Uma semana depois do forte tremor de terra sentido em Nova York, o furacão Irene estava para chegar. Nossa primeira vez na cidade reservava mais surpresas do que gostaríamos. Ser testemunhas e protagonistas do fato histórico causava expectativa e medo. Pelas ruas molhadas, guarda-chuvas comprados em camelô da esquina, eu, Sandra, Maria, Lydia e Anny resolvemos dar uma volta, comprar algo para comer mais tarde, quando estaríamos presas no quarto de hotel.
Enquanto caminhava pela Quinta Avenida lembrei do bilhete deixado naquela manha em cima da escrivaninha do hotel. Dicas de como agir, espécie de manual de sobrevivência. Era para ficarmos recolhidos, evitar o uso do elevador e, em caso de medo, poderíamos nos agrupar na recepção. Lanterninhas de led para todos os hóspedes, para uso nas escadas. Ordem para estocar água, alimentos e ....ufa, eles prometiam fazer de tudo para nossa segurança.
O vento aumentava de velocidade na mesma medida em que a temperatura do ar diminuía e o tempo piorava. Escurecia rapidamente. As entradas de acesso às estações de Metrô fecharam pela primeira vez na vida de Nova York. Ônibus também não circulavam. O Central Park exiba faixas com os dizeres closed. Sensação estranha, boca seca, mãos frias.
"Vão para casa agora e fiquem por lá tranqüilos até tudo passar", orientava o segurança da loja da Apple, normalmente aberta 24 horas, mas que fecharia as portas em breve. Respiração alterada, fotografo imensas nuvens negras acima de minha cabeça. Continuamos andamos pelas ruas assustadoramente vazias.
Na farmácia, fila para pagar. Xampu, escova e pasta de dente, o necessário para dormirmos, eu e Sandra, no hotel das nossas amigas. Difícil pegar táxi. Quando conseguimos, taxímetro desligado, o motorista cobrou preço fechado. Sempre alguém leva vantagem em circunstâncias assim, pensei, impressionada com o organização e rapidez dos americanos, pois a lista de preços das corridas ja estava impressa e plastificada, pendurada nas costas do banco do carona.
Do quarto do hotel, gastei bom tempo na janela observando a falta de movimento na rua. Sem o barulho constante das sirenes, só a fumaça branca saída dos bueiros continuava lá. Na TV, o assunto era só um: Irene. O prefeito ordenava evacuações em áreas de risco. Reportagens mostravam a população se preparando para enfrentar o pior. E nós, no no 15.andar de um edifício envidraçado, vulneráveis à aventura de dividir Manhattan com um furacão.
Entre ansiosas e receosas por estar ali e acompanhar situação sem precedentes nas nossas vidas, atendemos telefonemas da família em busca de notícias. Reunidas no quarto da Maria e da Lydia, relaxamos e bebemos a noite inteira várias garrafas de um vinho delicioso – o Copolla, comprado no lugar da água -, enquanto acompanhávamos pela TV a transformação do furacão em uma mansinha tempestade tropical. Confesso, fiquei com uma pontinha de decepção. Talvez mais aventura... .
Em tempo: este não foi o primeiro furacão da minha vida. O nome dele era George, cujos estragos vimos em Key West, na Flórida, mas essa história fica para outra crônica.
(Maria Fernanda Teixeira)
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