quarta-feira, 25 de junho de 2008

É isso aí, mano!

Uma das coisas mais bacanas quando se trabalha com SESC é ter a oportunidade de mergulhar fundo em um universo diferente sempre que o mês muda. Eu já fui especialista em cabelos, falei muito sobre samba, comemorei com fervor o 100 anos da imigração, aprendi várias coisas sobre o ska e hoje sou quase um mano e estou descobrindo o universo do hip-hop.

Em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, a cultura dos guetos (será que isso ainda é real hoje? Fica a dica para uma reflexão...) toma conta de um andar inteiro da Unidade Provisória SESC Avenida Paulista com o projeto Teatro Hip-Hop, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos.

Até 10 de agosto, quem der um pulinho até lá vai poder conferir, além das cinco peças inéditas do grupo, uma ambientação muito bacana que apresenta todos os elementos do hip-hop (tem iconografias de pichação que foram encontradas em São Paulo desde a década de 80) e traz uma linha do tempo que conta toda a história do movimentos e traz capas de discos de artistas como James Brown e Public Enemy. Além disso, toda quarta o SESC se transforma em balada e recebe um DJ para animar a pista montada no 5º andar da unidade. As peças são baratinhas e a exposição é de graça! Sem desculpas para não aproveitar.

(Vanessa Fontes)



terça-feira, 17 de junho de 2008

Diário de Maceió

O povo de Maceió gosta de uma boa conversa. Não perde tempo para contar histórias, ainda mais quando percebe que está falando com alguém de fora. No calçadão da praia ou nas lojinhas de artesanato, saciamos a sede por curiosidades ao ouvir os outros falarem. Por isso, andar a pé pela cidade era o passatempo preferido.

Na ótica - Depois de mostrar alguns pares de óculos, a balconista era quase amiga íntima. Não compramos nada, em compensação batemos um papo comprido e inusitado. Começamos pelo tema violência na terra dos coronéis. Entusiasmada, ela contou cada detalhe do crime bárbaro ocorrido na cidade há uns 20 anos, o do cara que levou uma surra daquelas e foi costurado vivo dentro da barriga de um boi.

Em tempo: à noite, o telejornal local noticiava o assassinato de um suplente de vereador assassinado a pedradas e jogado na Lagoa Mundaú.

Na ótica 2 - Colando os assuntos, sem ponto de edição, animou-se ao lembrar da senhora distinta, elegante, que entrou na loja, as chaves do carro nas mãos, acompanhada da filha à procura de óculos de sol. Para a freguesa experimentar com mais conforto, a balconista ajeitou o espelho de forma que ela pudesse ver se o modelo ficava bem em seu rosto. Espantada, a cliente deu um grito e virou bruscamente o rosto, rejeitando a gentileza.

Refeita do susto, contou que – por trauma de infância, quando tinha a cara salpicada de espinhas – não se olha no espelho há mais de 30 anos. Nunca mesmo, repetia impressionada Lúcia, a balconista loira e simpática, que ficou com a pulga atrás da orelha: como será que ela consegue dirigir sem olhar no espelho retrovisor?

No posto policial - Caminhando à noite de volta para o hotel, o policial do Posto de Informações nos aborda para avisar:
- Tome cuidado com o celular nesse pedaço da praia.
Eu tinha acabado de atender uma ligação e ainda estava com o aparelho na mão.
Depois da recomendação e de ser informada por ele que Maceió não tem efetivo suficiente para combater a violência – nem carros, nem armas, nem nada (um alento e tanto para quem estava chegando de férias!) -, foi a vez de seu celular tocar. Ele olhou o número e não atendeu.
- Estou me divorciando, não atendo número desconhecido. Fui casado anos, meus filhos são grandes, já sou vovô, ela engordou, nem parece a mulher com quem me casei. Agora estou nas audiências da separação e preciso ter cuidado. Os olhos brilhando pela oportunidade de ter ouvintes, o guarda não pararia de falar até que rolou uma desculpa para cairmos fora.

No táxi – Escapando de uma batida (o trânsito na cidade é muito louco, todos correm, cruzam as pistas, encostam no carro da frente, buzinam e costuram sem dar sinal), o motorista conta que a maneira mais fácil de se livrar de um cadáver é jogá-lo na foz do Rio São Francisco. Lá os tubarões comem tudinho, não sobra nada, disse, comentando ser essa prática comum até hoje.

Na lojinha de artesanato - Voltem amanhã, daí vocês podem ver tudo com mais calma. Hoje eu e vocês estamos cansadas. (Ainda faltava meia hora para a loja fechar e a vendedora, com dor de cabeça, foi bem sincera.)

(Fernanda Teixeira e Sandra Polaquini)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Confissões das Mulheres de 30

Confissões das Mulheres de 30, peça que fez muito sucesso na década de 1990, retorna agora em nova montagem. Com direção de Fernanda D'Umbra, traz Juliana Araripe, Melissa Vettore e Camila Raffanti no elenco. As atrizes são conhecidas da TV pelo trabalho na série Mothern, do GNT.
Sexta-feira passada acompanhei a coletiva de imprensa que aconteceu no Teatro Folha. A Juliana Araripe não pode participar porque estava no Rio gravando um episódio da série Dicas de um Sedutor, com o Luis Fernando Guimarães. Mas com essas meninas, animação e muito assunto nunca faltam. A coletiva rendeu muito papo e boas risadas. A peça estréia quarta-feira, dia 11 no Teatro Folha. Imperdível!

(Adriana Balsanelli)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Klébi, letrista inspirada e cantora madura


Daqui, novo CD da cantora e compositora Klébi Nóri, é uma delícia. Bem produzido, com os mesmos músicos que a acompanham desde o começo da carreira - Bosco Fonseca (baixo), José Antonio Almeida (teclados), Ney Marques (violão e guitarra), Dadi Amil (bateria) e Adriano Busko (percussão) -, mostra que a artista continua uma letrista inspirada e uma intérprete cada vez mais madura.

Muito bem selecionadas, as 13 canções - 11 de autoria de Klébi, uma em parceria com José Antonio Almeida (Fiz) e outra de Roberto Correa e Sylvio Son (Te Amo) - têm uma unidade, fazem o disco ser um prazer de ser ouvido, do começo ao fim. Com arranjos delicados, Bens e Te Amo abrem e fecham o CD, respectivamente, com ares de romance escancarado. Piano e voz, a última tem melodia lindíssima.

Levada mais marcada, ritmada, o trabalho segue gostoso com a pop Completo Conteúdo e a delicadeza das baladas A Gente não sabe Nadar, Saiba Você, Susi e Perdão com Poesia. Bom gosto musical carimbado, Klébi está cantando como nunca. Solos de guitarra, Fiz é um roquinho que tem a identidade da compositora, na letra e na música. Com outra pegada, Corcovado sem seu Senhor é onde o pop flerta com o samba, com direito a tamborins. Tem letra bem sacada, divertida, que brinca com símbolos do Rio e São Paulo – mistura Flamengo, Candelária, Copacabana, Farme de Amoeda e Maracanã com Pico do Jaraguá, zona oeste de São Paulo.

Os teclados de José Antônio Almeida dão o tom a Meu. Outra letra de boa safra, Madame X retoma o pop rock, com influência de Rita Lee - não sei se Klébi percebeu, mas o resultado tem esse pique - e é muito bom. De novo só o teclado recheia a canção de amor Noite Divina, também muito bonita. Em outra levada, mais marcada, o disco traz, ainda, A Última Cidade do seu Mapa. Parabéns, Klébi! Eu recomendo Daqui pra todo mundo.

(Fernanda Teixeira)