Essa é a sensação do espectador que se senta na platéia para
assistir “A Construção”, em cartaz no
SESC Pompéia, às sextas e sábados às 21hs e aos domingos às 19hs até 25 de
março.
O monólogo, como tudo escrito pelo autor de “Metamorfose” e
“Carta a Meu Pai”, tem a marca de um dos maiores escritores do século XX, e não
apenas em língua alemã, embora seja Tcheco. Coisas do Império Austro-Húngaro
que só acabou mesmo no final de primeira grande guerra. Kafka (1883/1924) foi o
pai do expressionismo alemão que acabou por influenciar todo o mundo, tendência
que se baseou também em Freud (1856/1939), mais velho do que Kafka, mas da
mesma região, ambos judeus e, como tais, ameaçados pelo nazismo.
O brilho do texto que se acompanha pela interpretação
perfeita e surpreendente de Caco Ciocler – um ótimo ator que tem feito pouco
teatro – se deve também pela tradução, adaptação e direção de Roberto Alvim.
São 50 minutos em que se mergulha na intimidade do grande mestre, participando
inclusive de um pequeno surto, onde o personagem visualiza uma pessoa que não
se pronuncia e mesmo assim tem presença marcante, personificada por Ricardo
Grasson. A delicadíssima trilha sonora de Felipe Ribeiro cai como uma luva,
assim como os dois discretíssimos trajes concebidos Marina Previato.
Quem conhece pouco Franz Kafka não deve perder de jeito
nenhum, quem já admira sua obra, muito menos. Vale lembrar que são apenas 50
lugares razão pela qual é preciso não perder tempo, para se dar o prazer de uma
grande arte.
Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP, Livre Docente pela UNICAMP
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