculo Vir a Ser, em homenagem aos 80 anos da bailarina Ruth Rachou. José Possi Neto, Mara Borba e Célia Gouvêa, os coreógrafos, estavam lá recebendo o público. Só faltou Francisco Medeiros, o diretor geral, que, coincidentemente, estreava no mesmo dia, no Interior, a peça Loucos por Amor, de Sam Shepard (em SP em maio, no Fábrica). Tinha exposição de fotos e lançamento de livro de Izaías Almada e Bernadette Figueiredo. No palco, Amanda Costa, grávida, deu graça aos movimentos vigorosos dos bailarinos, Mariana Muniz entre eles. Na volta, fiz o trajeto mais curto para dar tempo de assistir ao segundo tempo do jogo do São Paulo. Mesmo jogando mal, conseguiu marcar um gol, literalmente, nos 49 do segundo tempo.

(Fernanda Teixeira)
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O centro de São Paulo é um lugar realmente mágico para mim. Em meio a tanto lixo jogado por cidadãos mal educados, diversas pessoas dormindo nas esquinas e muitos prédios abandonados e pichados, existem lugares que resistem ao tempo com a mesma filosofia, para alegria de seus fiéis clientes. Antes de entrarmos na Galeria Olido para assistir ao espetáculo de dança Vir a Ser, em homenagem a Ruth Rachou, a Fê propôs um lanchinho no Ponto Chic, uma tradicional casa de lanches, aberta em 1922 no furor da semana de arte moderna. Curiosa que sou para conhecer lugares tradicionais do centro, topei na hora. Ali tomamos um chopinho (sim, mesmo tomando remédios a Fê não resistiu a uns golinhos do meu copo) e comemos um delicioso Bauru, caprichosamente preparado com queijos fundidos (derretidos em água), tomate, pepino, rosbife, dentro de um mega pão francês. Sem sombra de dúvidas, uma delícia. Entre um papo, um chopinho e o lanche, o forro da mesa nos entretia por associar a história do lugar com a de São Paulo. Uma época em que o centro era o ponto de encontro de intelectuais, artistas e, com certeza, mais limpo. Resumindo CHIQUE!

(Fabiana Cassim)

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Uma atriz regendo uma platéia! Foi com essa impressão que saí ontem do Teatro Imprensa na pré-estréia da peça Parem de falar Mal da Rotina. Elisa Lucinda, atriz, cantora e poeta, coloca a platéia a seus pés durante aproximadamente duas horas e meia, que você nem sente passar, numa “quase conversa” com o espectador. Falando sobre rotina, amor e o dia-a-dia, a atriz faz rir, chorar e refletir sobre como nos colocamos diante das nossas escolhas e de como muitas vezes nos tornamos prisioneiros delas. É impossível não se identificar com várias cenas levadas ao palco ou não se lembrar de alguém que conhecemos. A peça estréia para o grande público nesta sexta-feira, 4, e fica em cartaz até junho. O espetáculo funciona como uma sessão de terapia. Recomendo!

(Adriana Balsanelli)

Na foto, Elisa Lucinda e Cintia Abravanel.

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