(Para)
Noia
Sinal vermelho, os carros freiam. Me meto entre um e outro na fila do meio do avenida. Chegou a hora.
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Passa a grana e o relógio! Tô com pressa, anda, te rasgo todo, faço um buraco
fundo nessa tua careca ridícula! Merda, o cara acelerou, levou um baita susto,
saiu cantando pneu e passou por cima de uma velhota manca. Ela atravessava fora
da faixa, a vaca, deve ter merecido, aquele pescoço cheio de colares, anéis de
ouro nos dedos. Deu pra ver o brilho. O estrago foi grande, sangue pra todo
lado, começou a juntar gente. Tratei de correr, correr até ficar sem ar. Ufa,
pronto.....O peito arfando, dez quarteirões depois escolho outra esquina, outro
ponto estratégico.
Cara,
preciso me dar bem... paciência é a melhor arma para mirar e dar o tiro certeiro
no próximo otário com o vidro do carro aberto. Vai dançar o idiota! Quero ver o
Zè Mané escapar. Tô ligadão..., esperto pra dar o bote. Me escondo atrás do
ponto de ônibus, me espremendo pra ficar mais magro que sou, o estilete de 15
cm novinho em folha, preso entre a barriga e a calça. Dá pra sentir o gelado da
lâmina de aço roçando os pelos da barriga, abaixo do umbigo. Esse bagulho que
eu cheirei de manhã não bateu. Se liga, ninguém vai me ver, velho. Preto como a
noite, vai ser mole.
Depois
daquela zica, todo respingado de sangue, que nojo! Será que a vaca
morreu...ponto de interrogação). Deve ser horrível sentir o tranco da lataria
do carro bater no corpo...Uma geleia, monte de ketchup esparramado no asfalto. Opa,
carro de vidro claro, mulher ao volante, vítima perfeita.
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Vai logo, Madame, quero a grana e o celular
senão corto seu pescoço da garganta até o peito, vai!
Filha
da puta, abriu a porra da porta na minha cara! A força do impacto me derrubou,
caí de costa. A mulher soltou o cinto, desceu do carro, vestido preto curto, loiraça.
Ainda deu pra ver os olhos verdes faiscantes de raiva, e as pernas gostosas,
roliças, antes da vagaba enterrar o salto fino do sapato no canto da minha
boca. Rasgou tudo, de novo o sangue jorrando,
aquele azedo descendo grosso pela garganta. Piranha, essa eu pegava.
(exercitando o narrador
vil, Oficina de Escrita Criativa, com Nanete Neves)