terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ENSAIO É DAS MELHORES PEÇAS ATUAIS VISTAS POR AQUI



Leonardo Moreira (texto e direção) focaliza casais - um fato presente em toda a história da humanidade - tentando entender a si próprio e um ao outro. Trata a questão com tanta delicadeza que faz lembrar Tom Jobim: “são as águas de março fechando o verão, é promessa de vida no seu coração”.

Em 1950, quando surge o Teatro do Absurdo era natural um tom muito trágico para tratar das incompetências humanas, como o de Samuel Beckett, mesmo que Eugène Ionesco lidasse com a questão com um humor relativo. Afinal, durante quase todo o século XIX, pensávamos que a razão era perfeita e incapaz de cometer enganos e que a ciência iria resolver todas as nossas dúvidas. Já pensou que futuro chato? Um mundo sem surpresas? Melhor que a vida tenha bastantes ensaios e a gente não tenha certeza de como será a estreia.

Como diretor Moreira acerta também na escolha de apresentar o espetáculo num palco giratório e desse modo trocar os cenários (Andre Cortez e cenotécnicos Gerson Rodrigues e Lázaro Ferreira). O espectador se pergunta se é o mesmo casal em tantos contextos ou se são vários. Nesta mesma linha estão os figurinos de João Pimenta, tão discretos que a gente fica em dúvida se vestem cada personagem em cada cena ou se é o mesmo casal em diversos contextos. O mesmo pode ser dito da música de Marcelo Pellegrini que se preocupa com a emoção focada no momento em cena e só. A iluminação de Marisa Bentivegna emoldura com brilho todas as cenas.

São aspectos que ajudam o espetáculo que além deles contam com excelente elenco: Maria Helena Chira que faz a personagem feminina ou todas as mulheres do texto,Rafael Primot que se encarrega de ser seu par e Fabrício Licursi que participa de tudo na maioria das cenas como fotógrafo. Os três se saem maravilhosamente bem e, participaram da criação da peça.

Por essas e outras, corra ao Centro Cultural Thomie Ohtake, rua Coropés 88, travessa da Faria Lima e da Pedroso de Morais. É um espaço com 96 lugares, mas você não pode perder.
                 Maria Lúcia Candeias
                Doutora em teatro pela USP
                Livre Docente pela UNICAMP